Blog do Mario Magalhaes

Há 54 anos, Jânio renunciou, abriu crise e golpistas tentaram virar a mesa

Mário Magalhães

Jânio Quadros, em foto clássica de Erno Schneider - Reprodução internet

Jânio Quadros, em foto clássica de Erno Schneider – Reprodução internet

 

Há 54 anos, como hoje, era Dia do Soldado. O 25 de agosto de 1961 entrou para a história por outro motivo, a renúncia do presidente Jânio Quadros (1917-1992). Eleito no ano anterior como o homem que varreria a corrupção, era um embuste. Estava no governo desde janeiro quando pediu o boné. Ao contrário do que narra a verve saborosa, não renunciou por conta dos efeitos do seu amigo fiel, o álcool. A interpretação mais verossímil é que Jânio saiu sonhando em voltar nos braços do povo, com mais poderes para sufocar um Congresso subjugado. Deu errado, e o Brasil entrou em crise.

Isso mesmo, a renúncia abriu uma baita crise.

Os comandante militares logo buscaram o golpe de Estado que havia sido abortado em 1954, com o suicídio do presidente Getulio Vargas, e em 1955, com a ação do general Henrique Teixeira Lott. O oficial legalista botou os tanques na rua para que o resultado da eleição recém-realizada fosse respeitado (foi assim que Juscelino Kubitschek assumiu democraticamente a Presidência).

Os golpistas tentaram impedir a liturgia constitucional, com a posse do vice, João Goulart. Fracassaram, mas influenciaram um conchavo ''parlamentarista'' que reduziu as atribuições de Jango. No comecinho de 1963, os cidadãos decidiram em plebiscito restabelecer o presidencialismo, com poderes plenos para Goulart. Até que, em 1964, o golpe enfim vingou, instaurando a ditadura que se arrastou por 21 anos.

Na crise de 1961, deflagrada com a renúncia do aventureiro Jânio Quadros, o marechal Lott foi preso por se pronunciar a favor da legalidade.

Naqueles dias, no bairro do Catete, agentes do Dops carioca colocaram abaixo a porta do apartamento onde vivia a militante comunista Clara Charf. Entraram de armas na mão e se retiraram, ao não encontrar o homem que caçavam, o ex-deputado Carlos Marighella. Clara gritou, temendo que, se não denunciasse a invasão, pudessem matá-la. Uma vizinha apareceu quando os tiras haviam partido e cometeu o humor involuntário:

''A senhora tem que chamar a polícia!''

Clara esclareceu:

''Mas foi a polícia que acabou de fazer isso!''

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