Blog do Mario Magalhaes

Ato no RS cobra transformação de centro de tortura da ditadura em memorial
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Mário Magalhães

blog - suzana e ico lisboa

Suzana Keniger Lisboa, Milke Waldemar Keniger (a mãe da noiva) e Luiz Eurico Lisboa antes de partirem para o cartório onde os jovens se casariam, no fim dos anos 1960 – Foto arquivo de família

 

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No número 600 da rua Santo Antônio, em Porto Alegre, ergue-se um casarão de no mínimo três pisos, hoje com as paredes externas em cor predominante amarela e a pichação, com tinta preta, ''Cadê o Amarildo?'' no muro.

Na década de 1960, o vermelho corria abundante nas dependências da edificação onde funcionava um centro de tortura da polícia política gaúcha. A casa passaria a ser conhecida como Dopinha, em referência ao Dops, nave-mãe da repressão policial contra opositores, cuja sede ficava em outro lugar.

O vermelho era o sangue dos militantes martirizados no Dopinha. Um deles foi Manoel Raimundo Soares, antigo sargento do Exército cujo cadáver viria a ser encontrado com as mãos amarradas, no rio Jacuí, em 1966.

Em 1972, na cidade de São Paulo, foi a vez de agentes públicos da ditadura assassinarem Luiz Eurico Tejera Lisboa, o Ico, guerrilheiro que havia se celebrizado como dirigente do movimento secundarista porto-alegrense. Mataram e desapareceram com seu corpo. Sete anos mais tarde, seus restos foram descobertos, sobretudo pelo empenho comovente de sua viúva, Suzana Keniger Lisboa.

Hoje, a partir das 14h30, as histórias de Manoel Raimundo e Luiz Eurico vão se cruzar num ato público no prédio das velhas câmaras de tortura. Com shows de Nei Lisboa, irmão de Luiz Eurico, Raul Ellwanger, veterano da luta contra a ditadura, e muitos outros artistas do primeiro time da música do Sul, a manifestação reivindicará que o ex-Dopinha se transforme no centro de memória Ico Lisboa.

O propósito é, como ocorre no planeta inteiro na transição de regimes autoritários para democracias, que o local da barbárie passe a ser espaço de documentação e testemunho sobre o tempo que não deixou saudade. Um memorial pró-civilização.

O casarão é propriedade privada. O Comitê Carlos de Ré da Verdade, Memória e Justiça, entidade promotora do ato, propõe que a Prefeitura de Porto Alegre e o governo do Estado adquiram o imóvel e que a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República o administre.

Os organizadores esperam à tarde a presença do prefeito José Fortunati, do governador Tarso Genro e da ministra Maria do Rosário.

Até agora, houve promessas de construir o memorial, mas nada de concreto ocorreu.


‘Parece um tutorial’, diz garota sobre sexo em ‘Azul é a cor mais quente’
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Mário Magalhães

As namoradas Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux) em ''Azul é a cor mais quente'', de Abdellatif Kechiche – Foto divulgação

 

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Delicadeza e filme de pegada forte não costumam combinar, ao contrário do belo ''Azul é a cor mais quente'', vencedor da Palma de Ouro em 2013.

O campeão de Cannes conta o romance de duas mulheres, uma saindo do ensino médio, outra estudante universitária. Seu maior desafio, as flamejantes cenas de sexo, não só é tirado de letra como compõe a seleção de melhores sequências (outra é a da briga entre as namoradas e amantes).

Além de lindas, Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux se entregam com talento e disposição à encenação do amor. Em algumas salas paulistanas e cariocas, senhoras de Santana e viúvas do Lacerda se retiram, ultrajadas com o que tomam por libertinagem.

O comentário mais engraçado que eu ouvi ou li até agora foi de uma adolescente, acompanhada de três amigas. Desdenhando de qualquer impacto dramático ou sensual do sexo vivido na tela em mil & uma posições, a  jovem deu de ombros, na saída do cinema: ''Parece um tutorial'' (de como transar).

Não concordo, mas a sacada é espirituosa.


Palavras malditas (3): eu, particularmente
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Mário Magalhães

Na “Tribuna da Imprensa”, em 1986, eu escrevia em máquinas – Foto multtclique.com.br

 

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''Eu, particularmente'', comete o escriba, antes de pontificar sobre tudo e todos.

Só pode ser. ''Eu, coletivamente, acho isso e aquilo'' é que não há de ser.

''Eu, fantasmagoricamente'', só cairia bem nas bocas do Pluft e do Gasparzinho.

Mais do que quem escreve, oradores cultuam o ''eu, particularmente''. Talvez suponham que se tornam sábios, sem saber que o advérbio os condena.

''Eu, particularmente, penso que…'' constitui redundância e atentado ao bom gosto.

