Blog do Mario Magalhaes

O paradoxo do banguela e a maior diferença entre Temer e Macri
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Mário Magalhães

Presidentes Michel Temer (e) e Mauricio Macri conversam durante visita do brasileiro ao argentino

Michel Temer e Mauricio Macri, em Buenos Aires – Foto Enrique Marcarian/Reuters

 

Michel Temer e Mauricio Macri se encontraram ontem em Buenos Aires.

Um exerce a Presidência do Brasil, outro, da Argentina.

Há quem os elogie e critique, defenda e ataque, ame e odeie.

Os dois têm algumas características comuns e muitas diferenças.

Nenhuma diferença é maior do que esta:

* Macri foi eleito para a função por perto de 13 milhões de eleitores. Os votos o revestem de legitimidade;

* Temer não recebeu um só voto popular, nem o dele, para presidente. Foi eleito vice, e só chegou ao Planalto graças a uma farsa conduzida por deputados e senadores. É presidente ilegítimo.

Depois de passar pela Argentina, Temer desembarcou no Paraguai. Lá, falou sobre o resultado das eleições do domingo.

Temer pontificando sobre eleição parece um banguela ensinando a conservar os dentes.

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Há 50 anos, Congresso escolhia o presidente desprezando o voto popular
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Mário Magalhães

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Primeira página de ''O Globo'', 3.out.1966

 

Cinquenta anos atrás, em 3 de outubro de 1966, o Congresso escolheu o novo presidente da República. O marechal Costa e Silva foi ungido com 295 votos de deputados e senadores.

Em 1964, o golpe de Estado havia sido desfechado também em nome da garantia de realização das eleições diretas previstas para 1965. Primeiro, os golpistas a adiaram. Depois, fulminaram-na, introduzindo a eleição indireta. Exterminaram o sufrágio popular como meio da eleição do presidente.

Houve um tempo, lá se vai meio século, em que as coisas funcionavam assim.

Houve?

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22 pontos ou 5: qual a vantagem de Crivella sobre Freixo no 2º turno?
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Mário Magalhães

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Marcello Crivella e Marcelo Freixo – Fotos reprodução ''Folha de S. Paulo''

 

Em pesquisa divulgada no sábado, o Ibope apontou diferença de 22 pontos de Marcello Crivella sobre Marcelo Freixo num segundo turno da eleição para prefeito do Rio. O candidato do PRB teria 47% dos votos. O do PSOL, 25%.

No mesmo dia, o Datafolha estimou a vantagem no mata-mata derradeiro em meros 5 pontos. Crivella alcançaria 42%. Freixo, 37%.

Algumas pistas para saber que instituto está mais perto da verdade:

* O levantamento do Ibope foi feito de quinta a sábado. Portanto, parte dos entrevistados foi consultada antes do debate da TV Globo. O Datafolha foi às ruas somente na sexta e anteontem _100% da pesquisa ocorreu depois do debate.

* Crivella aparecia sábado no Ibope com 38% de intenção dos votos válidos no primeiro turno. No Datafolha, com 32%. Nas urnas, o resultado foi 27,78%.

* O Ibope conferiu a Freixo 14% no primeiro turno. O Datafolha, 16%. Freixo obteve 18,26% dos sufrágios.

Definições do eleitorado na última hora existem, podem ser massivas e mudar uma eleição.

Mas parece grande demais a diferença entre as projeções de 22 e 5 pontos de distância no segundo turno.

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Para Eduardo Paes, Olimpíada representou a ‘maldição do Pan’ de Cesar Maia
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Mário Magalhães

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O prefeito Eduardo Paes (à esq.), na despedida da Olimpíada – Foto Martin Bernetti/AFD

 

Em dezembro de 2008, às vésperas do fim de mais um mandato do prefeito Cesar Maia, indaguei-lhe o motivo do fiasco eleitoral da candidata apoiada por ele na sucessão do Rio.

Cesar apontou uma das causas determinantes: ''O Pan-Americano foi um sucesso para a cidade. Do ponto de vista da ação do governo, foi o elemento de desintegração da imagem''.

Para bancar os Jogos de 2007, Cesar tivera de, em suas palavras, ''derrubar as despesas'' noutras frentes.

O prefeito lançara Solange Amaral para concorrer pelo DEM. Ela não alcançou nem 4% dos votos válidos. No segundo turno, Eduardo Paes (PMDB) venceu Fernando Gabeira (PV).

