Que tal imitar Grécia e promover no Brasil consulta popular sobre ‘ajuste’?
Mário Magalhães
A considerar obituários guardados na gaveta ou publicados nos últimos dias, a Grécia acabou.
Só teria sobrevida, eis o tom do noticiário, se os gregos dissessem sim à manutenção da política econômica que devastou o país e rebaixou as condições de vida dos cidadãos.
Acontece que, a despeito das chantagens de mil e uma origens, seis em cada dez votaram não.
Devem ser uns burraldos esses gregos, aos não darem ouvidos a tantos sábios…
Sábios que jamais demonstraram tanta combatividade enquanto governos anteriores saqueavam o país e transferiam riquezas nacionais para bancos europeus.
E que agora se insurgem contra uma administração que, certa ou errada, manteve a promessa de não sacrificar ainda mais quem já foi sacrificado à exaustão.
Um dos aspectos mais importantes do domingo é que a decisão foi tomada em pronunciamento popular.
No que vai dar, ignoro, mas foi a população que votou.
No Brasil, está em curso um arrocho, vulgo ''ajuste'', aparentado com a ''austeridade'' que destruiu a Grécia.
Uma diferença é que a presidente da República disse na campanha que os mais pobres não pagariam a conta que estão pagando.
Não seria democrático também aqui convocar os cidadãos para decidir?
Se está de acordo com isso e com aquilo.
Por exemplo, em retirar dinheiro público da educação e da cultura e transferi-lo para os bancos, aumentando a taxa de juros.
É o procedimento em vigor, sem que os brasileiros possam expressar palavra soberana.
A legislação prevê plebiscito e referendo.
Não faltará quem diga que a situação da Grécia é diferente.
Correto, é mais grave.
Mas a continuidade do arrocho no Brasil resultará em decadência social, como aconteceu na terra criadora da Olimpíada.
Quem sabe o que é melhor para si são os brasileiros.
Bem que a Grécia, inspiração histórica para a democracia, poderia nos inspirar novamente.