Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : julho 2015

Bater continência é direito; erguer punho, gesto punido, também tem de ser
Comentários Comente

Mário Magalhães

México, 1968: coragem de campeões – Foto reprodução

 

Muitos atletas brasileiros em Toronto batem continência, no pódio, para reverenciar a bandeira e o hino.

Justificam a inovação em Pans com a incorporação às Forças Armadas, de cujas atividades não participam regularmente.

São atletas militares, inscritos com o propósito de competir em eventos esportivos, sobretudo internacionais.

Nem atletas das ditaduras mais cascas-grossas exibem tal comportamento.

Mas é inegável o direito democrático de prestar continência, se assim quiserem.

O que é inaceitável são as normas de comitês esportivos que proíbem outros gestos.

A foto lá do alto mostra os velocistas norte-americanos Tommie Smith e John Carlos recebendo suas medalhas na Olimpíada de 1968.

No México, eles foram ouro _primeira vez abaixo dos 20 segundos_ e prata nos 200 metros rasos.

Ao subir ao pódio, reverenciando suas consciências, ergueram os punhos enluvados e fechados.

Era a saudação dos Panteras Negras, agremiação que, entre outras batalhas, combatia a segregação racial nos Estados Unidos.

Os dois foram expulsos dos Jogos.

Ainda hoje o regulamento do Comitê Olímpico Internacional veta manifestações como a de Smith e Carlos.

A medida fere a livre expressão dos cidadãos.

E atletas também são cidadãos.

Sou mais a coragem do punho cerrado de 1968 que a continência de 2015.

Mas, cada um na sua, ambos têm de ser assegurados, sem censura.

( O blog está no Facebook e no Twitter )


Em 2015, antigo nazista é condenado. No Brasil, faltam Ustra e sua turma
Comentários Comente

Mário Magalhães

Oskar Gröning, funcionário de Auschwitz: antes tarde do que nunca – Foto Julian Stratenschulte/AFP

 

Oskar Gröning, veterano funcionário de Auschwitz, foi condenado a quatro anos de prisão no julgamento encerrado horas atrás.

O alemão foi considerado cúmplice da morte de 300 mil judeus naquele campo de concentração.

Enquanto transcorria o seu juízo, o antigo nazista completou 94 anos.

A impunidade pode não ser eterna.

Para saber mais sobre o veredicto, basta clicar aqui.

A história de Gröning foi resumida pelo blog, como se lê neste link.

Falta alguém neste Nuremberg contemporâneo.

Entre os que, mundo afora, até agora escaparam de julgamento e punição, estão o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e sua turma da ditadura: estupradores, torturadores, assassinos…

Ainda é tempo.

( O blog está no Facebook e no Twitter )


Pan: bronze de Joanna Maranhão na piscina equivale a ouro em cidadania
Comentários Comente

Mário Magalhães

 

Joanna Maranhão começou a participação no seu quarto Pan com uma medalha de bronze e o recorde sul-americano nos 200 metros borboleta.

A nadadora avisou dias atrás (assista no vídeo acima ou clicando aqui): “Eu vou defender o meu país, mas eu não vou estar representando essas pessoas que batem palma pra Feliciano, Bolsonaro, Eduardo Cunha, Malafaia. Não são vocês que eu estou representando. A torcida de vocês eu não faço questão nenhuma de ter”.

Joanna é contra a redução da maioridade penal. No vídeo ela explica por quê.

Bronze na piscina, ouro em cidadania: eis a campeã Joanna Maranhão.

Assim dá gosto de gritar: vai, Brasil!

( O blog está no Facebook e no Twitter )


2 anos hoje: ‘Me mata, mas não faz isso comigo’, gritou Amarildo na tortura
Comentários Comente

Mário Magalhães

blog - amarildo 2 anos

No calvário da tortura que tirou sua vida, o Amarildo gritou: “Não, não, isso não. Me mata, mas não faz isso comigo”.

A testemunha, policial militar, é insuspeita. Ouviu com os próprios ouvidos, não por ouvir dizer.

Não se trata de “gente dos direitos humanos”, como pronunciam trogloditas com cabeça e coração capturados pela Idade Média.

Durante a pancadaria, na UPP da Rocinha, três PMs da área administrativa choraram.

As lágrimas caíam enquanto outros PMs matavam o operário da construção civil.

Com pauladas, choques elétricos e sufocando-o com saco plástico.

À frente deles, um antigo oficial do Bope.

Uma PM denunciou: “O que fizeram com esse homem não se faz a um animal”.

A agonia do Amarildo é reconstituída nos autos do processo sobre sua morte e desaparecimento.

Tudo ocorreu há cravados dois anos, na noite de 14 de julho de 2013.

Quem estava lá contou, como escrevem hoje os repórteres Sérgio Ramalho e Vera Araújo (leia aqui).

A reportagem informa que há testemunhas desaparecidas.

