Blog do Mario Magalhaes

A (velha) Guerra da Crimeia, por Kenneth Maxwell
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Mário Magalhães

Em 1855, ferido é socorrido na Guerra da Crimeia – Foto Roger Fenton/reprodução internet

 

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Para quem acha que a história começou ontem ou que a refrega principia agora, o historiador britânico Kenneth Maxwell dá uma lição hoje na ''Folha''.

Eis sua coluna:

* * *

Crimeia

Por Kenneth Maxwell

A Crimeia já viu conflitos internacionais no passado. A Guerra da Crimeia, de 1853 a 1856, foi um desastre para todas as partes envolvidas, tendo causado mais de 300 mil mortes –80 mil em combate, 40 mil por ferimentos e mais de 100 mil por doença. O Exército britânico, por exemplo, perdeu 2.755 homens em ação, 2.019 por ferimentos e mais de 16 mil por doença.

A Guerra da Crimeia envolveu uma aliança entre o Império Otomano, a Grã-Bretanha, a França e a Sardenha contra uma Rússia expansionista. Resultou de erros fatais de líderes ineptos, que também respondiam a uma opinião pública ativa, alimentada por notícias rapidamente distribuídas pelos novos cabos telegráficos, instalados inicialmente no mar Negro por franceses, em 1854, e, em seguida, por britânicos, em 1855. Depois disso, as notícias chegavam a Londres em um dia. A Guerra da Crimeia foi o primeiro conflito a ser registrado pela fotografia, então uma nova invenção. Mas o conflito foi mais notável pelos múltiplos erros logísticos, táticos e médicos de todos os envolvidos.

Para ler na íntegra, basta clicar aqui.


Por que derrubaram Jango (9)
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Mário Magalhães

blog - jango tabelar alugueis

 

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Na reta final do seu governo, o presidente João Goulart, que se equilibrara até então entre os segmentos mais à direita (o PSD dos grandes proprietários de terra) e à esquerda (o PTB, sob forte influência de Leonel Brizola) da sua base parlamentar, optou por um caminho mais combativo. Um dos seus propósitos era reforçar ou recuperar o apoio entre a massa de assalariados e brasileiros mais pobres.

Há 50 anos cravados, em 6 de março de 1964, a primeira página da ''Folha'' anunciava a intenção de Jango regulamentar os reajustes dos aluguéis. Em disparada, os valores dos aluguéis de imóveis contribuíam para a inflação em surto.

Uma semana depois, o que havia sido especulação e depois promessa se tornaria realidade, com o decreto dos aluguéis, que teriam de variar conforme o aumento do salário mínimo.

Uma das reformas previstas pelo governo, a urbana, pretendia diminuir o problema da falta de moradias.

Os grandes especuladores imobiliários e segmentos médios que alugavam imóveis se contrapuseram ao tabelamento.

Em 6 de março de 1964, faltavam 27 dias para o golpe de Estado que deporia o presidente constitucional João Goulart.


Vergonha não é a greve (ou a beijoca na orelha), mas o salário dos garis
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Mário Magalhães

blog - cabral beija paes

Na Sapucaí, Sérgio Cabral beija Eduardo Paes – Foto Bernardo Mello Franco/Folhapress

 

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Não é problema de ninguém, o beijo poderia ser onde o governador e o prefeito bem entendessem. O da imagem acima, em um camarote na Sapucaí, foi na orelha de Eduardo Paes. Sérgio Cabral viveu uma ''noite de euforia'' no Carnaval, testemunhou o repórter Bernardo Mello Franco (leia aqui), também o autor da foto flagrando o carinho entre os correligionários.

O problema, isso sim, foi Paes se negar então a falar sobre a greve dos garis, que já incomodava os cariocas. Isso mesmo: sobre esse assunto, o prefeito se recusou a pronunciar palavra, sem prestar contas aos cidadãos preocupados.

Trezentos garis já foram demitidos pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana. O lixo se acumula em muitas regiões, ameaçando disseminar doenças.

A culpa é dos garis? O que você acharia de, trabalhando duro numa atividade essencial, receber o salário de R$ 802,53 mensais?

O sindicato com diretoria amiga do prefeito fechou um acordo com reajuste de 9%, alcançando o piso de R$ 874,79. Com o adicional de insalubridade, que já é pago, chega a R$ 1.224,70 _para vários efeitos de benefícios, considera-se o piso, sem o adicional.

Numerosos garis continuam exigindo piso de R$ 1.200 (mais o adicional) e mantêm a greve, declarada _alguma surpresa?_ ilegal pela Justiça do Trabalho.

A greve permitiu a muita gente saber que o piso dos garis pouco passa do salário mínimo.

A paralisação, de fato, gera enormes transtornos à população.

