Blog do Mario Magalhaes

Eleição no Rio: a nova Guerra da Crimeia
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Mário Magalhães

Campanha do Rio pode ter lixão, mas não cegonhas, como na Índia – Foto Biju Boro/AFP

 

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Se um terço da boataria a respeito de revelações iminentes sobre podres de adversários se confirmar, a campanha eleitoral para governador do Rio de Janeiro oscilará entre o ambiente dos esgotos a céu aberto e o dos lixões.

E pode não haver nova guerra na Crimeia, mas aqui haverá.

Os pré-candidatos mais fortes são, por ordem alfabética, Anthony Garotinho (PR), Lindbergh Farias (PT), Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB).


Botafogo: bravura do time honra torcida, e bravura da torcida honra time
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Mário Magalhães

blog - botafogo ferreyra e gabriel

Ferreyra e Gabriel comemoram o gol decisivo do argentino ontem – Foto Vitor Silva/SSPress

 

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Sem pretensão de fazer um balanço da vitória de 1 a 0 do Botafogo, contra o Independiente del Valle, compartilho dez pitacos sobre o resultado que levou o time brasileiro à liderança do grupo 2 da Libertadores:

1) o jogo coletivo do começo da competição perdeu lustro. A equipe deu excessivo espaço ao adversário equatoriano, sobretudo no segundo tempo. O Independiente acumulou 16 finalizações, contra 14 alvinegras (fonte: Footstats). O Botafogo se concentrou em apenas duas variações ofensivas de perigo: cruzamentos para Ferreyra cabecear (gol decisivo) e bombas de Jorge Wagner de fora da área (duas bolas no travessão);

2) Ferreyra é limitado tecnicamente, mas domina com excelência o fundamento do cabeceio. O argentino toca na bola com a testa, como fazem os exímios cabeceadores;

3)  a despeito das limitações coletivas, o Botafogo foi uma equipe para a qual dá gosto torcer: como lutaram os jogadores no Maracanã! A celebração do elenco ao final retratou a combatividade permanente;

4) a luta do time teve contraponto à altura, no incentivo dos torcedores. A bravura da torcida honrou o time, e a bravura do time honrou a torcida;

5) a entrega dos jogadores merecia uma torcida maior do que os 23.347 pagantes (26.837 presentes);

6) justamente por ser um jogo muito pegado, de choques intensos, embora sem apelações, não deu certo a troca de Wallyson, que não estava bem, por Cidinho no começo do segundo tempo. Eduardo Húngaro apostou errado (sim, é mais fácil falar depois da partida). As limitações físicas de Cidinho, um graveto, atrapalham neste tipo de jogo. A não ser que ele venha a jogar muito mais do que ontem;

7) há muito tempo eu não via um árbitro tão pançudo como o uruguaio Dario Ubriaco. Nem Héber Roberto Lopes em seus tempos mais rechonchudos;

8) sei que muitos botafoguenses temiam a presença de Dankler, substituto de Bolívar, suspenso. Pois o zagueiro foi muito bem, ao lado de Dória, e com o respaldo de Jefferson em grande noite;

9) uma conquista sofrida e disputada como a de ontem, em confronto parelho, muitas vezes embala uma equipe, dá confiança;

10) que jogo emocionante!


Eliane Brum lança ‘meus desacontecimentos’ em São Paulo e Porto Alegre
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Mário Magalhães

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Grande notícia: um dos maiores talentos da prosa brasileira está de volta em livro. Eliane Brum lança na próxima terça-feira, em São Paulo, e no dia 2 de abril, em Porto Alegre, ''meus desacontecimentos'' (Leya).

Ela diz: ''Em 'meus desacontecimentos – a história da minha vida com as palavras' conto exatamente isso, a história da minha vida com as palavras. Sou essa guria da capa do livro, em permanente interrogação sobre os sentidos''.

Imperdível!

blog - eliane brum meus desacontecimentos


Rebatismo do ex-colégio Médici, agora Carlos Marighella, será no dia 11/04
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Mário Magalhães

Fachada ganhará nome de Marighella – Foto reprodução site do colégio

 

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Já tem data a cerimônia que celebrará na Bahia a mudança de nome do ex-Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici para Colégio Estadual do Stiep Carlos Marighella (Stiep é o bairro de Salvador onde o estabelecimento se localiza): 11 de abril, dez dias depois do aniversário de 50 anos do golpe de Estado que depôs o presidente João Goulart.

