Vasco é clube de primeira com gestão de segunda; prevaleceu a gestão
Mário Magalhães
Houve um momento neste ano, meses atrás, em que nos escuros corredores de São Januário muita gente dava como certo o afastamento de Eurico Miranda para tratamento médico.
Falava-se que o vice Fernando Horta assumiria a presidência do Vasco e entregaria a da Unidos da Tijuca para Eurico.
Assim, o velho cartola manteria a faixa de presidente, agora de escola de samba, mas com menos estresse do que o comando da agremiação esportiva cuja torcida aguerrida e exigente é uma das cinco maiores do Brasil.
Nunca me fiei na hipótese de Eurico topar a troca do Vasco pela Unidos da Tijuca _para sair, por iniciativa dele, só por piora grave da saúde.
Muito menos noutro ti-ti-ti: alguns vascaínos temiam que, em caso de rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, Eurico desse cabo da própria vida.
Os dois rumores iluminam o ambiente no qual ocorreu a nova tragédia cruz-maltina, sacramentada ontem com a terceira queda em oito anos.
No momento em que o futebol nacional tenta dar passos mais profissionais, o Vasco vive no passado.
É como se, em meio a prósperos e competitivos capitalistas, um senhor feudal quisesse continuar protagonista.
Eurico retomou o controle do clube supondo que tudo prosseguia como dantes.
O tempo passara na janela, e ele não vira.
Iludiu-se com a conquista do Campeonato do Rio em 2015. Achou que o elenco bastava ao menos para permanecer na primeirona. Chegou a especular mais alto.
Insistiu em bravatas como ''o grande reforço do Vasco sou eu. Eu tenho crédito. Se eu digo que não vai cair, não vai cair. Não tem hipótese de rebaixamento''.
Confundiu a CBF com a federação do Rio. Não são diferentes em métodos. Mas o imenso poder de Eurico aqui não é o mesmo na entidade maior.
Eurico Miranda pensou pequeno, o que não combina com o clube gigante.
No Vasco, ele ainda é admirado por muitos. No dia-a-dia do clube, é mais temido que admirado, como sabe quem trabalha ou trabalhou lá.
Para má sorte dos vascaínos, o cartola que prometeu redimi-los de fracassos de Eurico mostrou ter as mesmas, digamos, ambições: Roberto Dinamite imitou-o no que tinha de pior e não soube repetir o que muitos torcedores julgavam qualidade.
O que tinha de pior não é preciso dizer. A qualidade era a capacidade de… fazer amigos e influenciar pessoas.
Eurico teve de contratar jogadores e comissões técnicas até engrenar. Se a equipe montada por Jorginho e Zinho tivesse disputado toda a competição, a fortuna do Vasco teria sido melhor.
Ao Vasco, não basta Eurico, o anacrônico, sair.
É o tipo de mentalidade que ele impôs e Roberto renovou que precisa passar.
Para o bem do futebol brasileiro, que fica menor sem o Clube de Regatas Vasco da Gama na primeira divisão.
O Vasco é clube de primeira com gestão de segunda. Prevaleceu a gestão.
O Vasco nunca perdeu o respeito. Quem perdeu foi a cartolagem vascaína.