Blog do Mario Magalhaes

Grande história, grande livro: ‘Operação Banqueiro’ já nasce clássico
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Mário Magalhães

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Se fosse um livro ficcional, ‘Operação Banqueiro’ teria mais chances de oferecer um final menos deprimente. Reportagem lastreada em fatos, portanto peça jornalística, da família editorial da não ficção, a obra do jornalista Rubens Valente apresenta um roteiro tão miserável quanto banal no Brasil: escrutina pecados, falcatruas e crimes pelos quais no fim ninguém paga.

Mas não é qualquer roteiro o do livro recém-lançado pela Geração Editorial. O premiado repórter da “Folha de S. Paulo” produziu uma das mais assombrosas radiografias do amálgama entre interesses privados e públicos na história republicana, ou pouco republicana, do país.

Sem eufemismos: exumou passagens horripilantes sobre como o capital se apropriou de patrimônio dos cidadãos, sobretudo nas grandes privatizações de companhias estatais, na derradeira década do século XX. Foram os negócios que o jornalista Elio Gaspari batizou como “privataria”.

“Operação Banqueiro” se debruça sobre a Operação Satiagraha, que em 2008 levou à prisão, por algumas horas, controladores e executivos do grupo financeiro Opportunity. Entre eles, o banqueiro Daniel Dantas, protagonista do livro. Coadjuvantes de luxo com estatura de co-protagonistas, o delegado Protógenes Queiroz conduziu a investigação policial, e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, mandou soltar o empresário.

Eletrizante como a narrativa da captura dos próceres do Opportunity é a reconstituição da rumorosa privatização do setor de telecomunicações, na qual o banco abocanhou um naco, e da gestação tormentosa da Satiagraha na Polícia Federal.

Mais contundentes ainda são as mensagens eletrônicas, boa parte inédita, trocadas no segundo governo Fernando Henrique Cardoso entre o lobista Roberto Amaral, o então presidente da República e seu candidato à sucessão, José Serra. O lobista tratava FHC por você e, em tom assemelhado ao de chefe para subordinado, enumerava sugestões caras ao Opportunity. Para o ex-ministro da Saúde, digitava palavrões e o desafiava: “Você precisa de mim, e eu não preciso de você”. E se referia a Daniel Dantas como “credor, grande credor”. Alguns missivistas empregavam nomes de guerra nos e-mails, mas deixaram rastros que os identificaram.

De todos os personagens, nenhum se credencia com tanto fascínio para estrelar uma biografia jornalística, ou filme de Francis Ford Coppola, como Roberto Amaral, cujas ações e estilo haviam merecido atenção de “Notícias do Planalto”, livro de Mário Sérgio Conti. Nos tempos de Collor presidente, PC Farias e Orestes Quércia, Amaral perfilava entre os mandachuvas da empreiteira Andrade Gutierrez.

Jornalismo e clareza

Há terrenos em que os jornalistas brasileiros só costumam trafegar munidos de coragem: apuração em campo, expondo-se a retaliação física, sobre quadrilhas do narcotráfico; cobertura independente sobre o Judiciário e magistrados; Daniel Dantas e o seu Opportunity.

A leitura do livro-reportagem de Rubens Valente esclarece o terceiro temor: as intimidações são virulentas, tentando muitas vezes, mais do que contestar informações, desqualificar o informante. Mesmo que o alvo não sejam jornalistas, mas, por exemplo, juízes de direito. Numa mensagem, uma antiga executiva do Opportunity chancela a proposta de _literalmente_ “assassinato de reputação” de certa pessoa.

Mas coragem não basta. Uma das regras aprendidas na primeira infância do repórter ensina ser melhor mostrar sua ignorância ao entrevistado do que ao editor. Mais apropriado seria, nessa lição elementar, mudar “editor” para “internauta – leitor – espectador – ouvinte”, o cidadão e consumidor a quem a informação se destina.

Trocando em miúdos, quem não compreende o assunto fracassa ao tentar explicá-lo. Dominar o objeto do interesse jornalístico é imprescindível. Ocorre que também não é suficiente. Nem todos os que entendem de privatizações, Opportunity e Daniel Dantas, quando dispostos a contar o que sabem, logram ser claros.

Este é outro imenso mérito de “Operação Banqueiro”: a clareza para autopsiar esquemas bilionários e promíscuos entre Estado, empresas privadas e governantes que servem mais a elas do que à cidadania. Para quem se habituou a penar para decifrar reportagens e análises ilegíveis como hieroglifos, o novo livro é redentor.

