Blog do Mario Magalhaes

Hoje é dia de o Barcelona provar que aprendeu a lição de Paris
Comentários Comente

Mário Magalhães

Resultado de imagem para uol 2017 neymar messi barcelona

Neymar, Messi e Suárez, o melhor ataque do mundo, em imagem de 2016 – Foto Manu Fernández/AP

 

Daqui a pouquinho, em Turim, qualquer resultado será normal no confronto entre Juventus e Barcelona. Desde que nenhum dos contendores aplique um chocolate no outro.

Para os visitantes, um dos desafios será provar que aprendeu com a chapoletada de 4 a 0 que levou do PSG em fevereiro pela Champions. Deu a volta por cima no épico dos 6 a 1 no Camp Nou.

O fiasco de Paris ensinou que, entrando de salto alto contra times grandes, convida-se ao atropelamento.

No Campeonato Espanhol, o Barça tem dado mole para equipes menores, sem tirar lições dos reveses.

Hoje pode mostrar que entendeu que, contra os gigantes, é preciso jogar como gigante, o que implica ao menos não perder em voracidade de vencer.

O time italiano sofre poucos gols.

Mas o ataque do Barça tem o melhor jogador da última década, Messi.

O craque que ascende para ocupar o trono do argentino, Neymar.

E o melhor centroavante-centroavante do planeta, Suárez.

Não terá o suspenso Busquets, mas, se quiser, poderá substituí-lo com o melhor volante _ou melhor jogador_ da Copa de 2014, Mascherano.

E a Vecchia Signora? Há semanas não a vejo.

O que não impede de saber que, embora com elenco mais fraco, tem futebol para triunfar, sobretudo em casa.

(O blog está no Facebook e no Twitter )


Chuteiras: a cabeça do Neymar parece ainda não estar à altura dos pés
Comentários Comente

Mário Magalhães

Resultado de imagem para uol neymar expulso

Contra o Málaga, Neymar leva o 1º amarelo; depois, seria expulso – Foto reprodução UOL

 

Antes que algum idiota da objetividade advirta que a cabeça do Neymar só estará à altura dos pés quando ele estiver deitado, cabe enfatizar que o craque brasileiro supremo parece mesmo padecer mais de limitações em cima do que embaixo.

O amadurecimento do Neymar, 25, tem contribuído para sua ascensão rumo à condição de maior jogador do Barcelona e do mundo.

Pelo visto, contudo, o atacante ainda está um pouquinho verde.

Dias depois de repetir que o Messi o ensinou a ser mais tolerante com apitadores cretinos e a manter o foco no jogo, o Neymar vacilou.

Anteontem, levou um amarelo, depois outro, e acabou na rua.

Não foi o único responsável pela derrota desmoralizante do seu clube frente ao Málaga, porém contribuiu para o revés.

Quando o Barça precisou da sua estrela hoje em melhor forma, não contou com ela. Perdeu por 2 a 0, em partida na terra do Picasso.

Para piorar, o aplauso irônico e irresponsável para a arbitragem ao sair pode custar a presença do Neymar no clássico contra o Real Madrid. A decisão deve sair amanhã.

O segundo amarelo poderia ter sido evitado. Já sancionado na primeira etapa, o Neymar atropelou o Diego Llorente numa disputa secundária, na esquerda do ataque blaugrana.

O primeiro cartão reforçou especulações. O amarelo foi mostrado depois de o Neymar permanecer diante da bola numa cobrança de falta para o adversário. O juiz Gil Manzano escreveu que lhe pediu para se afastar, e o brasileiro não obedeceu. O que fazia o Neymar? Amarrava as chuteiras.

O diário ''Mundo Deportivo'' contabilizou: nas últimas semanas, foi a sexta vez que Neymar se abaixou para amarrar as chuteiras ou trocá-las.

De tão amiúde, o gesto provocou reações.

Em entrevista na sexta-feira, o técnico Luis Enrique deixou por menos.

O ''Mundo Deportivo'' publicou o que é talk of the town em Barcelona: ''Neymar não se pronunciou, mas cresce a sensação de que suas interrupções para cuidar das chuteiras se devem a uma questão comercial, para promover a empresa que o patrocina (Nike)''.

