Pacote antissocial de Temer estimula confronto
Mário Magalhães
Bola cantada, Michel Temer e Henrique Meirelles anunciaram o mais duro pacote antissocial do século 21.
Como previsto, o arrocho de Dilma Rousseff, comparado ao que o sucedeu, passará à história como arrochinho.
Mantendo o tom dessas duas semanas de governo, Temer vai com muita sede ao pote, sacrificando sobretudo os mais pobres.
Talvez seja só o aperitivo, a depender do que virá depois das eleições municipais.
O conteúdo social das medidas pode ser aferido no contraste entre os aplausos de entidades empresariais e a reação dos sindicatos de assalariados _ao menos os não pelegos.
O pacote ataca por todos os cantos, sem poupar frentes e vítimas.
À sua maneira, estimula confrontos, atiça conflitos, provoca quem perde com ele.
Arrochos dessa natureza pressupõem força.
Em 1964, o marechal Castello Branco implantou um implacável. Tinha a força dos tanques.
Há pouco, na Argentina, o presidente Mauricio Macri fez a mesma coisa. Ele tem a força política dos votos que o elegeram.
Temer não tem nem tanques nem teve votos.
Conta com um Congresso até aqui submisso e uma máquina de propaganda vigorosa.
Fala em ''tranquilidade institucional'', depois de ter conspirado para depor a presidente constitucional.
Cerca-se de investigados e suspeitos de um sem-número de bandalheiras.
Quem apostou na lorota segundo a qual o afastamento de Dilma ''pacificaria'' o Brasil errou feio.
O clima permanece muito quente.
Outono e inverno só existem nos termômetros.