O autor contornou três armadilhas: ignorou a controvérsia ideológica sobre privatizações, evitando que o relato substantivo sobre negociatas viesse a ser contaminado por adjetivos oriundos de idiossincrasias políticas; aferrou-se à sobriedade, elegendo fatos, e não a opinião, como matéria-prima essencial; e driblou fuxicos e fontes não nomeadas _no fundamental, exumou os processos judiciais e inquéritos policiais, no Brasil e no exterior, relativos a Daniel Dantas, seus aliados e oponentes.

Rubens Valente colecionou 62 mil arquivos digitais, sem permitir que a apuração monumental, de mais de quatro anos, resultasse em maçaroca enfadonha para o leitor. Pelo contrário, em muitas sequências a narrativa é típica de thriller literário, à espera de ser adaptado às telas de cinema e televisão.

Outra virtude é a síntese apurada, que ecoa um mestre nessa técnica, o historiador Jacob Gorender. De tão criterioso, o repórter reiteradamente corrige, favorecendo ou não Daniel Dantas, transcrições de grampos feitas pelas autoridades. Cético e perfeccionista, não se fia no que os policiais escrevem: ouve e transcreve por conta própria.

Lições e impressões

Ao contrário do que é comum considerar, os conflitos de Daniel Dantas com sócios (italianos, norte-americanos e brasileiros, os fundos de pensão) não principiaram no governo Lula, em 2003, mas vieram de antes, como recapitula “Operação Banqueiro”.

A queda do delegado Paulo Lacerda, detestado pelo Opportunity, do comando da Agência Brasileira de Inteligência, decorreu da denúncia de que Gilmar Mendes teria sido grampeado ilegalmente. Todas as provas até hoje colhidas, inclusive por inimigos viscerais de Lacerda e Protógenes Queiroz, derrubam a suspeita de espionagem alardeada com histeria pelos meios de comunicação.

O jornalismo tem sido instrumentalizado nas coberturas sobre o Opportunity, especialmente a favor, como ilustra o obsceno episódio da demissão de Paulo Lacerda. Sem o concurso da imprensa, possivelmente o bem-sucedido golpe contra o diretor da Abin não teria vingado.

O livro não afirma, mas permite supor que, se prosperasse a suspeita, que se mostraria infundada, de que o presidente Lula mantinha uma conta bancária clandestina em paraíso fiscal, poderia ter avançado um movimento para afastá-lo da Presidência, por impeachment. Rubens Valente esmiúça os vínculos do Opportunity com a plantação contra Lula.

Gordos negócios de Daniel Dantas tiveram a bênção ou o patrocínio de Fernando Henrique Cardoso, seus corifeus da equipe econômica e cabeças do PSDB. Mas figuras de vulto do PT, quando no governo, pelejaram estoicamente para socorrer o banqueiro acuado, evidenciam interceptações de comunicação autorizadas pela Justiça. Talvez seja esse o motivo do silêncio ensurdecedor sobre o novo livro, seja nas brigadas tucanas, seja nas petistas.

O juiz Fausto De Sanctis passou de julgador a acusado por ter decidido pela segunda prisão de Daniel Dantas, depois da ordem para libertá-lo emitida por Gilmar Mendes. Muito li na imprensa que não teria havido “fato novo”, condição legal para encarcerar novamente o beneficiário de habeas corpus do Supremo. Aprendi que houve não um, mas três: o depoimento de uma testemunha-chave, a apreensão de documento bombástico na residência do banqueiro e, principalmente, noutro apartamento, de uma dinheirama que se destinava, de acordo com conversas gravadas, a corromper delegados da Satiagraha.

O pedido de prisão da repórter Andréa Michael, então na “Folha de S. Paulo”, assinado por Protógenes Queiroz às vésperas das prisões na Satiagraha, já soava abusivo e delirante anos atrás. De Sanctis não o acolheu, rejeitando a suspeita de que ela conspirasse em prol do Opportunity. O livro comprova, com gravações eloquentes, que a jornalista trabalhava em reportagem (sobre a operação em curso) que contrariava Daniel Dantas _e também a PF. Profissional digna e competente, Michael não atuou a favor de interesse x ou y, mas do jornalismo. Rubens Valente lhe faz justiça, com informações, e não pitacos, assim como aponta com nome, sobrenome e fatos alguns jornalistas camaradas do banqueiro.