A troca de nome já ocorreu legalmente, com a publicação no ''Diário Oficial'' da Bahia em 14 de fevereiro. No mês que vem, a escola já estará identificada com o novo batismo.

A mudança foi decidida em dezembro, numa votação da comunidade escolar.

O ditador Médici foi presidente da República no período (1969-74) mais repressivo da ditadura instaurada em 1964.

No governo do general, na noite de 4 de novembro de 1969, ao menos 29 agentes públicos assassinaram a tiros Carlos Marighella, que estava desarmado. O guerrilheiro baiano havia sido declarado pela ditadura, em novembro de 1968, o ''inimigo público número 1''.

Para saber mais sobre a mudança decidida por estudantes, professores, funcionários e pais de alunos: ''Deu no 'Diário Oficial' da Bahia: colégio Médici vira colégio Marighella'.

Para ler a opinião do blogueiro sobre o assunto: ''Colégio Presidente Médici decide trocar nome para Colégio Carlos Marighella''.


Prefeitura do Rio deixa em ruínas palco do último discurso de Jango no país
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Mário Magalhães

blog - automovel club o globo

O interior do Automóvel Club, em página de ''O Globo'' (18.mar.2014); a foto é de Guito Moreto

 

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O prédio do Automóvel Club, palco do último discurso de João Goulart (1918-1976) em solo brasileiro, foi abandonado pela Prefeitura do Rio, proprietária do imóvel.

Na noite de 30 de março de 1964, na antevéspera do golpe de Estado que o deporia, o presidente falou ali a mais de mil militares e policiais. No começo da tarde de 1º de abril, acossado, voou às pressas para Brasília. Da capital, rumou para o Rio Grande do Sul, de onde partiria para o Uruguai. Nunca mais regressou ao seu país, até a morte em 1976.

As ruínas do salão do Automóvel Club foram documentadas pelo fotógrafo Guito Moreno e estão descritas em exemplar reportagem de Catharina Wrede sobre a degradação do Passeio Público carioca (leia clicando aqui). À jornalista, o prefeito Eduardo Paes disse: ''Ainda não encontramos uma alternativa [para o prédio]''.

Em 1964, no ato pelos 40 anos da Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar, Jango apelou aos presentes: ''Respeitem a hierarquia legal'', sejam ''cada vez mais disciplinados''.

Atacou, relembrando a fracassada tentativa de golpe em seguida à renúncia do presidente Jânio Quadros: ''Na crise de 1961, os mesmos fariseus que hoje exibem o falso zelo pela Constituição queriam rasgá-la e enterrá-la sob a campa fria da ditadura fascista''.

Citou o bispo católico Dom Hélder Câmara: ''Os ricos da América Latina falam muito de reformas de base, mas chamam de comunistas aqueles que se decidem a levá-las à prática''.

Tudo isso no Automóvel Club, o local onde no finzinho dos anos 1950 havia sido rodada a chanchada ''O homem do Sputnik''.

E onde João Goulart discursou pela última vez no Brasil.


Começa hoje no Rio: ‘Brasil, futebol e livros’
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Mário Magalhães

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São 13 escritores de livros sobre futebol, sob a batuta do treinador, ou curador, Edison Viana.

Os craques vão tabelar em seis bate-papos, de hoje a quinta-feira, na Caixa Cultural aqui do Rio.

O nome do ciclo é de responsa: ''Brasil, futebol e livros: uma seleção de grandes jogadas literárias em encontros com os craques das palavras da bola''.

A entrada é franca.

Mais informações abaixo:

blog - brasil, futebol e livros


O esquecimento é amigo da barbárie: há 8 meses desapareceram com o Amarildo
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Mário Magalhães

blog - amarildo 8 meses

 

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Na sexta-feira, o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza completou oito meses.

Detido por policiais militares na noite de 14 de julho de 2013, ele sumiu para sempre em dependências da dita Unidade de Polícia Pacificadora, na Rocinha.

Foi assassinado na tortura, concluíram inquérito policial e denúncia do Ministério Público. PMs estão presos, acusados pela morte, mas o corpo não foi encontrado.

Não basta ao Estado investigar e esclarecer a morte do Amarildo. Foram agentes públicos que desapareceram com ele.