O jornal não é de Madrid, onde vigora aversão pelo time do Messi, mas sim da cidade catalã. É pró, e põe pró nisso, Futbol Club Barcelona.

Será o fim da picada se o Neymar tiver sido amarelado para aparecer, diante da bola parada, com suas chuteiras estilosas.

Mesmo que não tenha sido esse o motivo, foi irresponsabilidade dar dois moles para receber dois amarelos _e o vermelho. E ''aplaudir'' a expulsão.

Mais ainda sabendo que o Gil Manzano tem um histórico, ao menos recente, de favorecimentos ao Real Madrid.

No sábado, com razão, o Luis Enrique reclamou dos critérios distintos do apitador ao castigar o Neymar, enquanto as botinadas contra o brasileiro e o Messi eram toleradas quase sempre sem punição.

O Neymar vacilou, o Barcelona não jogou nada, idem o Messi, e o título espanhol ficou mais distante.

Amanhã tem Champions, com visita à Juventus, em Turim.

Se a cabeça estiver à altura dos pés, o Neymar tem tudo para repetir os desempenhos espetaculares deste ano.

Quando ele quer, consegue: a expulsão em Málaga foi sua primeira na equipe catalã.

Nunca o Barcelona dependeu tanto dele.

(O blog está no Facebook e no Twitter )


Pezão, fora da casinha: ‘Sérgio [Cabral] foi um grande defensor do Rio’
Comentários Comente

Mário Magalhães

Resultado de imagem para uol pezão e sergio cabral

Pezão e Cabral, quando este não morava em Bangu – Foto Luiz Roberto Lima/Futura Press

 

Depois de depor ontem à Justiça em processo em que o ex-governador Sérgio Cabral é acusado de corrupção, seu sucessor deu uma entrevista em que falou mais do que nos autos.

Evocando negociações de partilha de royalties do petróleo, Luiz Fernando Pezão sentenciou: ''O Sérgio foi um grande defensor do Rio. Brigou muito com a Petrobras''.

O que a história vai evidenciando é que Cabral não brigou com a Petrobras. Se os procuradores da República estiverem corretos, em torno de negócios da empresa petroleira o antecessor de Pezão foi grande defensor do próprio bolso, privado, e não dos cofres públicos, do Estado.

Pezão reafirmou seu sentimento por Cabral: ''Sempre gostei muito do Sérgio e sempre fomos muito amigos''.

Ao sustentar que o presidiário Sérgio Cabral em algum instante defendeu o Rio, Pezão parece fora da casinha.

Talvez a declaração seja consequência de medo.

Do quê?

É possível que a história ainda venha a esclarecer.

(O blog está no Facebook e no Twitter )


Ação contra cartolagem da CBDA é motivo para comemoração, não de lamento
Comentários Comente

Mário Magalhães

Resultado de imagem para folhapress coaracy nunes cai na piscina

Coaracy Nunes Filho, ex-presidente da CBDA: em cana – Foto Patricia Stavis/Folhapress

 

A prisão de Coaracy Nunes Filho provocou reações estarrecedoras de alguns nadadores e técnicos brasileiros.

Eles trataram como má ou constrangedora a notícia da ação da Polícia Federal contra alegadas falcatruas na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos.

Além do famigerado Coaracy, ex-presidente da entidade, outros três dirigentes foram em cana.

Golpe no esporte não é a investigação do que se suspeita ser desvio de dinheiro público.

E sim o que a apuração aponta como bandalheira na confederação comandada por quase três décadas pelo cartola renitente.

O que queima a imagem do esporte não é a busca por transparência de gestão e pela punição de quem comete crime.

Mas a permanência de esquemas em que recursos dos cidadãos não são empregados integralmente no esporte, pois trombadinhas os embolsam.

Se é isso o que ocorre de fato na CBDA é a Justiça quem dirá.

Mas a aversão às luzes, preferindo as patifarias das sombras, não ajuda o esporte.