O messianismo e a egotrip marcantes em Protógenes Queiroz foram decisivos para que eu jamais simpatizasse com ele. Pior, rebaixa-o sua constrangedora bajulação de cartolas da estirpe de João Havelange e Ricardo Teixeira. No balanço sincero da história, contudo, o que define o hoje deputado federal é o espírito público de líder da Operação Satiagraha e a decência de recusar o dinheiro da corrupção e batalhar pela prisão de corruptores. O livro assinala erros e tropeços de Protógenes, numerosos. Porém, no capítulo histórico da Satiagraha, concluo, ele não equivale ao vilão demonizado pelo noticiário. O Brasil não perdeu por ter tido um delegado como Protógenes Queiroz; perde por não existirem mais Protógenes e outros policiais como ele.

Não é novidade, mas o livro enfatiza, com um sem-número de fatos comprováveis, que a disputa privada pelo domínio do Estado não se restringe ao Executivo, mas atinge o conjunto dos poderes. São assustadoras as manifestações _grampeadas na forma da lei_ de advogados especulando e se jactando sobre influência e possibilidades de sucesso no Judiciário. “Operação Banqueiro” expõe relações e conexões inacessíveis à esmagadora maioria dos brasileiros.

A equilibrada reportagem de Rubens Valente fornece pistas de que Daniel Dantas tem razão quando se queixa de ser um Judas no qual alguns críticos depositam responsabilidades quase exclusivas por certos males. O jogo do capitalismo não é para amadores. O Opportunity _ou executivos associados ao grupo_ contratou a agência internacional de espionagem Kroll para xeretar vidas alheias. Mas sua concorrente Telecom Italia contra-atacou na mesma moeda, embarcando agentes privados estrangeiros para bisbilhotar ilegalmente no Brasil. Um dos momentos mais curiosos do livro conta como hackers italianos invadiram o sistema eletrônico de um hotel em Copacabana, o Sofitel, no qual se hospedaram, com o exitoso propósito de vigiar um chefão da Kroll londrina, aqui a serviço da Brasil Telecom, então controlada por Daniel Dantas. Vale ou não um filme?

Daniel Dantas pode não ser ou não ter sido o “dono do Brasil”, como o tratou em conversa com outrem seu parceiro Naji Nahas, famigerado “investidor”. Mas é notável que, depois de toda a brigalhada com sócios e governo, tenha saído do setor das teles, passando adiante a Brasil Telecom, em pleno governo dos seus ditos inimigos petistas, com uma bolada, talvez bilionária. No final, ou ao menos por enquanto, o banqueiro triunfou.

Anatomia do poder

O magnífico livro de Rubens Valente é econômico sobre a vida do superempresário longe dos negócios e da política. Valem por pilhas de volumes sobre (i)mobilidade social as informações sobre a família do banqueiro baiano, descendente do Barão de Jeremoabo, célebre senhor de engenho que nutria ódio por Antônio Conselheiro, o guia de Canudos. O Dantas do século XIX virou personagem de Vargas Llosa em “A Guerra do Fim do Mundo”. O Dantas do século XXI é protagonista de “Operação Banqueiro”.

Mas o autor é reticente sobre o cotidiano particular de Daniel Dantas. Aborda assuntos sobre os quais não restam dúvidas _e não restam, mesmo_ de que configuram tema de relevância pública, o que legitima sua publicação, nos moldes tradicionalmente adotados por veículos jornalísticos nas nações democráticas. Todas as informações do livro guardam interesse público, pois têm consequências para a vida dos cidadãos.

Mesmo assim, “Operação Banqueiro” afetou minha percepção sobre seu personagem principal. Antes, eu imaginava que o economista Daniel Dantas não aproveitasse a vida _nem em restaurantes costuma ser visto aqui no Rio. Agora, os sinais indicam que, para ele, a vida é quase somente acumular dinheiro, acordar todas as manhãs à procura de novos conflitos, para de noite descansar à espera de mais um dia de contendas. O prazer estaria no ringue, e não no que os sucessos sobre o ringue proporcionam. Ou seja, Dantas aproveita, sim, a vida, considerando o que a vida lhe parece significar.

Embora Daniel Dantas seja um protagonista hipnotizante, o livro vai muito além da sua figura. Consagra-se como um fabuloso painel sobre a anatomia do poder, escancarando como o Estado, em vez de servir à coletividade, privilegia poucos. Uma aula de história do Brasil. Na minha modesta biblioteca, fará companhia a “Os Donos do Poder”, obra imortal do jurista Raymundo Faoro publicada no século XX. “Operação Banqueiro”, trabalho brilhante e hercúleo, já nasce como livro clássico. Clássico e, pena, deprimente.

