Blog do Mario Magalhaes

Permanência de Cristóvão afunda o Flamengo (afundava: o técnico caiu)

Mário Magalhães

Cristóvão Borges: a mesma ladainha defensiva de Luxemburgo - Foto Gilvan de Souza/Flamengo

Cristóvão Borges: a hora do adeus – Foto Gilvan de Souza/Flamengo

 

(Atualização: não demorou muito, e a diretoria do Flamengo demitiu o técnico Cristóvão Borges. Fez o certo, ainda que tarde. Boa sorte ao Cristóvão em seus desafios futuros. E mais ainda a quem assumir o seu lugar, de preferência treinador tarimbado e vitorioso. O post abaixo fica mantido com o texto original.)

Seria injusto e covarde restringir as culpas pelos perrengues do Flamengo somente a Cristóvão Borges ou aos jogadores ou à cartolagem. A autoria de desastres recentes é coletiva, como em tantos romances policiais. Mas é inegável que a permanência do técnico emperra, se não a ascensão da equipe, a chance de oferecer um desempenho ao menos no nível que o elenco, ainda que com as evidentes limitações, permite.

A derrota por 1 a 0 ontem para o Vasco em jogo de ida pela Copa do Brasil teve a fome dos cruzmaltinos, engolindo a anemia dos rubro-negros; o gol em jogada ilegal, com impedimento, que definiu o placar (mas em outro lance o árbitro poderia ter dado um pênalti para os vascaínos); a dificuldade do Flamengo com um a menos a partir de meados do segundo tempo.

Tudo isso é fato, mas nenhum dos fatos esconde que o recém-chegado Jorginho, com jogadores de qualidade média aquém da dos adversários, engoliu Cristóvão. O espírito de jogo solidário sobrepujou um time mal azeitado, sem criação e sem punch. O treinador do Flamengo errou gravemente ao lançar o jovem Jajá, enfraquecendo a equipe e perigando queimar o garoto promissor.

Cristóvão já havia se equivocado recentemente, é provável que com o concurso do departamento médico e da preparação de goleiros, ao antecipar o regresso de Paulo Victor. O goleiro falhou, e o Flamengo pagou o preço.

Além de dar mostras de incompreensão plena dos recursos humanos à disposição, às vezes o técnico parece não ver com clareza o jogo. Outro dia a equipe mandou bem no primeiro tempo, com Alan Patrick nos trinques. No intervalo, quem foi sacado? Alan Patrick.

Saiu para a entrada de um terceiro volante, obsessão que domina o clube em 2015. Primeiro, foi Vanderlei Luxemburgo. Cristóvão estreou com dois, logo aderiu aos três e apenas recentemente cedeu a uma armação potencialmente mais ambiciosa.

Os recorrentes gols levados em bolas aéreas não são responsabilidade isolada da zaga, e sim da maneira como o conjunto se posta e age ao esperar os cruzamentos. Se defesa em escanteio fosse obra só para zagueiros, o Barcelona estaria ferrado, com o nanico Mascherano na zaga. No domingo, levamos mais um gol assim. A impressão é que falta treinamento eficiente.

O revés no estádio do Palmeiras escancarou outro problema: a falta de orientação técnica para quem está começando. Samir fez gol contra, o que acontece às melhores famílias. Mas nos dois últimos tentos palmeirenses, antes de ser substituído, ele permitiu ao pivô do ataque oponente receber a bola de costas para o gol e passar. Um zagueiro não pode deixar o atacante-pivô com tal liberdade. Não se observa essa deficiência em treino? Por que não ensinar o novato de muito talento, contudo carente de lições?

Cristóvão é boa gente, o Flamengo deve lhe agradecer pelo trabalho e trocar imediatamente de técnico. É impossível ganhar a Copa do Brasil com ele? Não. Mas as chances serão maiores se o adeus for imediato.

Repito: com elenco pior, sem tempo para treinar, com torcida minoritária e time lanterninha no Campeonato Brasileiro, Jorginho montou uma equipe que mereceu a vitória.

Dito isso, é inegável que muita gente do Flamengo joga mais do que jogou ontem. Com o time bagunçado, os atacantes querem resolver sozinhos, e os defensores perdem a confiança. A evolução coletiva melhorará os desempenhos individuais.

A diretoria parece seguir a ideia de que contas em dia são um fim em si mesmo. Contratou um grupo frágil, mas muito melhor que o do Vasco. Na última hora, para evitar o rebaixamento, reforçou-o. Podem ser bons de calculadora. De futebol, até agora, aparentaram não ser.

Será que, além de tudo, os cartolas e executivos vão manter Cristóvão, no momento em que, sem uma chacoalhada, o último sonho do ano, a Copa do Brasil, ficou mais distante?

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