Foi curioso assistir a numerosos jornalistas avacalhando atletas por não saudarem a ação policial.

Porque poucos figurões dos esportes olímpicos foram tão bajulados pelo jornalismo quanto Coaracy Nunes.

O jeito bonachão conquistava fácil quem preferia a adulação cotidiana a fiscalizar a entidade que recebe dezenas de milhões dos contribuintes.

O jornalismo em geral não tem do que falar dos nadadores. Até fanfarronice de Coaracy, como mergulho em piscina, foi aclamada como típica da dita irreverência do vivaldino.

Nomes? A questão é de valores, comportamento, ideias.

A prova de que não se pode generalizar as observações acima são vozes de indignação e decência no mundo esportivo, como a de Joanna Maranhão.

E de espírito crítico no jornalismo esportivo, como as de Juca Kfouri e Lúcio de Castro.

Faltam mais Joannas, Jucas e Lúcios no esporte e no jornalismo brasileiros.

(O blog está no Facebook e no Twitter )


Uma noite para a eternidade: ‘Não esperem o avião cair pra dizer eu te amo’
Comentários Comente

Mário Magalhães

Resultado de imagem para folhapress chapecoense 2 x 1 atletico

Bandeiras do Atlético Nacional e da Chapecoense, antes do jogo – Foto Nelson Almeida/AFP

 

Jogando agrupadinha como os dedos da mão de um pão-duro, a Chapecoense venceu com méritos o Atlético Nacional, 2 a 1 na Arena Condá. Passou a ter vantagem no jogo da volta, em Medellín, na Recopa Sul-Americana. O time colombiano é mais técnico, apesar da saída de bons jogadores. O catarinense, ainda em formação, mostrou-se muito arrumado. A decisão de maio promete.

O placar foi o de menos no encontro entre os contendores que deveriam ter se enfrentado no finzinho de novembro, nas finais da Copa Sul-Americana. Como todo mundo sabe, o avião da Chape caiu, 71 passageiros e tripulantes morreram, e não houve jogo. Num dos gestos mais generosos da história do esporte, o Atlético concedeu à Chapecoense o título não disputado em campo.

Dizem que o povo tem memória curta, mas tal clichê não vinga no oeste de Santa Catarina. A torcida verde-branca soube retribuir a grandeza dos colombianos na hora mais triste. A faixa ''Muchas gracias, hermanos'', desfraldada na arquibancada, poderia ser protocolar. Assim como a entrada dos jogadores, intercalados, e não divididos por equipe. Mas não foi mera formalidade aplaudir o técnico visitante, Reinaldo Rueda, quando ele atravessava o gramado. Nem vaiar um princípio de confusão na partida batalhada à vera, a despeito da cerimônia fraternal. Muito menos aplaudir o belíssimo gol de Macnelly Torres para o Atlético.

Abençoadas pela lua crescente, quase 20 mil pessoas testemunharam ao vivo o que milhões assistiram pela TV e continuam vendo na internet: as lições de quatro sobreviventes do desastre.

Um deles, o zagueiro Neto, antes de a bola rolar marcou o gol mais emocionante da noite eterna de Chapecó. O gol, não, os gols:

''Não esperem o avião cair pra dizer eu te amo pra alguém'', ele pregou ao microfone.

Emendou: ''Não esperem o avião cair pra pedir perdão''.

Prosseguiu: ''Não esperem o avião cair pra dar um abraço''.

E selou a goleada: ''Não esperem o avião cair pra dar um beijo''.

É isso aí: enquanto Freud explica, o futebol dá o toque.

(O blog está no Facebook e no Twitter )


O furor homicida contra a Uerj
Comentários Comente

Mário Magalhães

A Uerj fechada, em imagem de 2015; em 2017, ainda não houve aula – Foto Tânia Rêgo/Agência Brasil

 

Enquanto o TSE decide destinos e enrola em Brasília, um patrimônio da educação brasileira é castigado no Rio.

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro vai sendo esquecida. Abandonada, não teve nem condições de começar as aulas em 2017.

O esquema cleptomaníaco que assaltou os cofres estaduais sacrificou a Uerj. Dois motivos essenciais o moveram.

