Como a vida, o futebol não vale sem esperança e utopia. Visca el Barça!
Mário Magalhães
Uma adolescente e um cinquentão falavam outro dia do furor obscurantista que maltrata esta e outras bandas. Evocaram um filme recente que embeveceu os dois. Cantarolaram ''City of stars, are you shining just for me?…''. O coroa sorriu e lhe estendeu as mãos:
''O que salva é isso, afeto e arte''.
A garota emendou de bate-pronto:
''E futebol''.
Que não é metáfora da vida. É vida.
E, como a vida, não vale sem esperança e utopia.
Virar contra o Paris Saint-Germain era a utopia do Barcelona.
Utopias podem nem existir. Mas buscá-las é boa razão de viver.
Vencendo por 3 a 1 até os 41 minutos e 45 segundos do segundo tempo, o Barça precisava de mais três gols.
Utópico, não?
Naquele instante o Neymar anotou o quarto, de falta.
Logo ampliou, de pênalti: 5 a 1.
Com cinco minutos de acréscimo, o jogo terminaria aos 50.
Pois aos 49 minutos e 39 segundos o Sergi Roberto deixou o dele, classificando os blaugranas.
Há muita coisa a conversar sobre as mudanças táticas (outro desenho do time), técnicas (desempenhos individuais muito acima dos exibidos em Paris) e espirituais (da contemplação passiva à determinação guerreira).
Mas a principal lição vai além do futebol. Vai para a vida.
Quando menosprezam isso ou aquilo como utopia, talvez estejam certos. Mas talvez não estejam.
Se alguém previsse que dos 40 aos 50 minutos da etapa derradeira o PSG só trocaria quatro passes certos, só um maluco levaria fé.
E foi o que aconteceu.
Dar a volta por cima depois de ser humilhado com um chocolate de 4 a 0, impossível…
Por quê? Porque jamais uma equipe havia alcançado tal façanha na Champions.
Ainda mais o Barcelona, distante dos seus anos de esplendor (está, de fato, distante).
Em vez de desesperança, o time se conjurou na esperança.
Alimentou a utopia.
Porque, sem utopia, de que vale o futebol, de que vale a vida?
O que seria da vida sem afeto, arte e futebol?