Blog do Mario Magalhaes

464 escolas públicas com o nome do ditador Castello Branco: seria como colégio Hitler na Alemanha ou educandário Pinochet no Chile
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Mário Magalhães

Para cada escola com o nome de Jango, a vítima, há mais de 13 com o do algoz, Castello

 

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Imaginem centenas de colégios na Alemanha com o nome de Adolf Hitler.

E na Itália, com o de Benito Mussolini.

Ou no Chile, batizados como Augusto Pinochet.

Impensável _se houver algum em terras chilenas, será resíduo autoritário prestes a acabar.

Só contando escolas públicas municipais, estaduais e federais, o Brasil mantém 976 instituições com o nome dos cinco marechais e generais que presidiram o país durante a ditadura 1964-85.

O campeão é o ditador Castello Branco, que sucedeu o presidente constitucional João Goulart. Jango foi eleito vice-presidente com o voto popular em 1960. Em 61, com a renúncia de Jânio Quadros, assumiu a Presidência, em um regime parlamentarista imposto por golpistas. Em 63, a imensa maioria dos eleitores sufragou o presidencialismo em plebiscito, e Goulart ocupou o Planalto com plenos poderes legais. Até ser derrubado em 1º de abril de 64 por um golpe de Estado, antidemocrático, que ungiu o marechal Castello como presidente.

No governo dele e de seus quatro sucessores, mais de 400 brasileiros foram assassinados por agentes públicos com motivações políticas. Boa parte pereceu na tortura. Perto de 140 ainda estão desaparecidos.

Há 34 escolas com o nome de João Goulart, a vítima, e 464 com o de Castello, o algoz.

O levantamento sobre os colégios com nome dos tiranos foi feito pelos repórteres Gustavo Uribe e Leonardo Vieira. A matéria saiu em “O Globo” e pode ser lida clicando aqui.

Alguém há de tirar consequências do disparate e fazer besteira: se responsáveis por crimes contra os direitos humanos não apenas não foram punidos, mas reverenciados, por que respeitar hoje a lei que impede violência contra cidadãos sob custódia do Estado?

A propósito, cadê o Amarildo?


‘Carta aos médicos cubanos’
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Mário Magalhães

O médico deve ter achado que desembarcou na Idade Média; no máximo, na Guerra Fria

 

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O médico David Oliveira de Souza publicou na ''Folha'' um artigo sobre a vinda de médicos cubanos para trabalhar no Brasil. David é professor do Instituto de Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês. Assim começa sua “carta”:

“Bem-vindos, médicos cubanos. Vocês serão muito importantes para o Brasil. A falta de médicos em áreas remotas e periféricas tem deixado nossa população em situação difícil. Não se preocupem com a hostilidade de parte de nossos colegas. Ela será amplamente compensada pela acolhida calorosa nas comunidades das quais vocês vieram cuidar.

A sua chegada responde a um imperativo humanitário que não pode esperar. Em Sergipe, por exemplo, o menor Estado do Brasil, é fácil se deslocar da capital para o interior. Ainda assim, há centenas de postos de trabalho ociosos, mesmo em unidades de saúde equipadas e em boas condições.

Caros colegas de Cuba, é correto que nós médicos brasileiros lutemos por carreira de Estado, melhor estrutura de trabalho e mais financiamento para a saúde. É compreensível que muitos optemos por viver em grandes centros urbanos, e não em áreas rurais sem os mesmos atrativos. É aceitável que parte de nós não deseje transitar nas periferias inseguras e sem saneamento. O que não é justo é tentar impedir que vocês e outros colegas brasileiros que podem e desejam cuidar dessas pessoas façam isso. Essa postura nos diminui como corporação, causa vergonha e enfraquece nossas bandeiras junto à sociedade.

Talvez vocês já saibam que a principal causa de morte no Brasil são as doenças do aparelho circulatório. Temos um alto índice de internações hospitalares sensíveis à atenção primária, ou seja, que poderiam ter sido evitadas por um atendimento simples caso houvesse médico no posto de saúde”.

Para ler na íntegra, clique aqui.

O artigo com opinião contrária está aqui. O autor é Carlos Vital Tavares Corrêa Lima, primeiro vice-presidente do Conselho Federal de Medicina.


Guardanapo na cabeça, com rara elegância
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Mário Magalhães

 

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A crônica político-policial dos últimos tempos associou guardanapos na cabeça à vulgaridade dos novos-ricos e ao despudor nos vínculos público-privados.

Não me ocorrera que a elegância pode prevalecer com uma ''serviette'' na cabeça, para usar a expressão empregada na Paris onde Cabral e seus chapas se esbaldaram. Até que na sexta-feira dei com a foto acima, no restaurante La Bella Italia, na adorável cidade de Fortaleza.

Ingrid Bergman transforma o pano branco numa peça de alta costura, em adorno elegante. Quando eu era moleque, gastava horas batendo boca com os amigos do peito: uns elegiam a sueca a maior deusa do cinema em todos os tempos; eu ficava e ainda fico com Grace Kelly, ainda que também seja devoto da mãe da Isabella Rossellini.

Acho que o sortudo ao lado dela é o Fellini, mas não tenho certeza.


Dilma nomeia Dallari, barra volta de Fonteles e indica pressão por retorno de Dipp à Comissão Nacional da Verdade
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Mário Magalhães

Rubens Paiva. Quem o matou e sumiu com seu corpo em 1971?