O primeiro, indisfarçável, é o desprezo pela transmissão e pela produção de conhecimento. O dinheiro público escorreu em valetas pútridas como as que transferiram recursos para empresas por meio de desonerações fiscais marotas. Ou esfumou-se na roubalheira quimicamente pura, simbolizada pelas obras do gigante fincado ao lado da Uerj, o Maracanã.

O segundo é o ressentimento contra um ambiente que desde sempre representa pedras nos sapatos de couro italiano do poder. Governo atrás de governo, a comunidade da Uerj peitou o descaso com a universidade. Atribui-se a um dos maiores educadores brasileiros, Darcy Ribeiro, a frase ''a Uerj é a minha vergonha''. Nas administrações Leonel Brizola, Darcy conduziu a criação dos CIEPs e da Universidade Estadual do Norte Fluminense. Não conseguiu cuidar da Uerj, e foi cobrado por isso. Se com o grande Darcy foi assim, imagine com um Gato Angorá, um Anthony Garotinho, um Sérgio Cabral, um Luiz Fernando Pezão. Governadores daqui costumam ter aversão à Uerj.

Outro dia Pezão ameaçou cortar parte do salário dos professores da Uerj. O governador é tonto ou sádico. Desde o ano passado os salários atrasam. Na prática, o corte já existe. Os docentes não estão ausentes das classes porque querem, mas porque não podem. Nem segurança o Estado fornece. Os elevadores carecem de manutenção. Tocar o período letivo nessas circunstâncias seria expor milhares de pessoas ao perigo óbvio. As verbas são suprimidas com voracidade. Se o objetivo de Pezão não for sufocar a Uerj, será uma surpresa.

Para a sobrevivência da universidade, grassa uma ilusão no Palácio Guanabara e até no campus vizinho ao estádio: a federalização. Ela seria tão surpreendente quanto o Vasco vencer o Campeonato Brasileiro deste ano. O Ministério da Educação também sangra o ensino superior e a pesquisa. Se Michel Temer assumisse a Uerj, no mesmo dia se formaria uma fila de governadores implorando para passar adiante o que para eles é despesa, e não investimento _as universidades estaduais.

A Uerj é um dos centros de excelência da educação nacional. Cursos como os de letras, medicina e muitos outros são top. Somente nos últimos anos três ministros do STF foram professores de direito ali. O pioneirismo no sistema de cotas ainda incomoda muita gente.

Uma das opções sonhadas pelo governo é o pagamento de mensalidades. Ora, a Uerj já é paga, e muito bem, com recursos dos cidadãos que honram seus tributos.

A impressão é que o governo do Estado quer matar a Uerj. Ou ao menos feri-la gravemente.

Os diretores de unidades reiteraram ontem a disposição de retorno das aulas na segunda-feira, dia 10.

Para que isso ocorra, o governo precisa assegurar as condições que permitam sair do caos, mesmo com a persistência da precariedade criminosa.

(O blog está no Facebook e no Twitter )


As preocupações que tiram o sono do Flamengo
Comentários Comente

Mário Magalhães

O Flamengo jogou mal e errou demais; contra os reservas do Fluminense, chegou ao empate no fim

 

Antes que alguém diga que o Flamengo não perde o sono com fantasmas, eu me adianto a responder: pois deveria.

Muitos rubro-negros perdem, eu entre eles.

O empate ontem em 1 a 1 com os reservas do Fluminense não é grave, a considerar o Campeonato Estadual, onde a vaga na reta derradeira está assegurada.

É gravíssimo, contudo, pelas preocupações que surgiram ou se renovaram.

Jogamos com seis ou, incluindo o Márcio Araújo, sete dos titulares que deverão ir a campo pela Libertadores na semana que vem.

O que interessa, no final das contas, é a Libertadores. Ao menos para quem pensa grande. Disputa-se com disposição o Cariocão (o Carioca mais equipes do Grande Rio e do interior), mas este é secundário.

Se der mole para o Atlético-PR, o rubro-negro visitante não perdoará.