O Pan de 2007 foi recebido com entusiasmo pelos cariocas. Nem assim rendeu votos.

A Olimpíada de 2016 entusiasmou muito mais gente.

Deixa como herança benefícios aos cidadãos, apesar dos pesares, e até onde se conhece a caixa-preta das finanças do município.

É evidente, porém, que grassa a percepção de que a cidade tinha outras prioridades.

Podiam ou não ser contraditórias com a agenda olímpica, mas os eleitores parecem pensar que sim.

Candidatos como Marcello Crivella, o mais votado ontem, bateram na tecla de que não se opunham aos Jogos deste ano, mas que existem mazelas sociais e urbanas que deixaram de ser combatidas.

No final das contas, a Olimpíada não proporcionou votos para Pedro Paulo, o candidato do prefeito Eduardo Paes.

A ''maldição do Pan'' ressurgiu em 2016.

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Revés de Paes, Pedro Paulo, Temer e PMDB no Rio não foi culpa do marketing
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Mário Magalhães

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Pedro Paulo e Eduardo Paes, derrotados no Rio – Foto reprodução piauí/Folha

 

O engano de uns e a esperteza de outros atribuem a erros de marketing a derrota de Pedro Paulo (PMDB) na eleição do Rio.

Ocorreu o contrário: a propaganda evitou um desastre maior.

Os críticos imputam ao sumiço de Eduardo Paes em boa parte da campanha a terceira colocação de Pedro Paulo, atrás de Marcello Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL).

Dizem que um administrador alegadamente reconhecido por sua eficiência não poderia ficar distante do candidato que impôs ao seu partido.

Conversa fiada: a maioria dos cariocas sabia que Paes apoiava Pedro Paulo, e por isso mesmo recusou o voto no deputado.

No ano passado, o vigor político de Paes era tamanho que ele, que só assumia a pretensão de em 2018 se candidatar a governador, era cotado a sair para presidente. Mostrava fôlego para tal ambição.

De lá para cá, sua aprovação como prefeito se estabeleceu entre um terço e um quarto dos cidadãos. Há mais gente que o desaprova do que aprova. Fanfarronices aumentaram a rejeição.

A ela se somou a do próprio Pedro Paulo, enfraquecido pela suspeita de ter agredido a ex-mulher, em inquérito que acabou arquivado pelo STF.

E a decorrente do Estado quebrado, em calamidade pública, devido à gestão do PMDB.

O vínculo com o correligionário Michel Temer atrapalhou ainda mais.

Apesar de toda a dinheirama e do vasto tempo na TV, os marqueteiros de Pedro Paulo teriam de obrar milagre. Não obraram.

Paes desapareceu porque sua presença mais afastava do que conquistava eleitores.

Ele reapareceu na reta final com o objetivo de aproximar a votação de Pedro Paulo dos índices de aprovação do prefeito. Não conseguiu, porque muitas rejeições se somaram.

Em 2012, quando se reelegeu em primeiro turno, Paes montou uma coalizão de 20 partidos que se fragmentou em 2016. Concorrentes como Indio da Costa (PSD) e Carlos Osório (PSDB) obtiveram votos que em outro cenário poderiam ter ido para Pedro Paulo. A esquerda fez ''voto útil'' em Freixo (18,16% dos sufrágios válidos). A direita e o centro se mantiveram rachados, prejudicando Pedro Paulo (16,12%).

A derrota no Rio é essencialmente política, e não de marketing.

Culpar o marqueteiro implica esconder as fragilidades políticas do PMDB, de Paes e de Temer. Além da de Pedro Paulo, o candidato inventado que não deu certo.

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A derrota de Temer (e do PT)
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Mário Magalhães

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Michel Temer, com retrato de Dilma Rousseff ao fundo – Foto Kleyton Amorim/UOL

 

O colossal revés do Partido dos Trabalhadores nas urnas não constitui surpresa. Há quase sete meses, no dia 7 de março, o blog publicou o post ''Vem aí, em outubro, a maior derrota eleitoral da história do PT''. De lá para cá, muita água rolou, e a previsão se confirmou. Se o PT tiver a pretensão de recuperar um pouco da pujança de outrora, deveria começar por reconhecer que o inferno não são (somente) os outros.

