Crivella cai, une direita, revive anticomunismo e sofre com novos vídeos
Mário Magalhães
Candidato do PRB a prefeito do Rio, Marcelo Crivella teve na noite passada uma notícia muito boa: o Ibope lhe confere 17 pontos de vantagem sobre Marcelo Freixo, do PSOL (46% a 29%), na projeção do total de votos. Contando somente os válidos, a diferença também é expressiva, 22 (61% a 39%).
A mesma pesquisa trouxe, contudo, má notícia para Crivella: ele caiu, e Freixo subiu. Considerando todos os eleitores, houve redução da distância em 9 pontos (estava 51% a 25%). Excluindo brancos, nulos e indecisos, de 12 (estava 67% a 33%).
A novidade, percebida antes pela campanha do senador, explica a mudança de atitude dele, que passou a ser mais agressivo nesta semana.
Crivella mantém o favoritismo, mas sua posição não é mais tão confortável. Em votos válidos, Freixo precisa crescer 11 pontos para se igualar ao oponente. A eleição será daqui a nove dias.
O Ibope retrata o resultado de duas mudanças ostensivas na campanha de Freixo: a capacidade, sobretudo na TV, de falar para públicos mais amplos, e não apenas para os convertidos que haviam sufragado seu nome no primeiro turno; e a intensificação dos ataques a Crivella, expondo sua pregação como missionário, pastor e bispo da Igreja Universal do Reino de Deus.
A artilharia pesada contra Crivella já estava prevista pela campanha de Freixo em caso de disparada do senador, ao contrário do que plantam na imprensa marqueteiros dedicados à sua própria marquetagem.
Com Freixo aparecendo no retrovisor, ainda que distante, Crivella promove uma inflexão: como se revivesse a Guerra Fria, passa a lançar mão do discurso anticomunista que marcou o século 20. Ele vinculou Freixo ao bolchevismo, levou à televisão imagens de Fidel Castro e Nicolás Maduro. Ainda não falou em comer criancinha. O Partido Comunista Brasileiro integra a coligação do deputado.
Crivella conseguiu sacramentar uma aliança ampla de extrema direita, direita e centro-direita. Estão com ele três dos seis candidatos mais votados no primeiro turno: Flávio Bolsonaro (PSC), Indio da Costa (PSD) e Carlos Roberto Osório (PSDB), este com declaração de voto mencionando o perigo das ditas ideias ''bolivarianas''. A esmagadora maioria da base política, incluindo vereadores, que endossou Pedro Paulo (PMDB) na rodada inicial aderiu a Crivella.
Bênção de cacique não equivale a transmissão automática de voto, como demonstra o Ibope _a maioria dos eleitores de Indio agora prefere Freixo. Mas está longe de ser desprezível o acordo logrado por Crivella, candidato predileto dos pesos pesados do PIB carioca.
O que mais preocupa Crivella é a veiculação de vídeos em que ele mesmo fala. Não o acusam de nada, simplesmente transmitem suas palavras, e o senador tem de se explicar.
Num dos vídeos mais recentes ele diz que ''as mulheres deveriam obedecer mais aos homens''.
O ex-ministro da Pesca vai descobrindo que o peixe morre, ou pode morrer, pela boca.