Xadrez do impeachment: à espera de Fernando Baiano
Mário Magalhães
O comportamento hesitante de numerosos deputados e senadores a respeito do impeachment de Dilma Rousseff, contra ou a favor, não decorre de maiores ou menores convicções democráticas e constitucionais. Muita gente aguarda a delação premiada do lobista Fernando Baiano, acordada com a Procuradoria Geral da República, para pegar uma ou outra onda.
De acordo com as informações colhidas até agora na Operação Lava Jato, Fernando Baiano é o elo mais notório do caminho da propina até próceres do PMDB. Toma cá, dá lá. As fontes dos investigadores são sobretudo criminosos que, presenteados com redução de pena e outros benefícios, resolveram colaborar.
O papel protagonista de Fernando Baiano é descrito com nitidez na denúncia de Rodrigo Janot contra Eduardo Cunha. O presidente da Câmara é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. As 85 páginas reconstituem o alegado roteiro da dinheirama com origem na roubalheira na Petrobras.
Mas não até, conforme o procurador-geral, chegarem ao deputado. E sim até Fernando Baiano, que, sustenta a acusação, teria repartido o butim com Cunha e outros bambambãs. Faltava o lobista falar. Faltava, embora não se saiba se ele se disporá a contar tudo o que conhece e fez. E se terá como documentar o que está dizendo.
Fernando Baiano era o, digamos, executivo do lobby do PMDB na companhia de petróleo. Figuras influentes na política e nos negócios consideram que entre os mais ameaçados pelas revelações do criminoso estão os peemedebistas Eduardo Cunha e Renan Calheiros. O senador preside o Congresso. O deputado tem poderes para acelerar ou frear a tramitação de eventual processo de impeachment contra a presidente da República.
Correm bochichos sobre a citação do vice-presidente Michel Temer por Fernando Baiano, o que embaralharia ainda mais o cenário. A ordem de sucessão do Planalto, na hipótese de derrubada de Dilma, tem Temer em primeiro lugar e Cunha logo atrás.
Se tudo estivesse muito claro, o alagoano Fernando Antônio Falcão Soares não seria conhecido como Baiano. Antes mesmo de ele concluir a delação em curso, é possível que o Supremo Tribunal Federal acolha ou não a denúncia da PGR.
Em caso positivo, Eduardo Cunha se tornaria réu.
Como réu, ele pode ou não continuar como capo da Câmara.
Se continuar, ignora-se se terá menos ou muito menos bala na agulha.
Não se tem certeza sobre o comportamento de Cunha como réu: se aceleraria um processo de deposição de Dilma, a quem tem como inimiga, ou negociaria.
Se negociar, pode atrapalhar a tramitação do impeachment em troca de cobertura do Planalto e do PT.
Não negociando, o impeachment teria mais chances de vingar.
Nas altas rodas, existe dúvida sobre vantagem da presidente em caso de Cunha perder o comando da Câmara.
Porque o status que ele mantém faz com que segmentos empresariais robustos não respaldem _ao menos por enquanto_ a queda de Dilma, temerosos de caos econômico e favorecimento a concorrentes hoje em posições subalternas no mercado.
Sem Cunha, o impeachment poderia ganhar novas adesões.
Fernando Baiano é um aspecto do xadrez, e não o jogo inteiro.
Pode até ser peão, no máximo cavalo ou bispo. Mas tem força para atingir torres, damas e reis.