Mas a culpa da greve não é dos garis, e sim da Prefeitura do Rio, que dispõe de dinheiro para toda sorte de agrado a ''parceiros'' nos projetos da Copa e da Olimpíada, mas rejeita um salário pouco menos miserável a quem, trabalhando honestamente, é indispensável à cidade.


161 anos depois, o ‘New York Times’ corrige erro
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Mário Magalhães

12 anos de esc nytimes

 

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A reprodução acima é de uma notícia publicada em 1853 pelo ''New York Times''.

Aparece errada a grafia do nome do homem de carne e osso que viria a ser o personagem principal do filme ''12 anos de escravidão'', grande vencedor do Oscar em 2014.

O jornal acaba de veicular uma errata (leia aqui): erro apontado, erro corrigido.

É mérito jornalístico o reconhecimento de erros. O diário demorou 161 anos? Antes tarde do que nunca, diz o lugar-comum, que se aplica bem ao caso.

Seria mais importante, contudo, o ''Times'' nova-iorquino se debruçar sobre a enormidade de cascatas difundidas sobre o Iraque, antes e durante a invasão dos Estados Unidos. Ou, na nossa seara, sobre o governo João Goulart.

Haveria muito mais informações a corrigir.


A euforia de Cabral, por Bernardo Mello Franco
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Mário Magalhães

blog - cabral ri

Governador Sérgio Cabral – Daniel Marenco/Folhapress

 

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A expressão ''noite de euforia'' não é do blog, mas do repórter Bernardo Mello Franco, testemunha ocular.

Sim, o governador Sérgio Cabral teve tal noite de euforia, na Sapucaí.

O que a teria provocado?

Uma hipótese é a gratidão à turma que ajudou a minguar a multidão de 300 mil manifestantes, que bradavam contra Cabral em junho de 2013, para 500, mil gatos pingados.

Há outras hipóteses, como… deixa pra lá.

Eis a reportagem do Bernardo, publicada na ''Folha'':

* * *

Governador Sérgio Cabral tem noite de euforia no sambódromo

Por Bernardo Mello Franco

Em seu último Carnaval no cargo, o governador Sergio Cabral (PMDB) viveu no domingo uma noite de euforia no Sambódromo.

De camisa polo e chapéu Panamá, distribuiu beijos, deu água a um ritmista, tomou uma bebida afrodisíaca e tascou um beijo no ouvido do prefeito Eduardo Paes (PMDB). Voltou a beijá-lo na noite de ontem.

No domingo, o aliado tentou conter o governador, pedindo que parasse de conversar com os jornalistas. Em vão. ''A passista brinca, brinca, brinca…'', repetia o governador, balançando as mãos.

Animado, Cabral tomou um trago de cravo escarlate, bebida feita de raízes pela família do sambista Candonga. Os produtores dizem que é afrodisíaca e que era servida a escravos reprodutores.

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.


Crime, contravenção e Carnaval: no sambódromo, uma história brasileira
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Mário Magalhães

Na explosão de 2010, jovem de 17 anos foi morto – Foto UOL/Gabriel de Paiva/ Agência O Globo

 

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A imagem acima é de 2010, quando uma explosão criminosa matou um jovem de 17 anos, filho do contraventor Rogério Andrade.

''Contraventor'' é um eufemismo, desses empregados para evitar condenação judicial.

Rogério, parentes e aparentados do falecido bicheiro Castor de Andrade há anos se empenham no que se chamou de guerra dos caça-níqueis, nas quais se enfrentam facções da máfia dos caça-níqueis. Andrade contra Andrade, jorra o sangue da família. Jogo violentíssimo, mafioso mesmo, aqui no Rio.

Sabe quem se esbaldou na Sapucaí? Rogério Andrade, depois de uma temporada de cana _nos últimos 15 anos, esteve foragido ou preso.

É impressionante a reportagem de Adriana Cruz, em ''O Dia''. Ei-la:

* * *

Contraventor promete encher Mocidade de dinheiro em 2015

Por Adriana Cruz

De volta ao comando da Mocidade Independente de Padre Miguel, o capitão do jogo do bicho Rogério de Andrade, de 50 anos, marcou presença, com pompa e circunstância, na Sapucaí, nas quatro noites de desfiles, que incluem os dois da Série A e os dois do Grupo Especial.

Na segunda noite de desfiles, Rogério chegou antes do desfile começar, às 19h45, e fez questão de passar pela concentração da escola. O famoso contraventor foi visto chorando e até cantando no camarote da escola. Ele ainda garantiu que, em 2015, vai encher a escola de dinheiro e que o desfile deste ano foi apenas uma prévia.