Transparência: tive a honra de trabalhar por muitos anos com Rubens Valente na “Folha de S. Paulo”. Considero-o um amigo e ficarei feliz se o sentimento for recíproco. Outros amigos já publicaram livros, sobre os quais não escrevi uma sílaba. Isto é, o teor deste post se deve aos méritos do trabalho, e não à amizade com o autor. Não li sequer uma palavra antes do lançamento. Tive acesso a “Operação Banqueiro” na sexta-feira, comprando um exemplar na livraria do terminal 2 do Galeão.


Em 2014, como ensina o sábio Odair José, momentos felizes para todos!
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Mário Magalhães

Beijo retratado pelo fotógrafo Robert Doisneau na Paris de 1950: eis um momento feliz

 

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Cavucando na memória da música brasileira, não encontrei receita mais sábia de ''felicidade'' do que a do Odair José, à qual eu já aderira havia muito tempo: o melhor é esquecer a tal da felicidade e viver, sem cansar, os momentos felizes. Literalmente, ''felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes''.

Escrevi meses atrás sobre isso, no texto que compartilho abaixo.

A canção com o verso-lição é ''A noite mais linda do mundo'', que pode ser ouvida clicando aqui.

Nascido neste atribulado 2013, o blog dá uma breve parada e regressa na segunda quinzena de janeiro.

Um 2014 com muitíssimos momentos felizes para todos!

Tim-tim.

*

A tal da felicidade

Três por quatro da alma, a música retrata uma angústia candente, a busca da felicidade. Desbravar o labirinto que desembocaria nesse sentimento supremo às vezes parece impossível. Quando se descobre a saída, logo o destino teima em escapulir por novos e tortuosos caminhos.

“Tristeza não tem fim, felicidade sim”, compôs Vinicius de Moraes, com Tom Jobim. Chico Buarque, em parceria com Francis Hime, polvilhou ceticismo: “Jura que a felicidade/ É mais que uma vontade/ É mais que uma quimera”. Roberto e Erasmo sugeriram, sem convicção: “Não fique triste, o mundo é bom, a felicidade até existe”.

Existe, mas pressupõe perigo, alertou a letra de Nando Reis em melodia de Samuel Rosa: “Ela não passa de um desejo inflamável”. Não é à toa que Belchior traduziu uma sacada de John Lennon, “a felicidade é uma arma quente”.

Tão quente que quem a encontra já cogita perdê-la, feito Renato Russo: “A felicidade mora aqui comigo, até segunda ordem”. Antes, Lupicinio Rodrigues padecera: “Felicidade foi-se embora, e a saudade no meu peito ainda mora”. Como Noel Rosa, em tabelinha com Renê Bittencourt: “Eu fico triste/ Quando vejo alguém contente/ Tenho inveja dessa gente/ Que não sabe o que é sofrer”.

A felicidade não constitui fetiche menor para quem julga ter decifrado seu DNA. “A felicidade mora ao lado, e quem não é tolo pode ver”, poetou Ronaldo Bastos, com acordes de Beto Guedes. Gonzaguinha alardeou, na versão contagiante das Frenéticas: “A tal da felicidade baterá em cada porta”.

O problema é que, se tudo é simples assim, muita gente se tinge de culpa quando não se sente feliz. A obsessão pela felicidade a transforma em miragem. Em vez de desfrutar do contentamento, nós nos atormentamos por ele não ser permanente.

Como se livrar da aflição? Recorrendo ao próprio cancioneiro nacional. Inspirado por uma noite de amor, Odair José pontificou: “Felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”.

Trocando em miúdos, seremos mais felizes se não nos enfeitiçarmos pela ideia da felicidade utópica, e sim por experiências felizes, muitas e muitas, mesmo fugazes, sem cansar, mas sem a ilusão da eternidade.

Odair já foi menosprezado como artista “brega”. No balanço sincero da história, eu o cultivo como um gigante do pensamento, do porte de um filósofo alemão, de um existencialista francês.

(Mário Magalhães, ''Azul Magazine'', julho de 2013)


2013 consagra impunidade: ninguém paga por tragédia criminosa na boate Kiss
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Mário Magalhães

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Apregoam o fim da impunidade no Brasil, brandindo, numa indisfarçável misturada de alhos com bugalhos, a prisão dos acusados de matar o pedreiro Amarildo, do deputado condenado Natan Donadon, dos punidos do mensalão, do pessoal da máfia do ISS e até do sem-teto manifestante _tudo em 2013.