''Eu penso que…'' pode anteceder qualquer asneira, mas evita uma barbaridade a mais.


Ingresso gratuito: Mostra Cinema e Direitos Humanos abre nesta 3ª no Rio
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Mário Magalhães

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Desta terça-feira ao domingo, o Rio recebe a 8ª Mostra Cinema e Direitos Humanos _em outros Estados, a programação rola de 26 de novembro a 22 de dezembro.

São 38 filmes, com duração variada. Aqui no Rio, as exibições ocorrerão na Caixa Cultural. O ingresso é gratuito. Para conhecer o programa em todas as capitais e obter mais informações, basta clicar aqui, no site da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, promotora do evento.


Golpe e covardia: será que a Lusa cairia se fosse Fla, Flu ou Corinthians?
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Mário Magalhães

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Carequinha: quando a palhaçada era engraçada – Foto reprodução UOL

 

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A Justiça, inclusive a desportiva, seria cega, surda e muda. Alguém acredita mesmo em tal lorota?

Que alma crédula ousaria prognosticar que, se no lugar da Portuguesa, estivessem as grandes potências do futebol nacional, em matéria de torcida e dinheiro, o clube estaria ameaçado de ser rebaixado pelo tapetão?

É possível supor que, se um gigante como Flamengo e Corinthians, as maiores audiências da TV, pudesse perder no tribunal o status de elite futebolística conquistado em campo, os meios de comunicação lavariam as mãos como tantos lavam agora?

O que se prepara contra a Portuguesa é a maior covardia do esporte brasileiro em muito tempo. Se fosse Galo ou Colorado, ninguém nem sequer insinuaria a queda para a Segundona.

Outro aspecto, igualmente relevante, é o do mérito. Está claro que a comissão técnica do clube do Flávio Gomes _e talvez a diretoria_ ignorava a suspensão do famoso quem Héverton, que entrou no final de um jogo que nada decidiu.

Aplicar a lei ao pé da letra implica, como sabe qualquer calouro de Direito, interpretá-la.

Isso significa que, se dois irmãos estão limpando um revólver, e um deles mata o outro com um disparo acidental, o sobrevivente não deve ser condenado por homicídio. Porque não foi por querer, isto é, inexistiu dolo. O texto frio do Código Penal pune homicídio. Mas como não houve deliberação em matar, não se pode castigar o irmão que atirou.

É o que ocorre com a Lusa, evidentemente.

Além do mais, em episódios nos quais a irregularidade não foi cometida de propósito, não se pode conspurcar os feitos com a bola rolando, como ensinou o procurador do STJD em 2010, protegendo com razão o que o Fluminense obtivera jogando.

Embora eu seja Flamengo, assisti no estádio a muitas partidas do Fluminense na terceira divisão. Acompanhava amigos tricolores e torcia por seu clube. Mas não por causa dos amigos, para ser sincero, e sim pelo Parreira, que abrira mão de muito mais dinheiro oferecido por outras agremiações, pelo prazer de ajudar seu clube de coração.

O Fluminense papou o título e pulou direto para a Primeirona, a bordo do tapetão.

Seria uma vergonha ser beneficiado agora por um golpe contra a Portuguesa.

Sim, o que se trama contra a Portuguesa é um golpe, talvez para celebrarem os 50 anos de outro golpe, em 1º de abril do ano que vem.


O Natal taí. Cadê…
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Mário Magalhães

blog - marighella arvore de natal by leo pinto

Árvore de Natal montada com exemplares da biografia ''Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo'', editada pela Companhia das Letras e de autoria deste blogueiro – Foto Leonardo Pinto


Hoje faz cinco meses que o Amarildo sumiu; Estado deve corpo à família
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Mário Magalhães

blog - amarildo 5 meses

 

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Cinco meses atrás, na noite de 14 de julho de 2013, policiais militares da dita Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha detiveram e sumiram para sempre com o pedreiro Amarildo.

É quase certo que tudo teria ficado por isso mesmo se no mês anterior manifestações não tivessem inundado de gente as avenidas do Brasil, sobretudo aqui no Rio, onde centenas de milhares de cidadãos protestaram contra tudo e contra todos.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, comprometeu-se a desvendar o caso, e tudo indica que cumpriu a promessa: uma turma de PMs está presa, inclusive um capitão e um tenente. Ainda não houve julgamento.

Entre outras dívidas com a família do Amarildo, os moradores da Rocinha e aqueles que vivem sob o programa das UPPs, o Estado do Rio de Janeiro tem uma inegociável: encontrar o corpo do Amarildo e entregá-lo aos seus parentes, para que eles possam se despedir do trabalhador com um enterro digno.

Enquanto o Estado não devolver à família o cadáver do homem torturado e assassinado, é impossível considerar que, depois do crime perpetrado por agentes públicos, o poder cumpriu seu dever.

