Sabáticas: A tal da felicidade (um 2017 pleno de momentos felizes!)
Mário Magalhães
Três por quatro da alma, a música retrata uma angústia candente, a busca da felicidade. Desbravar o labirinto que desemboca nesse sentimento supremo às vezes parece impossível. Quando se descobre o atalho, logo o destino escapole por novos caminhos.
“Tristeza não tem fim, felicidade sim”, compôs Vinicius de Moraes, com Tom Jobim. Chico Buarque, em parceria com Francis Hime, polvilhou ceticismo: “Jura que a felicidade/ É mais que uma vontade/ É mais que uma quimera”. Roberto e Erasmo sugeriram, sem convicção: “Não fique triste, o mundo é bom, a felicidade até existe”.
Existe, mas pressupõe perigo, advertiu a letra de Nando Reis em melodia de Samuel Rosa: “Ela não passa de um desejo inflamável”. Bem que Belchior traduziu a sacada de John Lennon, “a felicidade é uma arma quente”.
Tão quente que quem a encontra já cogita perdê-la, feito Renato Russo: “A felicidade mora aqui comigo, até segunda ordem”. Antes, Lupicinio Rodrigues padecera: “Felicidade foi-se embora, e a saudade no meu peito ainda mora”. Como Noel Rosa, em tabelinha com Renê Bittencourt: “Eu fico triste/ Quando vejo alguém contente/ Tenho inveja dessa gente/ Que não sabe o que é sofrer”.
A felicidade não é fetiche menor para quem a reconheceu. “A felicidade mora ao lado, e quem não é tolo pode ver”, poetou Ronaldo Bastos, com acordes de Beto Guedes. Gonzaguinha anunciou, na versão contagiante das Frenéticas: “A tal da felicidade baterá em cada porta”.
O problema é que, se tudo é simples assim, muita gente adoece de culpa quando não se sente feliz. A obsessão pela felicidade a transforma em miragem. Em vez de desfrutar do contentamento, nós nos atormentamos por ele não ser permanente.
Como se livrar da aflição? Recorrendo ao próprio cancioneiro nacional. Iluminado por uma noite de amor, Odair José pontificou: “Felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”.
Trocando em miúdos, seremos mais felizes se não nos enfeitiçarmos pela ideia da felicidade utópica, e sim por experiências felizes, muitas e muitas, mesmo fugazes, sem cansar, mas descartando a ilusão da eternidade.
Odair já foi menosprezado como artista “brega”. Eu o cultivo como um gigante do pensamento, do porte de um filósofo alemão, de um existencialista francês.
Deu pra ti, 2016. Um 2017 pleno de momentos felizes!