É preciso abrir a caixa-preta da Olimpíada
Mário Magalhães
As pitonisas que profetizaram vexame erraram.
Os agourentos se deram mal.
Desde a abertura, o complexo de vira-lata malogrou.
A Olimpíada do Rio esteve longe de ser perfeita, mas foi um sucesso.
Apesar dos pesares. Pergunte a quem a viveu de perto.
Em matéria de organização, houve tropeços.
Eles não comprometeram os Jogos.
Poucas celebrações esportivas pelo mundo foram tão animadas e envolveram tanta gente como a daqui.
Não falo de jogos e provas, com ingressos a preços mais salgados que churrasco feito por neófito.
E sim de passeios como os de milhões de cariocas e visitantes pelo Boulevard Olímpico.
No fim, prevaleceu a lei de Lota: “Aqui no Brasil as coisas são meio empíricas. Mas no final tudo dá certo”.
Por isso, porque deu certo, há escribas passando recibo de seus palpites apocalípticos e desinformados.
Essas anotações sobre a Rio-2016 não minimizam ou relativizam a necessidade de acesso à caixa-preta dos Jogos.
Até agora, a Prefeitura do Rio mantém inacessíveis informações que permitiriam conhecer melhor o custo da Olimpíada.
O governo municipal poderia começar respondendo: em que rubrica estão, no balanço do evento, os gastos de ao menos R$ 200 milhões em indenizações para remover moradores da Vila Autódromo, pequena comunidade grudada ao Parque Olímpico? Esse dinheiro, até onde se sabe, saiu dos cofres do Município.
Será preciso esperar a conclusão da Lava Jato _ou de outras operações semelhantes_ para conferir se o modus operandi da alegada propina na reconstrução do Maracanã se restringiu à administração estadual. Executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez afirmaram ter pago ao então governador Sérgio Cabral 5% do orçamento oficial da obra no estádio, R$ 1,2 bilhão. Essas duas construtoras também integraram o consórcio que ergueu o Parque Olímpico. Tomara que ali não tenha ocorrido corrupção.
Para uma análise mais profunda das consequências dos Jogos para a cidade, é indispensável o escrutínio de receitas e despesas da prefeitura.
E de sua relação financeira com o Comitê Rio 2016.