O Flamengo jogou duas vezes na Libertadores deste ano. Nas duas, muito bem. Mas fora de casa desperdiçou tantas chances que perdeu. Se a fase de grupos terminasse hoje, estaria eliminado. É o terceiro colocado no grupo 4. Classificam-se duas equipes para as oitavas.

O time tem elenco capaz de ir adiante e lutar pelo título.

Só que precisa evoluir, sobretudo tecnicamente. Foi o que evidenciou a partida do domingo.

O Muralha mantém a dificuldade de sair do gol.

Acho que de fato o Pará não viu o adversário se aproximando, mas não pode executar movimentos de arte marcial como o que lhe custou a expulsão.

O Rafael Vaz pode ter alguma qualidade, vai que faz um gol decisivo, no entanto carece das características adequadas a uma equipe disposta a cultivar a bola no pé. Para ter posse, recomenda-se contar com quem saiba passar. O Vaz errou demais ontem, como já vinha errando. Ele multiplica o risco.

O Márcio Araújo é caso complexo. O Rômulo tem mais técnica do que ele. Não a mesma garra. Discordo de quem considera o Márcio Araújo um volante obtuso. É medíocre, mediano. Ontem ele se perdeu num passe tolo que poderia ter custado caro. Sua disposição honra a camisa. Não é, contudo, o meia defensivo para o estilo de jogo que o Zé Ricardo defende. Porém, prefiro um jogador mais ou menos que dá o sangue a um melhorzinho que não se empenha tanto. Que tal uma injeção de sangue no Rômulo?

Os três atacantes que enfrentaram o Fluminense são banco. O mais badalado é o Berrío. Carismático, arranca aplausos da torcida. O que não apaga a triste evidência de que ele e a bola não têm intimidade um com o outro. O que lhe sobra de velocidade falta em habilidade. Tomara que, num lance de sorte, acerte.

O elenco permite avançar na Libertadores, mas não é a maravilha com que alguns se iludem.

Chegando ao mata-mata, o Flamengo tem tudo para crescer.

Numa orquestra, se um violinista erra, compromete o conjunto.

No futebol também é assim. O time pode estar redondo, mas fracassar por erros individuais (os gols perdidos em Santiago são exemplo).

É hora de afinar a equipe, em busca de um sono mais tranquilo.

(O blog está no Facebook e no Twitter )


Mortandade sem fim: a indiferença contribui para a permanência da barbárie
Comentários Comente

Mário Magalhães

Rosilene, 52, chora a morte da filha Maria Eduarda, 13 – Foto reprodução UOL

 

A menina Maria Eduarda Alves da Conceição foi morta por balas disparadas por um policial militar (ou por um traficante de drogas). Ela tinha 13 anos. Na zona norte do Rio, estava dentro da escola municipal cujo nome reverencia um jornalista que partiu cedo, Daniel Piza. Maria Eduarda morava na comunidade da Pedreira. Jogava basquete. Participava da aula de educação física quando a balearam. Colecionava sonhos interrompidos por tiros de PM, de acordo com sua mãe, Rosilene Alves.

A origem dos projéteis que mataram Maria Eduarda deve ser esclarecida pela perícia. Ao menos é o que se espera.

Há uma constatação que prescinde de peritos e não é nova: mais uma vez, policiais dispararam contra traficantes em situação que expôs pessoas estranhas ao confronto. Mais grave, quando existia a possibilidade de alvejar crianças e adolescentes.

São muitos os casos em que não é indispensável, para escapar ao ataque, atirar. Ainda assim, numerosos PMs atiram. Por quê?

A história de Maria Eduarda é mais uma. Já foram muitíssimas. Virão outras.

Essa crônica da barbárie persistirá enquanto não se superar a indiferença.

Indiferença não é apenas permanecer insensível ao assistir (ou ler) a uma reportagem sobre morte violenta de crianças.

Quase todo mundo se emociona, com exceção de quem já congelou o coração.

Indiferença é também deixar para lá, não cobrar, não dizer chega, empurrar com a barriga, enquanto a tragédia não alcança sua casa, sua família, seu bairro.

