Blog do Mario Magalhaes

O mico do empreiteiro contra pobres no condomínio da Vila dos Atletas

Mário Magalhães

Carlos Carvalho, durante construção da vila – Foto Daniel Marenco/Folhapress

 

Se alguém tinha dúvida da mentalidade de casa grande que resiste em certas cacholas nacionais, o empresário Carlos Carvalho prestou um eloquente serviço em agosto do ano passado. Dono da Carvalho Hosken, empreiteira que com a Odebrecht construiu a Vila dos Atletas, o engenheiro pontificou em entrevista à BBC Brasil sobre quem vai morar no condomínio a ser ali instalado depois da Olimpíada: ''Para botar tubulação de água e de luz há um custo alto, e quem mora paga. Como é que você vai botar o pobre ali? Ele tem que morar perto porque presta serviço e ganha dinheiro com quem pode, mas você só deve botar ali quem pode, senão você estraga tudo, joga o dinheiro fora''.

O condomínio com 31 edifícios e 3.604 apartamentos se chama Ilha Pura. Isso mesmo, pura, sem mistura.

O Parque Olímpico foi erguido pelo consórcio composto por Carvalho Hosken, Odebrecht e Andrade Gutierrez. Após os Jogos, lá serão lançados condomínios mais sofisticados do que o Ilha Pura. Carlos Carvalho foi indagado sobre a remoção de uma comunidade pobre ao lado do parque. Respondeu: ''Você não pode ficar morando num apartamento e convivendo com índio do lado, por exemplo. Nós não temos nada contra o índio, mas tem certas coisas que não dá. Você está fedendo. O que eu vou fazer? Vou ficar perto de você? Eu não, vou procurar outro lugar para ficar''.

O cidadão nonagenário está em pleno gozo de suas faculdades mentais. Tanto que ele falou pela empreiteira sobre os problemas encontrados desde domingo na Vila dos Atletas.

A cabeça século XIX, e olhe lá, combina com a arrogância de quem dizia maravilhas sobre a Vila dos Atletas.

Ela pode até ser um empreendimento de qualidade, mas foi entregue repleta de problemas para a Olimpíada.

Um mico.

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