Enquanto os tambores anunciam o evidente fracasso petista no domingo, cai o silêncio sobre outro derrotado, o peemedebista Michel Temer. No máximo, ouvem-se murmúrios acerca do seu malogro. De tão rejeitado pelos brasileiros, ele não subiu em nenhum palanque. Permaneceu longe das campanhas. Candidatos associados ao presidente, como Pedro Paulo e Marta Suplicy, soçobraram. Os eleitores se pronunciaram, de algum modo, não apenas a respeito da legitimidade de Temer, mas das medidas que ele implementa e se prepara para implementar.

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Crivella preferia 2º turno contra Freixo por temer TV Globo e máquina
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Mário Magalhães

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Marcello Crivella, candidato do PRB – Foto Gustavo Serebrenick/Brazil Photo Press/Folhapress

 

O candidato do PRB a prefeito do Rio terá no segundo turno seu adversário preferido entre os que disputavam com mais chances a passagem à rodada eleitoral decisiva: Marcelo Freixo, do PSOL.

O maior temor de Marcello Crivella era enfrentar o concorrente do PMDB, Pedro Paulo, por dois motivos:

1) a força das máquinas das administrações municipal, estadual e federal, todas comandadas pelo PMDB (mesmo com o governador Luiz Fernando Pezão afastado, o partido mantém o controle do Estado). É falsa a ideia de que ''a máquina não funcionou'' na campanha. Sem ela, Pedro Paulo teria tido um desempenho ainda pior;

2) a convicção de Crivella de que numa contenda com Pedro Paulo, Carlos Osório (PSDB) ou Indio da Costa (PSD) o Grupo Globo faria uma cobertura antipática a ele. O senador é vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus e sobrinho do bispo Edir Macedo, dono da TV Record, concorrente da TV Globo. O ex-ministro supõe que, contra um candidato de esquerda como Freixo, a Globo não fustigará o PRB _esta é a percepção de Crivella, que integra a base política de Michel Temer.

A predileção por Freixo explica por que Crivella tanto lhe fez perguntas, sempre amigáveis, nos debates televisivos.

A história dirá se o senador, do ponto de vista dele, apostou no oponente mais indicado.

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Aliados de Temer o manterão longe dos palanques também no segundo turno
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Mário Magalhães

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Michel Temer, que continuará longe dos palanques – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

Parecem despropositadas as especulações sobre a presença de Michel Temer nos palanques do segundo turno.

No primeiro, ele não apareceu em nenhum.

Não porque não quis _suas alegações constituem balela.

Mas porque os candidatos apoiados por Temer receavam que sua presença tirasse votos.

Mesmo longe, prejudicou muitos deles, quando os adversários mencionaram os vínculos dos correligionários do ex-vice.

Temer também não veio ao Rio, onde seu partidário Pedro Paulo escondeu a associação com o presidente.

Os concorrentes empenharam-se em enfatizar a condição de Pedro Paulo e Michel Temer de integrantes da mesma agremiação, o PMDB.

Em muitas cidades, candidatos da base política do governo enfrentarão oposicionistas no mata-mata eleitoral derradeiro.

Nem assim Temer dará as caras na campanha, incluindo a TV.

Não porque ele não deseja.

E sim porque ninguém o quer por perto.

Como diria Temer, mantê-lo-ão distante.

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Sabáticas: Times dos sonhos
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Mário Magalhães

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José Trajano e seu livro ''Tijucamérica'' – Reprodução América F. C./Divulgação

 

Em Meia-Noite em Paris, os sinos anunciam a virada para um novo dia, e o protagonista viaja até o deleite de confrarias artísticas e convescotes culturais da capital francesa nos anos 1920. A época em que a cidade, assim a eternizou Hemingway, era uma festa.

O convite sugerido por Woody Allen ao espectador é sonhar o cenário e a quadra da história que desejaria visitar ou viver. Outra personagem do filme passeia mais longe, na Belle Époque, e resolve ficar. Eu adoraria testemunhar o parto dos Beatles, no Cavern Club, e excursionar ao Quilombo dos Palmares, no século 17.

Saiu em 2015 um livro que também brinca com o tempo, Tijucamérica: Uma Chanchada Fantasmagórica, do jornalista José Trajano. Em vez de despachar gente ao passado, as páginas rejuvenescem veteranos e ressuscitam quem já foi desta para melhor.

A trama é saborosa: Trajano abandona o posto de comentarista da ESPN e assume a presidência do seu clube de coração, o pequeno, porém valente América. Para reeditar as distantes jornadas de glória, o aprendiz de cartola reúne, com ajuda de amigos íntimos dos espíritos, os 25 maiores jogadores que o time teve em cem anos. Junta craques aposentados, agora mais recauchutados que habitué de spa, e zumbis resgatados do além.