Cinco meses mais tarde, ecoa a cobrança: ''Ei, Cabral, cadê o Amarildo?''


No dia dos 45 anos do AI-5, ditador Costa e Silva perde nome em escola
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Mário Magalhães

blog - costa e silva

Costa e Silva, o ditador: ignorância e truculência

 

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Há 45 anos cravados, em outra sexta-feira 13, a de dezembro de 1968, 25 membros do Conselho de Segurança Nacional se sentaram em torno de uma mesa cuja cabeceira era ocupada pelo marechal Arthur da Costa e Silva, presidente da República sem ter amealhado um mísero voto popular.

Ali, no Palácio Laranjeiras, o ditador propôs o Ato Institucional número 5, asfixiando ainda mais as liberdades castigadas desde o golpe de Estado de 1964. Só o seu vice, o civil Pedro Aleixo, divergiu. Faceiro, o ministro do Trabalho, coronel Jarbas Passarinho, proclamou:

“Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência.”

Nesta manhã de sexta-feira, 13 de dezembro de 2013, graças a escrúpulos de consciência democrática e cidadã, o Colégio Estadual Costa e Silva, em Nova Iguaçu (RJ), abandona o nome do militar que contribuiu para endurecer ainda mais a ditadura.

A escola de ensino fundamental na Baixada Fluminense passa a se denominar Colégio Estadual Abdias do Nascimento, em reverência ao artista, militante político e ativista do movimento negro.

Costa e Silva (1899-1969), além de eminência da linha-dura do Exército, celebrizou-se pela ignorância cavalar _inimigos e mesmo amigos colecionavam anedotas sobre sua parca intimidade com as letras.

Abdias do Nascimento (1914-2011) representa o antípoda do ditador. Amargou uma década no exílio, inclusive quando Costa e Silva exercia a Presidência. Criador do Teatro Experimental do Negro na década de 1940, foi também poeta, escultor e professor universitário. Com o fim da ditadura, elegeu-se deputado federal e cumpriu mandato de senador.

Aos poucos, os símbolos da ditadura vão dando lugar a homenagens aos cidadãos que lutaram contra o regime que se estendeu por 21 anos.

A iniciativa para a troca do nome do colégio, decisão da qual os alunos do estabelecimento participaram, foi da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro.


Colégio Presidente Médici decide trocar nome para Colégio Carlos Marighella
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Mário Magalhães

Emilio Garrastazu Medici

Médici, um presidente da ditadura: perdeu

 

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Numa eleição histórica encerrada anteontem, a comunidade do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici, de Salvador, decidiu que a instituição deve ser rebatizada como Colégio Estadual Carlos Marighella.

Os eleitores, na maioria alunos, deram 406 votos (69%) a Marighella e 128 ao geógrafo Milton Santos. Os nulos foram 25, e os brancos, 27. O resultado será encaminhado à Secretaria da Educação da Bahia, para que o Estado promova uma “reinauguração”, palavra empregada pela diretora do estabelecimento, Aldair Almeida Dantas, em conversa com o blog.

O colégio foi inaugurado em 1972, quando o general gaúcho Médici (1905-85) ocupava a Presidência da República, sem ter recebido um só voto popular. Seu governo (1969-74) marcou o período de maior repressão e falta de liberdades na ditadura imposta em 64.

Do golpe que derrubou o presidente constitucional João Goulart até 1985, nos 21 anos em que ditadores ocuparam o Palácio do Planalto, ao menos 400 oposicionistas foram mortos por agentes públicos. Boa parte havia sido presa com vida, estava sob custódia do Estado e foi torturada até a morte.  Mais de 130 cidadãos tiveram os corpos desaparecidos para sempre, sem que as famílias pudessem lhes oferecer um enterro digno. Nem mesmo a legislação da ditadura autorizava tortura e execução de seres humanos.

O guerrilheiro baiano Carlos Marighella (1911-69) foi declarado pela ditadura, em novembro de 1968, “inimigo público número 1”. Militante comunista na maior parte da vida, ele se incorporou em 67 à luta armada contra o regime. Fundou a maior organização guerrilheira de combate à ditadura, a Ação Libertadora Nacional, ALN.

Foi assassinado em 1969, no governo Médici, por ao menos 29 membros da polícia política armados até os dentes. Desarmado, Marighella não portava nem um canivete. Em decisões de 1996 e 2011, a União reconheceu que o “inimigo” poderia ter sido preso vivo, assumiu a responsabilidade por seu homicídio e pediu perdão à sua família.

O outro candidato da eleição, o geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001), foi um dos pensadores brasileiros mais brilhantes do século XX. Perseguido pela ditadura, foi obrigado a passar mais de uma década no exílio, inclusive durante a administração do general Médici.

Milton Santos e Carlos Marighella eram afrodescendentes. Médici era branco.