Mas a maracutaia do cartel no metrô até agora deu em nada.

E o Fluminense, outra vez, disputará no ano que vem uma competição para a qual seus resultados em campo não o habilitam.

Nosso país continua sendo, sim, um recanto de criminosos impunes, e não existe exemplo mais eloquente do que a tragédia criminosa na boate Kiss.

Parece que foi há uma eternidade, mas não tem nem um ano: na madrugada de 27 de janeiro, um incêndio na casa noturna de Santa Maria (RS) provocou a morte de 242 pessoas, jovens na esmagadora maioria.

Não há um só proprietário da boate Kiss em cana.

Nem autoridades públicas que permitiram que um estabelecimento sem condições de segurança funcionasse.

Enquanto não houver punição para o crime na boate Kiss, todo discurso sobre o fim da impunidade estará prejudicado pelo cinismo e pela hipocrisia.


Por que derrubaram Jango (2)
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Mário Magalhães

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Há 50 anos, em 27 de dezembro de 1963, também uma sexta-feira, os jornais noticiaram um comunicado de João Pinheiro Neto, presidente da Supra, a Superintendência de Política Agrária. Pinheiro Neto era o executivo do presidente João Goulart para a divisão de pelo menos uma pequena parte das terras no país do latifúndio.

O Decreto da Supra, marco do que seria o início da reforma agrária, só seria assinado por Jango em 13 de março de 1964, antes de se dirigir para o comício da Central do Brasil.

Novos capitalistas e herdeiros dos senhores feudais não admitiam perder nem um naco de suas propriedades rurais.

Os latifundiários estariam entre os principais agentes da deposição de Goulart.

Em 27 de dezembro de 1963, faltavam 97 dias para o golpe de Estado de 1º de abril de 1964.


Chegou! ‘Crecer a golpes’, livro sobre a América Latina nos últimos 40 anos
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Mário Magalhães

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Chegaram ontem aqui em casa dois exemplares de 'Crecer a golpes', livro lançado neste mês nos Estados Unidos, pela C. A. Press, editora de língua espanhola do Penguin Group.

Pouco mais de um ano depois de sair a biografia ''Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo'' (Companhia das Letras), tenho livro novo na praça: sou um dos 13 autores de 'Crecer a golpes', volume organizado pelo jornalista e escritor argentino Diego Fonseca. Entre os colegas de empreitada estão o cubano Leonardo Padura, o norte-americano Jon Lee Anderson, o nicaraguense Sergio Ramírez e o argentino Martín Caparrós.

A obra reúne crônicas e ensaios inéditos sobre 11 países da América Latina nos últimos 40 anos, além de um artigo sobre os EUA e outro sobre a Espanha no mesmo período. Isto é, desde o golpe de Estado no Chile, em 1973. Por isso o subtítulo é ''Crónicas y ensayos de América Latina a cuarenta años de Allende e Pinochet''.

No meu caso, conto um pouco mais, a história do Brasil desde 1964 _o ''nosso'' golpe antecedeu o chileno em nove anos. Condenso a trajetória do país e minhas memórias acompanhando a seleção brasileira e meu ídolo supremo, Zico. Os triunfos e fracassos do futebol pontuam as aventuras e desventuras nacionais.

Infelizmente, não há por enquanto versão em português. A Amazon oferece a edição original, em castelhano (aqui).


Palavras malditas (6): um verdadeiro
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Mário Magalhães

Na “Tribuna da Imprensa”, em 1986, eu escrevia em máquinas – Foto multtclique.com.br

 

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Quase sempre que um substantivo vem antecedido da expressão ''um verdadeiro'', o emprego destas duas palavras é impróprio ou excessivo. Na primeira hipótese, não há verdade, mas falsidade.

''Uma verdadeira multidão'' pode significar duas coisas: que não se trata de multidão ou que é multidão. Num caso, ''uma verdadeira'' engana. No outro, não faz sentido, a não ser que se destine a diferenciar ''uma verdadeira multidão'' de ''uma falsa multidão''. Nonsense.

Viveu ''verdadeiro horror'' pressupõe a existência de ''falso horror''. Como será o horror falso?

Exemplo de excesso é o namoro que se transforma em ''um verdadeiro inferno''. Como não se conhece o inferno fake, a não ser na ficção, o namoro era mesmo ''um inferno''.

O ''quase'' do primeiro parágrafo se deve ao fato de que às vezes ''um verdadeiro'' tem tudo a ver, como em ''um verdadeiro amigo'', contraste com falsos amigos.