“Esta foi a maneira fácil que encontrei para o meu América voltar a ser campeão”, escreveu o autor na dedicatória para mim.

Se eu tivesse os poderes do Trajano, convocaria o Marlon Brando em idades diferentes para regressar aos sets: do jovem de Sindicato de Ladrões ao cinquentão de Apocalypse Now, passando por O Poderoso Chefão e O Último Tango em Paris.

E daria um jeito na cambaleante seleção brasileira. Como? Escalando o timaço que perdeu a Copa de 82, a ser comandado novamente pelo Telê. Em 2018, com Falcão, Cerezo, Zico e Sócrates, não teria para ninguém. Será que o Trajano toparia pedir uma forcinha aos amigos dele?

(Publicado originalmente na revista Azul Magazine, setembro de 2015)

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Pitacos sobre o debate no Rio e a tacada mais arriscada de Pedro Paulo
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Mário Magalhães

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Os oito candidatos no debate da TV Globo no Rio – Foto reprodução UOL

 

Alguns pitacos sobre o debate entre oito candidatos a prefeito do Rio, na TV Globo, não por ordem de importância:

* Sem entrar no mérito do que dizem: seis deles falam bem na televisão, têm uma lábia muito boa. Por ordem alfabética: Alessandro Molon (Rede), Carlos Roberto Osório (PSDB), Indio da Costa (PSD), Jandira Feghali (PC do B), Marcello Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL).

*  Pedro Paulo (PMDB) costuma ser mediano. É possível que a condição de alvo mais frequente das críticas dos adversários influencie negativamente seu rendimento.

* Flávio Bolsonaro (PSC) se expressa com menos clareza. Há partidários dos seus valores e ideias que vendem o peixe com mais eficiência. Talvez a inexperiência como candidato majoritário tenha pesado. No primeiro debate televisivo, Bolsonaro passou mal e o abandonou. Ganhou confiança durante a campanha.

* Pode ter rendido votos ou não, mas aparentemente Osório e Molon tiveram na noite passada suas melhores performances em todos os debates de 2016.

* Foi no mínimo temerária a iniciativa de Pedro Paulo de provocar Freixo para a discussão em torno de temas associados à Lei Maria da Penha. De um lado, o personagem em questão é um ex-assessor de Freixo; do outro, o próprio postulante do PMDB. Freixo exonerou o funcionário, enquanto Pedro Paulo foi prestigiado por seu partido e lançado candidato. ''Pedro Paulo'' tornou-se no começo da madrugada a expressão mais mencionada no Twitter, em todo o Brasil. Quase sempre em tom pejorativo, como na acusação ''Pedro Paulo bate em mulher'', embora o inquérito sobre agressão do peemedebista à ex-mulher tenha sido arquivado pelo STF. Mais do que arriscado, pareceu suicídio político chamar Freixo para o confronto no terreno que gera vasta rejeição a Pedro Paulo.

* É razoável supor que o debate não tenha tido um grande vencedor. Não se descarta, contudo, que tenha tido um grande derrotado.

* O maior risco para Pedro Paulo talvez não tenham sido as menções diretas ou indiretas ao episódio com a ex-mulher, mas a insistência de os contendores o vincularem aos seus impopulares correligionários Michel Temer, Sérgio Cabral e Eduardo Cunha.

* Nem sempre, ou na maioria das vezes, debates têm consequências notáveis em campanhas eleitorais. Mesmo que assistidos por muita gente e comentados por mais gente ainda. Numa disputa acirrada como a do Rio, talvez o da Globo tenha consequências maiores. A dinâmica campanha-debate-campanha dificulta identificar os efeitos dos debates. Um candidato pode ir muito bem na TV e cair nas pesquisas porque sua campanha já entrara em declínio. Ou ir mal no debate e subir, pois sua curva de votação já era ascendente. Existem candidatos que apanham muito na TV e crescem. E o contrário. Idem com quem ataca com mais virulência. Dialética na veia (alô, produção, é Hegel, não Engels).

*  Com 34% no Ibope, Marcello Crivella já está no segundo turno.

* Em tese, seis candidatos que o seguem podem alcançar o mata-mata derradeiro: Freixo e Pedro Paulo (10%), Indio (8%), Bolsonaro e Jandira (7%) e Osório (4%). Deles, a maior zebra seria Bolsonaro.

* Pós-debate: a campanha de Pedro Paulo teme não somente Freixo no domingo, mas também Indio.

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