A morte do Amarildo, essa é a triste verdade, vai sumindo das memórias.

O esquecimento é amigo da barbárie.

Ei, Pezão, ei, Cabral: Cadê o Amarildo?

( O blog está no Facebook e no Twitter )


Morre José Maria Nunes Pereira, o ‘vice-xerife’ dos presos do Dops em 1964
Comentários Comente

Mário Magalhães

O professor José Maria Nunes Pereira – Foto Facebook/Luena Pereira/Samory Sundjata

 

Morreu no sábado, aos 78 anos, o sociólogo José Maria Nunes Pereira.

Um dos maiores expoentes no Brasil dos estudos sobre a África e os africanos, Zé Maria marcou gerações, sobretudo na Universidade Cândido Mendes.

Conheci-o na apuração da biografia “Marighella”, da qual o professor é entrevistado e personagem.

Na rua das Laranjeiras, grudado ao largo do Machado, ele vivia então entre milhares de livros, que cobriam as paredes e faziam do apartamento um paraíso.

Depois do golpe de Estado de 1964, havia sido preso pela polícia política da Guanabara.

Em sua casa gravitava na época a representação, no Rio, do Movimento Popular de Libertação de Angola.

Encarceraram-no no Dops, na rua da Relação.

O coletivo de presos políticos elegeu-o “vice-xerife”, isto é, um dos coordenadores do núcleo dos militantes detidos pela ditadura nascente.

Na penúria do lugar, faltavam colchões para todos.

O moço de 27 anos acabou dividindo o seu com um companheiro cinquentão, Carlos Marighella, que havia sido baleado semanas antes num cinema da Tijuca.

Militante do movimento negro, Zé Maria nasceu, traquinagem do destino, num 13 de maio.

“Vive dizendo, com muita propriedade, que é um branco de alma negra”, contou certa feita Luena, sua filha.

“Passou para a imortalidade”, escreveu anteontem outro filho, Samory.

( O blog está no Facebook e no Twitter )


Se o Ganso jogasse metade do que pensa que joga, não tinha nem para o Xavi
Comentários Comente

Mário Magalhães

Ganso reclama dos atacantes, dos defensores, do técnico… – Foto Leonardo Soares/UOL Mais

 

Outros jogadores do São Paulo se irritaram recentemente ao serem substituídos, mas a reclamação do Ganso contra o Coritiba excedeu: foi mais uma das reclamações sem fim de um reclamão vocacional.

Semanas atrás, na saída para o intervalo, Ganso reclamou dos atacantes que perderam gols, reclamou da defesa que vacilou. Não consta que tenha reclamado diante do espelho.

Ontem, recusou-se a cumprimentar o técnico ao sair, no segundo tempo.

Também não saudou o suplente que entrava.

E deu piti na área técnica, chutando alguma coisa.

Se o Ganso _vaiado por muitos torcedores_ jogou bem ou não, se Osorio acertou ou errou ao substituí-lo, se é legítimo ou leviano protestar com chilique, tudo isso é relevante, mas não o que mais me chama a atenção.

E sim que o Ganso dá a impressão de se achar o suprassumo dos craques do futebol.

Parece não identificar problemas no seu desempenho. O inferno são os outros, já dizia o quatro-olho francês.

Se o Ganso jogasse tudo o que pensa que joga, não tinha nem para o Xavi, no auge.

Meia de sangue excessivamente frio em campo, Ganso tem sangue quente fora dele.

Se invertesse as temperaturas, evoluiria.

Eis um craque saudável do pé, mas ruim da cabeça.

Pena, porque pode jogar muita bola.

( O blog está no Facebook e no Twitter )


Rio, 34 graus: o inverno no Leblon não é nada glacial
Comentários Comente

Mário Magalhães

O Corcovado visto de Botafogo, hoje de manhã

O Corcovado visto de Botafogo, hoje de manhã

 

Rio, 13 de julho, sol mais exibido que político em campanha.

O calendário diz que é inverno.

A meteorologia prevê, à sombra, termômetros batendo nos 34 graus.

Não fazem mais invernos como antigamente.

( O blog está no Facebook e no Twitter )


Jogadores melhores ou piores do que parecem: o caso Eduardo da Silva
Comentários Comente

Mário Magalhães

Boa sorte, Eduardo da Silva – Foto Paulo Campos/AGIF

 

O carioca-croata Eduardo da Silva está deixando o Flamengo, de regresso ao Shakhtar Donetsk.

Acho uma pena. Não pelo que ele jogou, mas pelo que poderia jogar.

Que o dinheiro economizado com o seu salário seja empregado em contratação de responsa.

Há jogadores que parecem ser melhores ou piores do que realmente são.

Por exemplo, Diego, contemporâneo do Robinho no Santos. Como Eduardo, também de 30 anos.

Diego é um bom meia. Mas parece ser melhor do que realmente é.

Eduardo, ao contrário, é melhor do que parece.