As autoridades devem à família do trabalhador o direito de lhe oferecer um enterro digno.

Ainda ressoam os gritos das jornadas do ano passado: ''Ei, Cabral, cadê o Amarildo?''.

P.S.: pelo visto, o desfecho da apuração do caso Amarildo não serviu de exemplo para muitos PMs do Rio, como os que arrastaram a cidadã Cláudia da Silva Ferreira. Baleada, ela foi jogada no porta-malas de uma camionete da Polícia Militar, a caminho do hospital. Quando o porta-malas abriu, foi arrastada com o veículo em movimento. Cláudia morreu _foi morta (leia aqui).


Marcha da família: negar tortura na ditadura equivale a negar o Holocausto
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Mário Magalhães

blog - angeli marcha da familia

Por Angeli (''Folha de S. Paulo'', 17.mar.2014)

 

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Preso na manhã de 29 de setembro de 1969, o cidadão brasileiro Virgílio Gomes da Silva deu entrada no Instituto Médico-Legal no dia seguinte, na condição de morto. Os legistas Roberto A. Magalhães e Paulo A. de Queiroz Rocha descreveram suas lesões.

Eis a síntese do laudo necroscópico, que eu descobri esquecido no Arquivo Público do Estado de São Paulo e conforme narrei em livro: ''Hematomas, escoriações e equimoses escureceram rosto, braços, mãos, joelhos, tórax, abdome, o corpo inteiro. As depressões nos pulsos, típicas de dependurados no pau de arara mediram um centímetro. O 'hematoma intenso' na 'polpa escrotal' era compatível com eletrochoques no órgão. Com bicos de calçados, tora de madeira ou pedaço de ferro, fraturaram três costelas. Na parte superior do crânio, produziram um 'hematoma intenso e extenso'. Em toda a superfície do encéfalo, um 'hematoma irregularmente distribuído'. Fraturaram e afundaram o osso frontal, do crânio. A autópsia concluiu que Virgílio 'veio a falecer em consequência de traumatismo cranioencefálico (fratura do crânio)', provocado por 'instrumento contundente'. Uma fotografia mostrou o lado esquerdo da cabeça mais afundado que o direito''.

Os legistas eram insuspeitos de veleidades oposicionistas. No quesito 4 do laudo, ousaram afirmar que o óbito não fora causado por ''tortura'' ou ''outro meio insidioso e cruel''.

Virgílio era guerrilheiro, militante da Ação Libertadora Nacional, maior organização armada de combate à ditadura instaurada em 1964. Desde a detenção da véspera estava sob custódia do Estado, na rua Tutoia, onde funcionava a Operação Bandeirante, repartição repressiva controlada pelo Exército e criada semanas antes. Houve testemunhas de seu calvário na tortura. O preso nascera no sertão do Rio Grande do Norte, estudara até a quarta série primária e tinha 36 anos. Até hoje é um ''desaparecido político''.

Corte para março de 2014, quando se prepara uma nova manifestação evocando a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, concentração contra o presidente João Goulart ocorrida em 19 de março de 1964 _50 anos nesta quarta-feira.

Na reportagem ''Grupo organiza nova edição de passeata anticomunista de 64'' (leia aqui),  pontificou Cristina Peviani, 51, identificada como um dos promotores da marcha requentada. Uma passagem da matéria:

''Questionada sobre práticas como tortura e perseguição a opositores do regime militar, Peviani afirma não concordar com os métodos, mas deixa claro acreditar que o país vivia em guerra. 'Eu nem sei se eles adotaram isso [a tortura]. Porque o pessoal que diz que foi torturado está tão gordo, tão forte, tão bonito, né? Eu vi lá na comissão [da Verdade de São Paulo], que eles não tinham uma marquinha sequer. Mas, o seguinte: era uma guerra entre o bem e o mal. Os dois mataram. Eu tenho uma lista imensa de soldados mortos pelo comunistas.'''

Trocando em miúdos, a senhora Peviani rejeita o fato histórico de que a tortura foi política de Estado durante a ditadura, instrumento empregado contra milhares de pessoas. E  que provocou a morte de parcela expressiva dos mais de 400 opositores assassinados pelo regime que vigorou até 1985.