Sobrinho do lendário presidente de honra da escola Castor de Andrade, falecido, Rogério mostrou que queria saborear em boas doses a liberdade na Avenida – nos últimos 15 anos ele esteve foragido ou preso, acusado de envolvimento em homicídios e a máfia dos caça-níques. O contraventor não economizou, gastou pelo menos R$ 500 mil para bancar os custos de quatro camarotes, R$ 65 mil, cada um, o equivalente a R$ 260 mil, além buffet e ornamentação, avaliados em R$ 240 mil. O desenho de um castor era destaque da decoração, inserido no escudo da escola.

O camarote que Rogério ficou foi regado à champanhe da marca francesa Moët & Chandon, uma garrafa custa em média R$ 220, vodka – bebida consumida pelo contraventor – quitutes, presunto de parma, frutas, mulheres bonitas e seguranças, que não usavam credenciais para não chamar a atenção. Cada um da 'tropa de elite' recebeu 18 convites. Até no banheiro, ele contava com a escolta.

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.


‘O Carnaval é do povo, mas com torcicolo’, por Luiz Fernando Vianna
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Mário Magalhães

Jornalista Luiz Fernando Vianna – Foto arquivo pessoal

 

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Um dos jornalistas que mais entendem de Carnaval, Luiz Fernando Vianna assistiu pela TV ao desfile deste ano.

Além de observações agudas sobre a cobertura, cunhou uma frase que fica, sobre o sambódromo de hoje: ''O Carnaval é do povo, mas com torcicolo''.

Eis as bem-traçadas do Luiz Fernando, publicadas na ''Folha'':

* * *

Duas avenidas

Por Luiz Fernando Vianna

Existe a Marquês de Sapucaí real e existe a da TV Globo.

Na primeira, se você é um escolhido (imprensa, celebridade, cunhado da amante de um político), vê com algum conforto as belezas e bizarrices dos desfiles.

Na segunda, Papuda em que fui jogado neste ano por motivos pessoais, tudo é “contagiante”, “inesquecível”, “uma experiência única”.

Não há escolas melhores nem piores, apenas iguais. Todas são “lindas”, “criativas”, “surpreendentes”.

Quando, diante das câmeras, a alegoria de um índio é decapitada, só resta a lamúria: “A escola teve um problema”.

Você está em casa numa noite de carnaval, no extremo sul da bipolaridade, e a Globo ainda sublinha: imbecil!

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.


Quarta-feira de cinzas: para jornais cariocas, Salgueiro é favorito
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Mário Magalhães

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O Salgueiro levou os prêmios conferidos por ''O Globo'' (Estandarte de Ouro) e ''O Dia'' (Tamborim de Ouro).

Os jornais cariocas apontam favoritismo da escola tijucana na apuração de hoje à tarde.

Para mim, com todo o respeito, o Carnaval de 2014 ficará como o da comovente homenagem ao Zico, ídolo supremo, enredo da Imperatriz.

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‘True Detective’ cria tensão e inova gênero, por Luciana Coelho
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Mário Magalhães

Woody Harrelson e Matthew McConaughey, os tiras de ''True Detective''

 

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''Difícil disputar atenção com o Oscar, mas o episódio de 'True Detective' desta noite vale o empenho do espectador'', escreveu ontem Luciana Coelho.

Pois logo depois de o U2 tocar na cerimônia da Academia, e quando a São Clemente, querida escola aqui de Botafogo, entrava na passarela para falar de favelas, eu sintonizei a TV na HBO. Por uma hora, esqueci o que não era a busca do assassino ou assassinos que move a série.

Mais propriamente, busca que serve de motivo ao que realmente move os oito episódios: os percalços existenciais dos tiras vividos por Woody Harrelson e Matthew McConaughey (enquanto o assistíamos, mais que interpretando, levitando em ''True Detective'', McConaughey triunfava com o Oscar de melhor ator).

A história tem virtudes várias, e uma delas é a fascinante obsessão dos investigadores que não descansam enquanto não dão conta de um desafio. Mesmo que isso consuma o tempo de uma vida, dentro e fora da polícia, e que destrua quem não sossega até encontrar ou não o que procura.

O episódio exibido depois da meia-noite foi o sétimo e penúltimo, que será reprisado hoje às 22h. Todos os sete estão à disposição, sem tarifa extra, no canal Now, da NET. Não são poucas as pessoas que, depois de dar com ''True Detective'', dizem ter, como eu, virado dependente.

Quem falou com mais conhecimento sobre a série viciante foi Luciana Coelho, na ''Folha''. Aqui:

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'True Detective' cria tensão e inova gênero

Por Luciana Coelho

Difícil disputar atenção com o Oscar, mas o episódio de ''True Detective'' desta noite vale o empenho do espectador. Ele abre, avisa seu criador, o terceiro ato de uma série policial que começou lenta e cuja tensão desembesta para um fim grandiloquente e, torçamos, bem talhado como os seis episódios já exibidos.

