Blog do Mario Magalhaes

Trump, o desafio aos espiões e a lição do governo Collor

Mário Magalhães

Fernando Collor, ainda presidente, em 1992 – Foto Lula Marques/Folhapress

Fernando Collor, ainda presidente, em 1992 – Foto Lula Marques/Folhapress

 

Os territórios e as circunstâncias são diferentes, mas há alguma semelhança entre o que acontece hoje nos Estados Unidos e o Brasil da virada da década de 1980 para a de 1990.

Desde a campanha o presidente eleito Donald Trump vem espinafrando as agências de informações do seu país.

Criticou-as pela conclusão de que a correspondência eletrônica do comitê de Hillary Clinton havia sido raqueada pela Rússia _anteontem voltou atrás e admitiu que tal espionagem ocorreu.

Malhou-as por terem avisado Barack Obama e o próprio Trump sobre um dossiê focado no presidente eleito.

Trump as enxovalha e, querendo ou não, provoca-as.

Voltemos no tempo, e ao Brasil.

Antes de vencer a eleição presidencial de 1989, Fernando Collor de Mello tentou conversar com o ministro-chefe do Serviço Nacional de Informações, Ivan de Souza Mendes. O general recusou-se a recebê-lo.

Collor queria tratar de documentos do SNI que haviam aparecido na imprensa e nos quais o ainda governador de Alagoas era descrito em termos pejorativos.

Humilhado, não deixou por menos: em seu primeiro dia no Planalto, março de 1990, acabou com o SNI.

O monstrengo criado pela ditadura em 1964 chegava ao fim com uma canetada, embora a estrutura e os conceitos que o embalaram por décadas permanecessem.

Sobreviveu, sobretudo, o pessoal, agora lotado no sucessor do ''serviço'': o Departamento de Inteligência da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Seu propósito, ao menos no papel, seria coletar e analisar informações.

A extinção do SNI prejudicou os interesses de muitos dos seus servidores, em particular militares.

Funcionários ou não do Departamento de Inteligência, eles foram a campo por conta própria para ''coletar'' um tipo específico de informações, as daninhas ao governo Collor. Com o olhar mais atento para falcatruas.

Arapongas foram fontes sigilosas importantes de jornalistas até a agonia de Collor e, em dezembro de 1992, seu justo impeachment.

Eles se vingavam do presidente que os atacou. A importância desses agentes no desfecho da administração Collor está por ser contada plenamente.

Do ponto de vista legal, o controle sobre as agências de informações e inteligência são muito mais severos nos EUA do que no Brasil.

Mas CIA, NSA e outras siglas têm vasto histórico de burla às leis.

Trump pode ter problemas se os espiões, provocados e desafiados, resolverem ir à forra.

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