O pleito foi coordenado pelo colegiado da escola, composto por professores, funcionários, estudantes e pais de alunos _segmentos que tiveram direito a voto. Ninguém propôs manter na cédula o nome atual _insatisfeitos com as opções votaram branco e nulo. O colégio Médici é de ensino médio e profissionalizante.

Continuam a existir no Brasil centenas ou milhares de sítios públicos batizados em homenagem a próceres e símbolos da ditadura. Seria como eternizar na Alemanha reverências do tempo do nazismo ou, na Argentina, da ditadura 1976-83. Mas não existe escola berlinense Adolf Hitler ou praça portenha Jorge Rafael Videla, o ditador que principiou o ciclo genocida. Tiranos e açougueiros do passado não devem servir de exemplo aos jovens.

É esse o caminho apontado no colégio Médici, futuro colégio Marighella.

Como assinalou a diretora Aldair, na origem da escolha pela mudança de nome esteve uma exposição dos alunos, derivada de “um trabalho espetacular da professora Maria Carmen”. Chamaram-na “A vida em preto e branco: Carlos Marighella e a ditadura militar”.

Um vídeo com a socióloga e professora Carmen apresentando a exposição pode ser assistido clicando aqui.

Testemunho pessoal

Sou autor da biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras). Um exemplar aparece no vídeo, entre os objetos expostos no _ainda_ colégio Médici. A professora Carmem disse, comovendo-me: “Seu livro foi uma base e uma inspiração para esse trabalho”.

Como sabe quem leu a biografia, não produzi nem uma hagiografia, promovendo os feitos do protagonista, nem um libelo contra ele. Escrevi uma reportagem, contando o que Marighella fez, disse e, na medida do possível, pensou. Não o julgo ou trato como herói ou bandido _empenho-me em fornecer informações para cada leitor formar seu próprio juízo.

Mas, como dizia João Saldanha, grande amigo de Marighella, eu não sou filho de chocadeira _tenho opinião. A ditadura foi um mal, e seus crimes devem ser narrados, bem como os criminosos, punidos. A história não deve apagar personagens, como a ditadura e suas viúvas tentaram fazer com Marighella, ou como os artistas de Stálin faziam eliminando das fotografias as pessoas caídas em desgraça.

A professora Carmem e seus alunos orgulham o Brasil. Assim como é legítimo haver escolas com o nome de Carlos Lacerda (1914-77), líder de direita de gigantesco talento, é legítimo reverenciar um dirigente de esquerda como Carlos Marighella.

Ilegítimo é bajular em prédio público a memória de ditador, perenizando o elogio das trevas.

Tomara que o governo Jacques Wagner não barre a decisão democrática e soberana da comunidade que decidiu pela civilização, contra a barbárie.


Ao inaugurar Via Binário, Paes ocultou que drenagem só fica pronta em 2016
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Mário Magalhães

Via Binário, sob o sol do Rio; o problema é que chove – Foto Beth Santos/Divulgação

 

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No fim da tarde do primeiro sábado de novembro de 2013, dia 2, Eduardo Paes divertiu-se fotografando o pôr do sol, pouco antes de inaugurar a Via Binário, na região portuária do Rio. O prefeito advertiu que haveria “transtornos” no trânsito da área na semana seguinte e problemas no ano e meio, dois anos vindouros (leia aqui).

Nada informou sobre o sistema de drenagem na via funcionando plenamente só em 2016. Isso numa cidade que geração após geração padece das consequências das chuvas e da recusa das autoridades em defender os cidadãos dos estragos provocados pelas intempéries.

Nesta quarta-feira, 11 de dezembro, pouco mais de um mês depois da distribuição de sorrisos de Paes na cerimônia de inauguração, a Via Binário inundou, impedindo durante horas a passagem de automóveis.

Só então Eduardo Paes alertou para a ausência de drenagem efetiva (aqui). Como de costume, apenas depois de ocorrido o desastre e desmascarada a falha de gestão, ameaçou multar a concessionária que toca a obra (aqui).

As mortes ocorridas na Baixada Fluminense são, evidentemente, muito mais graves que a debacle da nova rota à primeira chuvarada. E talvez o fiasco físico seja menor que o moral: por que o prefeito não avisou aos cariocas que a drenagem capenga (ou sua inexistência) era incapaz de conter os danos de temporais? Não sabia? Seria caso de inépcia? Sabia? Eis a questão moral.

A Via Binário foi aberta para compensar o impacto no trânsito causado pela demolição do elevado da Perimetral. Só na fase inicial da derrubada do monstrengo, seria consumido mais de R$ 1 bilhão. Pôr abaixo a Perimetral parece uma boa. A dúvida é se outras prioridades não pedem socorro, numa cidade com tantos pobres.

Em tempo: lá em cima, a Perimetral não alagava feito a Via Binário.