A lição do secretário de Educação que disse ‘eu ouvo’
Mário Magalhães
Meu pai contava que o general-de-exército João Baptista Figueiredo, o último ditador, contrariava-se com a insistência com que reportagens mostravam o contraste entre ele, oficial da arma da Cavalaria, e seu irmão intelectual, o escritor Guilherme Figueiredo. O prócer da ditadura retrucava dizendo que, como havia sido ótimo aluno em matemática, era também um intelectual _é o que o meu pai falava.
Lembrei-me de Figueiredo, o presidente que disse preferir o cheiro de cavalos ao cheiro do povo, por causa da conjugação do verbo ouvir pronunciada pelo novo secretário de Educação do Estado do Rio.
No ''RJ TV'', a jornalista Mariana Gross perguntou, à distância: ''O senhor me ouve, secretário?''
Wagner Victer respondeu de bate-pronto: ''Ouvo, sim'' (assista clicando aqui).
Em seguida, corrigiu-se, mas o estrago já estava feito.
Sem querer, como caricatura, o secretário deu uma lição.
O padrão de nomeações para cargos executivos no Brasil ignora as qualificações do escolhido. Não ocorre sempre, mas é o padrão.
Victer é conhecido por ter presidido a Cedae, companhia estadual que cuida de água e esgoto.
Neste posto, notabilizou-se por fanfarronices difundidas com estardalhaço pelos meios de comunicação.
Que credenciais possui para assumir a Educação?
Foi mais uma opção política dos governadores Pezão e Dornelles.
Igualzinha a algumas de Michel Temer, que escalou para a pasta que cuida da Indústria um ministro que ouve (ou ''ouce''?) a palavra ''planta'' no sentido de fábrica e pensa que tratam de vegetal.
Ou de Dilma Rousseff, que levou para a Saúde um inepto.
Eis a lição da nomeação de Wagner Victer: entre o interesse público e o dos cidadãos, danem-se os cidadãos.
Perto disso, o ''ouvo'' dito pelo intelectual é detalhe, sai na urina.