Enquanto a indiferença continuar, as mortes de Marias Eduardas se multiplicarão.

Se Maria Eduarda vivesse num bairro de classe média para cima, a grita seria muito maior. Alguém duvida?

P.S.: fuzilar ferido imóvel é homicídio puro e simples; coisa de bandido, seja o autor dos disparos traficante, policial, banqueiro ou vendedor de picolé.

(O blog está no Facebook e no Twitter )


Propaganda aposta em Temer solitário e, sem querer, retrata impopularidade
Comentários Comente

Mário Magalhães

Temer, sozinho no Palácio do Planalto, em imagem do programa do PMDB exibido em 30 de março

 

Março fechou com três imagens marcantes de Michel Temer.

A primeira, na Paraíba, diante de trecho da obra de transposição do rio São Francisco.

Em seguida, trajando terno, sentado no sofá em frente à TV, assistindo à seleção bater o Paraguai pelas Eliminatórias da Copa.

Na última, no Palácio do Planalto, olhando o horizonte.

O que têm em comum as três imagens?

Em todas o peemedebista estava sozinho.

As três foram produzidas e difundidas por partidários seus. As duas iniciais, pela assessoria da Presidência. A terceira é de programa do PMDB exibido na TV.

Por mais trapalhão que Temer seja, é difícil entender o que pretende com os retratos em que aparece solitário.

Nas fotografias na Paraíba e no Planalto, aparentemente buscaram o clichê marqueteiro do homem que vê longe, pensa adiante, de olho no futuro.

No futebol, nem isso. A curiosidade foi saber se Temer é tão desagradável assim para que ninguém se disponha a lhe fazer companhia numa grande noite esportiva.

Seria maldade culpar a publicidade malograda pela rejeição popular ao ex-vice. Em março houve uma overdose de anúncios, beirando a lavagem cerebral. O governo federal, que proclama austeridade, gastou como se o dinheiro sobrasse. Ao mesmo tempo, o PMDB ocupou seus horários ditos gratuitos na televisão.

É verdade que o slogan ''O Brasil de Temer'' soaria estranho até em ditaduras. Na do Estado Novo (1937-1945), o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) não trombeteava ''O Brasil de Getulio Vargas''. Na dos presidentes marechais e generais (1964-1985), ousaram ''Brasil: ame-o ou deixe-o'', mas não ''O Brasil de Figueiredo'' ou ''O Brasil de Costa e Silva''.

A despeito do lema autoritário, vulgar e risível, não é por causa dele que a maioria dos brasileiros se opõe a Temer.

E sim por sua determinação de cobrar dos mais pobres os maiores sacrifícios para deixar a crise para trás. Além da disposição de exterminar o patrimônio nacional. Seja vendendo o pré-sal ou uma empresa lucrativa como a Cedae do Rio de Janeiro (a privatização dessa companhia é imposição de Brasília).

No dia seguinte ao programa do partido de Temer, Renan, Jucá, Moreira, Cunha e outros, saiu uma pesquisa Ibope.

Encomendado pela Confederação Nacional da Indústria, o levantamento informa que meros 10% dos cidadãos aprovam o presidente (soma das avaliações ótimo e bom). O índice de ruim e péssimo alcança 55% (no Sudeste, 52%; no Nordeste, 67%).

Temer perde feio na comparação com Dilma Rousseff, apesar do segundo mandato desastroso da presidente deposta: enquanto 18% consideram seu governo melhor que o da petista, 41% julgam ser pior. E olha que o noticiário costuma ser simpático com o missivista.

Para ler a íntegra da pesquisa, basta clicar aqui.

Seja qual for o propósito da estética da solidão na propaganda de Temer, ela tem um efeito que o presidente não quer: retrata seu isolamento e sua impopularidade.

Nessas circunstâncias se chega a abril, o mês do início do julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral.

