Blog do Mario Magalhaes

Sabáticas: Filme de verão

Mário Magalhães

O cartaz, com Cláudia Magno e André de Biase – Reprodução clicRBS

O cartaz, com Cláudia Magno e André de Biase – Reprodução clicRBS

 

O filme tem o tempo de uma ou duas gerações: o carro da mocinha era um Fiat 147, aquele de câmbio duro, tinindo de novo; o pessoal entornava em canecas os garrafões do vinho deplorável que agora não produzem mais; assoviava-se Mania de Você, sucesso da Rita Lee lançado dois anos antes; bombava o rock’n’roll Perdidos na Selva, com o grupo Gang 90 e as Absurdettes.

Não seria surpresa se Menino do Rio, revisto hoje, se cobrisse do pó da velha época e se ressentisse do mofo das coisas antigas. Qual nada, como confirmei ao rever a obra de 1981. Dirigido por Antônio Calmon, o filme mantém o frescor.

Cativante, oferece a ilusão de que a ampulheta congelou e os cabelos do André de Biase, intérprete do protagonista Valente, não escassearam. E de que a Cláudia Magno, que vive Patrícia, paixão de Valente, não morreu em 1994, aos 35 anos.

Para quem no começo da década de 80 estivesse em missão à Lua ou tenha desembarcado mais tarde na Terra, eu lembro: Menino do Rio conta a história de amigos surfistas. Levou para o cinema pranchas, camisas floridas, água de coco, asa-delta e suco de mamão com cenoura. Ao assisti-lo, permanecem ainda hoje o gosto de sal na pele e o cheiro da maresia carioca.

Menino do Rio se tornou tão popular que o meu amigo Elmo, loiro e cabeludo como o Valente, passou a ser chamado pelo nome do personagem. Despretensioso feito tantos clássicos, eternizou-se como um deles. Um diálogo expressa a ingenuidade típica de filmes de verão, embora nesse roteiro a estação fosse permanente: “Não me chame de chuchu que eu não sou legume”.

Como todo clássico, Menino do Rio deixou heranças nos corações e na cultura, perenes como tatuagem de dragão no braço _entre elas, a canção-hino de juventude De Repente, Califórnia, parceria do Lulu Santos com o Nelson Motta (“Garota, eu vou pra Califórnia, viver a vida sobre as ondas…”).

Se no cinema americano nunca houve uma mulher como Gilda, as telas brasileiras talvez jamais tenham exibido atriz tão bonita quanto a Cláudia Magno.

O título do filme foi inspirado pela música homônima do Caetano Veloso, que homenageia um surfista de carne e osso, o Petit. Anos depois, o André de Biase brilharia no seriado televisivo Armação Ilimitada. Mas aí já é outra grande história.

(Publicado originalmente na revista Azul Magazine, fevereiro de 2014)

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