Não foram somente guerrilheiros os mortos na tortura. Numerosos militantes antiditadura que se opunham ao método da luta armada também foram assassinados. Do ponto de vista histórico e legal, inexiste diferença entre as vítimas: nem mesmo a legislação da ditadura autorizava sevícia, execução e desaparecimento forçado.

As provas de tortura _a estudante Dilma Rousseff foi um dos torturados_ são tamanhas que negar sua existência equivale a negar o Holocausto que tirou a vida de cerca de 6 milhões de judeus na Segunda Guerra.

As proporções são distintas, mas a essência da maldade é a mesma, na ditadura e no nazismo.

Embora sejam barulhentas, as viúvas da ditadura são ultraminoritárias.

Para defender o mal, empenham-se em ocultar a tortura.

Mais do que desonestidade intelectual, constitui aberração histórica e criminosa, como duvidar do genocídio de autoria do III Reich.

Abram alas para a nova marcha da família, abram alas porque, como apregoou certa feita um personagem histórico, a Idade Média vai passar.


Ditadura esquadrinhou patrimônio de Brizola e concluiu: ele era honesto
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Mário Magalhães

Leonel de Moura Brizola – Foto reprodução blog do Memorial do RS

 

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De 18 de fevereiro de 1970 a 22 de abril de 1971, no decorrer de 429 dias, uma comissão criada pela ditadura esquadrinhou exaustivamente o patrimônio do então exilado Leonel de Moura Brizola (1922-2004). Com declarações de Imposto de Renda, extratos de contas bancárias e registros de imóveis urbanos e rurais à mão, a subcomissão gaúcha da Comissão Geral de Investigação (CGI) concluiu que os bens do ex-governador do Rio Grande do Sul eram compatíveis com sua renda. A investigação foi arquivada e, implicitamente, a ditadura chancelou a honestidade de um dos seus mais figadais inimigos.

Em 1964, o ex-governador Brizola era deputado federal pelo governista Partido Trabalhista Brasileiro, mesma agremiação de João Goulart, seu cunhado. Como o presidente, Brizola foi cassado pela ditadura (1964-85) nascida com o golpe de 1º de abril. Ele insistiu na resistência aos golpistas, mas não convenceu Jango. Ficaria no estrangeiro até a anistia, em 1979. Em 1982, elegeu-se governador do Rio de Janeiro, Estado que voltaria a administrar ao triunfar no pleito de 1990.

A apuração sobre o patrimônio de Brizola consta de um processo de 18 páginas, hoje sob guarda do Arquivo Nacional. A revelação histórica é de autoria do repórter Guilherme Amado, no jornal ''O Globo''. O fac-símile integral da documentação pode ser lido clicando aqui.

Assinada por um tenente-coronel (provavelmente do Exército; a reprodução não permite ler claramente o nome), a resolução 045/70, de 18 de fevereiro de 1970, decidiu ''instaurar, ex-ofício, investigação sumária para apuração de enriquecimento ilícito correspondente'' a Leonel Brizola e outros cidadãos.

O relatório de 22 de abril de 1971 trouxe o parecer sustentando que ''os ganhos do indiciado poderiam, em princípio, dar os frutos emergentes''.

Em palavras de gente: os salários de Brizola lhe permitiriam ter acumulado uma casa em Porto Alegre (comprada em 1953), uma fazenda em Viamão (em 58), os saldos nas contas bancárias e outros eventuais bens registrados em suas declarações de renda anuais de 1959 a 68 (só não encontraram a de 61).

O relatório não faz menção ao fato de que o patrimônio da família era imensamente maior, devido às propriedades de Neusa Goulart Brizola (1921-93), mulher do investigado e irmã de Jango. A família Goulart, dona de estâncias, era rica.

O arquivamento foi ainda mais eloquente porque a CGI não fazia investigações ''sobre'' determinada pessoa. No caso dos opositores, fazia ''contra''. Depois de deixar o Brasil à força, Brizola montara desde o Uruguai iniciativas mal sucedidas de guerrilha contra a ditadura.

A CGI fora criada em 1968. Seu propósito, como recorda o Arquivo Nacional, era promover “investigações sumárias para o confisco de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública, da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, inclusive de empregos das respectivas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista”.

Uma das alegações dos golpistas de 1964 era o combate à corrupção. Poucos políticos foram tão odiados pela ditadura como Leonel Brizola. Conforme a CGI do próprio regime sacramentou, não se tratava de um corrupto.