(O blog está no Facebook e no Twitter )


Os cúmplices de Picciani
Comentários Comente

Mário Magalhães

Resultado de imagem para uol jorge picciani

Jorge Picciani chega à PF para depor – Foto Estefan Radovicz/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

 

Se alguém disser que se surpreendeu, merece um diploma de hipócrita rematado: poucas coisas eram tão previsíveis no Rio como um chega pra lá do Ministério Público Federal e da Polícia Federal em Jorge Picciani. O presidente da Assembleia Legislativa foi levado ontem para depor num inquérito que investiga roubalheira com a participação também de integrantes do Tribunal de Contas do Estado. Dos sete conselheiros, cinco foram em cana. Um sexto os entregou em troca de redução de castigo. Resta um _no caso, uma.

O capo dos esquemas de ladroagem nos últimos anos, o ex-governador Sérgio Cabral, passa temporada em Bangu. A era Cabral no poder foi incensada e bajulada, inclusive pelo jornalismo, como poucas na história carioca e fluminense. Deixou, vai deixando, agora com Luiz Fernando Pezão, um rastro de decadência e ruína. Picciani, Cabral e Pezão pertencem ao PMDB. É o mesmo partido de Michel Temer, Romero Jucá, Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Portanto, adjetivos são dispensáveis.

O noticiário já havia informado sobre delação de executivo da Odebrecht contando que Picciani pedira e embolsara propina. Isso na operação Lava Jato. A de ontem é outra. Batizaram-na ''O quinto do ouro''.

O deputado é suspeito de agir numa tramoia de desvio para o pessoal do TCE de ''15% dos valores liberados pelo Fundo de Modernização do tribunal para pagamentos de faturas vencidas de fornecedores de alimentação para presos e adolescentes submetidos a medidas de internação''. Organizaria agrados ilegais da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado. Em troca de dinheiro sujo da Fetranspor aos conselheiros, a fiscalização nas empresas seria fajuta.

O presidente da Alerj é pai de Leonardo Picciani, ministro do Esporte no governo Temer. O ministro não representa a própria força política, mas a influência do pai. Em 2014, Jorge Picciani não fez campanha para a chapa Dilma-Temer. Liderou no Rio um movimento pró-Aécio Neves, derrotado no Estado. Logo se aproximou de Dilma, para em seguida aderir ao impeachment. Na véspera da condução coercitiva de ontem, o patriarca dos Picciani esteve em Brasília com Temer, tratando da crise estadual.

O vínculo de Jorge Picciani com o presidente da República, mais bandeiroso ainda pela indicação de um ministro, é evidente. Mas essa tabelinha não é a única. Há outros parceiros na articulação que mantém o deputado como chefão. Dela participam igualmente PT e PSDB. O caso dos petistas é mais intrigante: deblateram-se em Brasília contra a administração Temer, mas no Rio dão suporte a Picciani. No passado recente haviam integrado os governos Cabral e Paes. Depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff, trombetearam ruptura com os peemedebistas. Com o notável Picciani, não romperam.

No começo de fevereiro, o deputado foi eleito pela sexta vez presidente da Assembleia. Dos 70 votos, colheu 64. Só se recusaram a lhe conceder apoio cinco deputados do PSOL e um da Rede. PT, PSDB, PSC, PRB, PC do B, PTB, DEM, PP e outros sufragaram Picciani. Até pessoas de trajetória digna, como o deputado Carlos Minc (sem partido), ficaram com o prócer peemedebista. Alguns alegaram que não votaram em Picciani, mas na chapa encabeçada por ele. Fala sério… Picciani uniu de Flávio Bolsonaro ao petista Gilberto Palmares. Qual será o borogodó desse homem?

Está claro que o presidente da Alerj é investigado, e não condenado ou formalmente acusado. É óbvio também que os deputados conhecem de perto seu colega mais poderoso. Aparentemente, julgam que a chancela a Picciani não contradiz pregação por democracia, honestidade e justiça social. Cada um na sua.

Jorge Picciani não chegou aonde chegou à toa. Uma das definições do ''Houaiss'' para a palavra ''cúmplice'' é pessoa que ''colabora com outrem na realização de alguma coisa''. Picciani teve e tem cúmplices, do Planalto à Assembleia Legislativa. Cúmplices que colaboram para lhe assegurar muito poder.

(O blog está no Facebook e no Twitter )