Um de seus trunfos coincide com o Oscar: é Matthew McConaughey, cotado para o prêmio pela atuação em ''Clube de Compras Dallas''. Na série da HBO, o ex-galã dá corpo ao etéreo detetive Rust Cohle de forma ainda mais espantosa.

Cohle forma com Martin Hart (Woody Harrelson) uma dessas duplas antagônicas que povoam o gênero. São tirados da vala comum pelas interpretações enérgicas dos dois atores texanos e pelo script intrincado de Nic Pizzolatto, 38, um romancista e ex-professor da Louisiana que virou o novo nome da hora no showbiz.

Pizzolatto, após breve incursão por ''The Killing'', escreve sozinho o roteiro que confiou a um só diretor (Cary Fukunaga), fórmula rara na TV. Talvez por isso, aqui os personagens importem mais que a trama, uma caçada a um assassino de mulheres cheio de fetiches e mensagens transcendentais.

Para ler a íntegra basta clicar aqui.


‘O Corpo’, um conto de Sérgio Sant’Anna
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Mário Magalhães

Sérgio Sant'Anna e as letras, em foto conceitual de Luciana Whitaker (Folhapress)

 

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''O Globo'' teve uma sacada criativa ao oferecer por esses dias ficção de qualidade para quem vive out-Carnaval ou não tenta bater recordes de frequência em blocos cariocas ou não assiste aos desfiles da primeira à última escola das diversas divisões do samba do Rio.

O jornal está publicando um conto inédito por dia. Quem abriu a série foi o contista e romancista Sérgio Sant'Anna, um dos maiores escritores brasileiros.

É um prazer vê-lo, setentão, em grande forma, como nos tempos em que tive a sorte de ser seu aluno na faculdade, na cadeira comunicação comparada, e ele lançou a novela ''Amazona'', obra que não alcançou o reconhecimento de crítica e público à altura da imensidão de talento nela contida.

Eis o conto:

* * *

O Corpo

Por Sérgio Sant'Anna

Eram quinze para as seis da manhã, a claridade apenas despontando e Fernando Antônio levantou-se sem hesitação ao som do despertador do celular, tão baixo que Ana Lívia apenas estremeceu na cama. Fernando Antônio gostava de sentir o corpo de Ana perto do seu, mas não o tocou, para ela não acordar. Ele foi ao banheiro, depois voltou para o quarto e vestiu o short e a camiseta, calçou as meias e o par de tênis, para correr à beira da praia, a tempo de retornar e preparar-se para sair antes de oito horas da manhã e dos engarrafamentos. Sempre chegava cedo à corretora, a fim de conferir as cotações das bolsas da Europa e do fechamento na Ásia, antes de abertura do mercado em São Paulo. Poderia fazer isso no próprio celular, mas não queria misturar as coisas: o seu apartamento, Ana Lívia, o exercício físico, com o trabalho.

Fernando foi à cozinha, bebeu um pouco d’água, descascou e partiu pedaços de mamão, que pôs no liquidificador. Café da manhã completo, ele deixava para tomar na volta, talvez em companhia de Ana Lívia, quando a empregada já tivesse chegado. Com o copo com o suco na mão, caminhou até a janela da sala, no oitavo andar, que passava a noite fechada, por causa do vento que vinha do mar. Abriu-a, sentiu o ar fresco da manhã, o cheiro da maresia, ouviu o barulho das ondas quebrando, mais nítido a essa hora, e também notou que onde uma onda se formava havia algo parecido com um corpo negro boiando, mas, com a luz ainda insuficiente, não podia identificar se era um afogado, ou um surfista madrugador, ou alguém nadando.

Fernando bebeu o último gole do suco e dirigiu-se à porta do apartamento. Tomou o elevador e, ao chegar à rua, notou que algumas das pessoas que vinham cedo para correr ou caminhar no calçadão haviam parado do outro lado da Avenida Vieira Souto e olhavam em direção ao mar. Resolveu então atravessar a avenida e certificou-se de que havia mesmo o cadáver de um negro que era jogado de um lado para outro, e para cima e para baixo nas ondas. E Fernando não pôde deixar de filosofar como todo mundo diante de um cadáver, filosofia que podia ser reduzida à sua expressão mais simples com as palavras: o homem negro está morto, eu estou vivo, mas também vou morrer. Sentiu-se levemente deprimido e iniciou imediatamente sua corrida.

Naquele momento três rapazes carregando pranchas de surfe vinham chegando pelo calçadão e um deles disse: “Vamos chegar lá perto para ver.” Outro respondeu: “Que isso, mermão, defunto a uma hora dessas? Vamos pro Arpoador.” E o terceiro surfista disse para o segundo, em voz bastante alta, de modo a ser ouvido pelo primeiro, o que fizera a proposta e já pulara para a areia: “Olha lá o Juninho, olha lá: vai pegar onda com o defunto.”

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.