E, na arte, ''um verdadeiro gol de placa'' constitui recurso retórico e poético para aclamar o golaço do inesquecível Fio Maravilha. Um achado do Jorge Ben(jor), e não ''um verdadeiro'' achado.


Eleições de craques divergem sobre Messi. E daí? Ele é disparado o melhor
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Mário Magalhães

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Messi comemora gol no Camp Nou; ele ainda sobra na turma – Foto REUTERS/Albert Gea

 

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E a ''Gazzetta dello Sport'', quem diria, deixou o Messi fora da seleção do ano (reportagem aqui). A grande sandice do diário italiano não foi excluir o argentino, que padeceu e padece de contusões musculares recorrentes, mas ignorar o Neymar, brilhante na Copa das Confederações e um sucesso em sua arrancada no Barça. Os caras ainda se dizem especialistas em futebol.

Já o ''Guardian'', publicação (cada vez mais) digital e (menos) impressa inglesa, elegeu o Messi o melhor do ano, numa relação de dez craques. O Neymar ficou em sexto (aqui). Curioso: o jornal reverencia a recusa do Messi em se exibir feito pavão, mas classifica o sueco Ibrahimovic, contumaz praticante de pavonadas, em terceiro, à frente do francês Ribéry, que comeu a bola na Champions.

Na eleição da Fifa, eu votaria no Ribéry, e não no Messi ou no, por falar em pavonear, Cristiano Ronaldo.

Não que o Ribéry seja melhor que o português. A distância é maior ainda em relação ao rosarino. Mas o atacante mal-encarado foi decisivo para o Bayern no ano que se encerra, embora não tenha o futebol do, por exemplo, Neymar.

A despeito das contusões que castigam o Messi desde a Champions passada, ele continua sendo disparado o melhor jogador do mundo. O problema é que, como testemunhou seu companheiro Piqué, o gênio perdeu a confiança, devido aos músculos cansados. E o Messi precisa estar muito bem fisicamente, como quase sempre esteve, para render como pode, sobretudo esbanjando vigor nas arrancadas.

O Neymar pode e deve chegar um dia à condição de número 1 do planeta. O tempo para essa consagração dependerá da retomada _ou não_ da capacidade de o Messi jogar em altíssimo nível.

O Cristiano Ronaldo é um dos gigantes da nossa época. Porém, no balanço sincero da história, não dá para ele encarar o Messi, um dos melhores de todos os tempos.

Para o bem do futebol, tomara que o Messi volte bem e que chegue no auge para a Copa. Se ele vier, minha segunda torcida será para a Argentina, depois, é claro, do Brasil.


Feliz Natal
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Mário Magalhães

 

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Se as autoridades honrarem a promessa, um velho centro de tortura, mantido pela polícia política gaúcha nos anos 1960, vai mesmo se transformar em memorial em defesa da civilização e dos direitos humanos. Receberá o nome de Ico Lisboa, guerrilheiro morto pela ditadura, como contei aqui.

Nei Lisboa, grande compositor, participou da manifestação da semana passada, no casarão onde funcionavam as câmaras de tortura. Ele é irmão de Luiz Eurico Lisboa, o Ico.

No ato, Nei cantou ''A vida inteira'', canção belíssima, dessas capazes de mexer até com o mais insensível dos viventes.

Basta clicar acima para ouvir. É o cartão de Natal do blog.

Feliz Natal!


Há 99 anos, soldados oponentes pararam guerra e confraternizaram no Natal
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Mário Magalhães

Soldados britânicos na I Guerra Mundial – Foto reprodução

 

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Grande história, a que o ''El País'' publicou para brindar o Natal. Quem a conta é Walter Oppenheimer, de Londres: nas trincheiras do confronto que no futuro viria a ser conhecido como I Guerra Mundial, soldados alemães e britânicos consagraram uma trégua durante o Natal de 1914.

De um lado da trincheira, os combatentes germânicos cantaram o cântico ''Noite de paz''. Do outro, os oponentes retrucaram com seus clássicos natalinos, em inglês. Por alguns dias, as armas se calaram. As tropas acabaram, umas contra as outras, confraternizando e se enfrentando não para matar, mas numa cancha de futebol.

A reportagem ''O primeiro gol contra o belicismo'' pode ser lida clicando aqui.

A seu modo, os soldados, bucha de canhão de quem não se arriscava no front, mostraram que inimigos não eram os povos, mas seus governantes.