Blog do Mario Magalhaes

Sabáticas: O nosso filme de guerra

Mário Magalhães

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Combatentes brasileiros contra o nazismo, no filme ''A Estrada 47'', de Vicente Ferraz

 

No Havaí, ainda moleque, corri a um museu de guerra com memorabilia do ataque-surpresa a Pearl Harbor. Décadas mais tarde, visitei os túneis labirínticos onde se acantonavam comandantes da Marinha Imperial japonesa nas semanas sangrentas da Batalha de Okinawa. Sempre em busca de saber mais sobre o conflito que de 1939 a 1945 abalou o mundo.

No cinema, dá dó quando perco um filme de guerra. Nenhuma delas rendeu tantas produções quanto a segunda. Inspirados ou não em episódios reais, os roteiros elegem como protagonistas combatentes de nações que despacharam tropas ao front.

Dos norte-americanos ou ingleses A Ponte do Rio Kwai, Fugindo do Inferno e O Resgate do Soldado Ryan ao soviético, Quando Voam as Cegonhas, que papou a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Da safra século 21, sou mais Cartas de Iwo Jima.

O Brasil também foi à guerra. Mas o que eu ouvia na escola sobre a Força Expedicionária Brasileira não via nas telas. Aprendi a “Canção do Expedicionário”, melodia do maestro Spartaco Rossi e letra do poeta Guilherme de Almeida. Não esqueci versos como “Por mais terras que eu percorra/ Não permita Deus que eu morra/ Sem que volte para lá/ Sem que leve por divisa/ Esse ‘V’ que simboliza/ A vitória que virá”.

Eu esperava o dia em que os cineastas exibiriam brasileiros tiroteando nas trincheiras. Mandamos mais de 25 mil soldados à Europa para encarar os nazistas. Contamos os feridos na casa dos milhares, e 457 homens deixaram a vida nos campos da Itália.

Essas jornadas de coragem renderam bons documentários, ao menos um sublime, Senta a Pua!, de Erik de Castro. O cinema, porém, teimava em desprezar o épico da FEB como matéria-prima para a ficção. Até que em 2015 o diretor Vicente Ferraz lançou A Estrada 47. Enfim, o nosso filme de guerra.

É a história de dois soldados, um sargento e um tenente do esquadrão antiminas destroçado por baixas. A missão perigosíssima dos sobreviventes consiste em livrar de explosivos a estrada-título, abrindo caminho seguro à passagem de blindados dos Estados Unidos. Tudo filmado em montanha e planície italianas cobertas de neve. O mais incrível, os personagens principais falam português.

A trama é inventada, mas bebe tim-tim por tim-tim na saga da campanha de outrora. Ao final, os atores, como Julio Andrade e Daniel de Oliveira, dão lugar a velhas imagens dos guerreiros em terras distantes. E ouvimos a “Canção do Expedicionário”.

Depois de assistir ao filme, levei meu filho caçula ao Parque do Flamengo, onde repousam os restos de centenas de pracinhas mortos na carnificina. “São os nossos heróis, heróis de verdade”, eu disse ao Daniel.

(Publicado originalmente na revista Azul Magazine, abril de 2016)

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