Blog do Mario Magalhaes

Cacete de meio

Mário Magalhães

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Pão francês ou, para os gaúchos, cacetinho – Foto Eduardo Knapp/Folhapress

 

Um monte de marmanjos desembarcou do avião, pegou as malas e caminhou para os micro-ônibus no aeroporto da cidade equatoriana de Cuenca. Iríamos para o hotel, às vésperas da estreia da seleção na Copa América de 1993. O jornalismo esportivo era um mundo ainda mais masculino do que hoje. Um repórter não entendeu a orientação e indagou pelo transporte. É só entrar na buseta, esclareceram.

Daí em diante, foram semanas de trocadilhos com o tamanho, a temperatura e o conforto do veículo cujo nome em castelhano se pronuncia com o som de cê no lugar de esse. Cada um mais infame que o outro. Como numa turma de colegiais em excursão.

Esse tipo de brincadeira ocorre _ou ocorria_ em viagens a outros países. Nos Estados Unidos, pergunta-se pelo dia de pagamento (payday) como quem confessa um pum. Na Alemanha, elogia-se o vigor da vaca (kuh). Na França, tentando conter o riso, anuncia-se a partida para um encontro (rendez-vous, que se fala “randevu”) e se louva o formoso pescoço (cou, com ó mudo) da Mona Lisa.

Para muita gente, são besteirolas insossas, pueris e preconceituosas. Mas que divertem alguns. Como brasileiros em Portugal, onde se pode chamar um garoto de puto sem contrariá-lo (pois a palavra significa garoto), camisa de jogador de futebol é camisola, e punheta de bacalhau dá água na boca.

Constrangedor é tropeçar na ignorância. Como a minha, quase três décadas atrás, mal chegado a Lisboa. Pedi um durex no escritório, e a Adelina me olhou com uma cara estranha. Insisti, e ela olhou com a cara muito mais estranha. Até que uma colega me socorreu: durex em Portugal é marca de camisinha.

Pior foi a moça que nos anos 1960 trocou a região da campanha do Rio Grande do Sul pelo posto 6 de Copacabana. Ela chegou à padaria carioca, abriu um sorriso e encheu a boca: “Um cacete de meio, por favor!”

O cabra no balcão se assombrou, e a (no futuro) minha mãe repetiu com gosto, enfatizando o “de meio”. Perante o homem atônito, a gaúcha apontou para uma bisnaga, que na terra dela atendia pela alcunha de cacete de meio (quilo).

A mãe aprendeu a lição e nunca pediu no Rio pães franceses nos termos em que se acostumara: cacetinhos.

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