 

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Dois atos do Poder Executivo assinados pela presidente Dilma Rousseff e veiculados hoje pelo “Diário Oficial da União” têm grande importância para a Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Desde ontem se sabia da nomeação do advogado Pedro Dallari, indicação confirmada no “Diário Oficial”. A novidade é que o jurista entra no lugar de Cláudio Fonteles, ex-procurador-geral da República, dispensado hoje, “a pedido”, como publicado.

Portanto, Dallari não ocupará a vaga do ministro Gilson Dipp. Afastado da comissão por motivos de saúde, Dipp retomou suas funções no Superior Tribunal de Justiça, mas não na CNV, da qual nunca foi liberado, mesmo durante o período de internação hospitalar. Em Brasília, acumulam-se rumores de que Dilma tem insistido por seu regresso. O ministro resiste, contrariado com desavenças entre componentes do colegiado.

Fonteles havia se afastado em virtude de divergências com outros membros da comissão, instituída para investigar violações dos direitos humanos de 1946 a 88. Embora ele não reconheça em público, é sabido que aceitaria voltar, se a presidente demitisse um ou dois comissionados. Desde hoje há certeza de que isso não ocorrerá.

O procurador defende a punição dos autores de crimes como tortura, morte e ocultação de cadáveres durante a ditadura 1964-85. É a mesma opinião de Dallari, que entra em seu lugar.

A informação terminou, agora é opinião: a Comissão Nacional da Verdade tem enorme relevância para o Brasil, é uma conquista democrática. Tomara que, a partir de agora, concentre-se em seus imensos desafios. Uma boa atitude seria publicar relatórios sobre crimes da ditadura somente depois de apurá-los, e não antes. Caso contrário, acabará por afiançar versões falsas, produzidas por agentes do Estado, sobre episódios daqueles tempos sombrios.


Se o Obama fosse espionado, ele não viria ao Brasil (ou como o servilismo pode ser ridículo)
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Mário Magalhães

Em 1946, Mangabeira bajula Eisenhower – Foto Ibrahim Sued

 

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Na primeira revelação sobre a espionagem high-tech dos Estados Unidos sobre o Brasil e os brasileiros, o Itamaraty pediu explicações.

Quando se soube que a arapongagem eletrônica era mais grave, o então chanceler pediu mais explicações. E correu a esclarecer que o país não ofereceria asilo a Edward Snowden, o norte-americano que nos prestou um serviço denunciando o abuso. O Departamento de Estado sorriu.

Agora, com as revelações do “Fantástico” sobre o monitoramento das comunicações da Dilma, o novo chanceler pediu mais explicações.

Como já anotado aqui, “explicações” sempre há, até para batom na cueca, como preconiza a Lei Oldemário Touguinhó (para entender a homenagem, leia aqui).

A explicação tem sido a de que as antenas da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla inglesa) prestam-se ao combate ao terrorismo. Será que temem a Dilma? Ela foi guerrilheira, vai que a Guerra Fria não acabou… O que não falta no mundo é maluco e cara de pau.

As ações da NSA configuram uma agressão ao Brasil.

Novamente, quase cansando, proponho a inversão dos personagens: e se o espionado fosse o Obama? Alguém acha que ele viria a Brasília, como a Dilma talvez ainda vá aos EUA daqui a poucas semanas?

O princípio da reciprocidade vigora na diplomacia, mesmo entre países com influência assimétrica, como é o caso. O Brasil foi agredido, mas não lhe cabe retaliar espionando os EUA. Se a Dilma for à Casa Branca, aceitará a agressão, por mais verborragia radical que possa empregar.

Se a presidente da República não reagir à altura, o que exige cancelar a viagem, mais uma vez o Brasil fará o papel de nação subserviente. O que é ainda mais anacrônico depois do fim da Guerra Fria (sim, ela acabou) e da identidade mais altiva que o país tem buscado.

A foto acima foi feita pelo jovem repórter Ibrahim Sued em 1946, no Palácio Tiradentes. O então constituinte Otávio Mangabeira beijou a mão direita do general norte-americano Dwight Eisenhower. É um retrato histórico de como o servilismo, além de deletério, pode ser ridículo.


Bienal debate amor e ódio na arquibancada
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Mário Magalhães

 

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''Amor & ódio na arquibancada''. É esse o tema que José Miguel Wisnik e Bernardo Buarque de Hollanda debatem no domingo, 1º de setembro, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. O bate-papo começa às 16h30. Integra a programação do Placar Literário, espaço voltado aos assuntos do futebol. O curador é o grande tricolor João Máximo.

Para quem quiser conhecer o programa completo do Placar Literário, basta clicar aqui.

Em tempo: farei, com muito menos talento, o papel de Xavi Hernandez, distribuindo a bola para os dois craques ensaístas e intermediando a conversa com a plateia.


Entulho autoritário
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Mário Magalhães

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Os apagões lembram que o ministro de Minas e Energia é Edison Lobão. O apadrinhado de José Sarney não era apenas um serviçal da ditadura. Mantinha vínculos com a turma mais barra pesada da repressão, aquela que operava em sombras ainda mais escuras do que as provocadas pela falta de luz.

Edison Lobão: da ditadura à democracia, numa boa – Foto Fernando Frazão/Agência Brasil