A impressão foi que no Flamengo jogou quase sempre fora de posição, muito enfiado no ataque, às vezes até como centroavante, quando rende mais vindo do meio, como ponta-de-lança, e com mais liberdade para se aproximar dos lados do campo.

Nunca foi protagonista aqui. Saía jogando quando alguém se machucava. Ou entrava no segundo tempo.

Muito técnico, é cabeceador talentoso.

Foi um trunfo mal aproveitado.

Tomara que se dê bem na Ucrânia, tem futebol para isso.

( O blog está no Facebook e no Twitter )


E o Marin, hein! Foi ou não foi informante dos EUA durante a ditadura?
Comentários Comente

Mário Magalhães

José Maria Marin: sempre uma novidade – Foto Flávio Florido/UOL

 

Um dos problemas de escrever biografia de personagem que não bateu as botas é o protagonista ainda poder viver eventos relevantes que ficarão fora do livro.

Por outro lado, com o biografado vivo, é possível indagá-lo sobre passagens obscuras da sua vida.

Bom exemplo é José Maria Marin, atualmente em temporada involuntária na Suíça.

Caso, é claro, haja um candidato a biografar o ex-capo da CBF _não contem comigo.

O primeiro repórter que tiver a oportunidade de entrevistá-lo com certeza não deixará de perguntar: eventualmente ou com regularidade o senhor, durante a ditadura, prestou serviços de informante ao governo dos EUA?

Talvez Marin, vai que os astros ao menos uma vez conspirem a favor, seja sincero.

A pergunta não é um disparate. Como revelou o repórter Rubens Valente, documento sigiloso de funcionário do Departamento de Estado sugere que o então vereador de São Paulo transmitiu informações aos norte-americanos (leia a reportagem clicando aqui).

Trata-se de um telegrama de duas páginas classificado como “confidencial” e transmitido em 16 de setembro de 1969. Assina-o Robert Corrigan, cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo. Os destinatários são outros diplomatas dos EUA.

O contexto é o da perseguição policial e militar aos sequestradores do embaixador dos EUA. De 4 a 7 de setembro, Charles Burke Elbrick havia sido refém de duas organizações guerrilheiras que combatiam a ditadura em vigor. Foi solto depois da libertação (e banimento) de 15 presos políticos e da divulgação de um manifesto oposicionista que não seria publicado de outro modo no país sob censura.

Corrigan informou que existia “ceticismo crescente”, nos meios políticos e jornalísticos, sobre a capacidade de o governo brasileiro identificar e prender os militantes que capturaram Elbrick.

Contou que “elementos de extrema direita” tinham responsabilizado os EUA pelo sequestro. Alguns acusavam o embaixador de ser displicente com a própria segurança.

Uma das versões dava conta de que o propósito seria desmoralizar o governo brasileiro, para torná-lo _ainda_ mais dócil diante da Casa Branca, favorecendo os EUA em negociações comerciais como a do café solúvel.

Acrescenta: “O comandante linha-dura da Quarta Zona Aérea, brigadeiro José da Silva Vaz [o correto é José Vaz da Silva], alegadamente disse ao presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Maria Marin, em 14 de setembro, que a CIA teria engendrado o sequestro”.

Corrigan registra que os funcionários norte-americanos já haviam ouvido tal suposição sobre o sequestro e não a tinham encarado seriamente.

O telegrama não esclarece se a fonte do cônsul foi Marin, hoje em cana na Europa e ameaçado de extradição para os Estados Unidos.

Ou se Marin narrou a alguém a conversa com o brigadeiro e esse alguém transmitiu o relato a Corrigan.

A diferença é que, na primeira hipótese, Marin teria colaborado diretamente com os EUA.

Na segunda, não necessariamente.

De qualquer maneira, se o brigadeiro pronunciou tamanha tolice, associou-se a teorias conspiratórias, sem lastro nos fatos, espalhadas pelos setores mais truculentos da ditadura.

Elbrick foi sequestrado pela Ação Libertadora Nacional, que comandou a ação, e pelo grupo que então passou a se denominar Movimento Revolucionário 8 de Outubro, autor da ideia de capturar Elbrick.

A participação conhecida da CIA no episódio foi na caçada aos sequestradores.

Três lembranças:

1) o sequestro de Elbrick foi a mais espetacular ação da esquerda armada contra a ditadura;

2) o governo dos EUA conspirou para o golpe de 1964, e em 1969 apoiava e colaborava com a ditadura brasileira;

3) José Maria Marin integrava a Arena, o partido da ditadura. Em 1975, seria personagem sinistro dos dias da morte, sob tortura, do jornalista Vladimir Herzog.

O telegrama de Corrigan é um dos 538 documentos relativos ao Brasil recém-liberados pelo governo dos EUA.

Estão desde ontem à disposição no site do Arquivo Nacional (para pesquisar, eis o link).

( O blog está no Facebook e no Twitter )