Lula sabe que jacaré parado vira bolsa de madame
Mário Magalhães
O noticiário rebimbou o Datafolha indicando que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recolheria 25% dos sufrágios para o Planalto se a eleição fosse hoje. Perderia, no turno inaugural, para o senador Aécio Neves, com 35%. A ex-ministra Marina Silva alcançaria 18%.
Como a intenção de voto em Lula vem caindo, castigada pela impopularidade da presidente Dilma Rousseff e seu governo, manchetou-se a queda da simpatia pelo possível candidato em 2018.
O que me chama mais a atenção não é isso. E sim o imenso capital político de quem _em meio à mais grave crise dos governos federais petistas, à economia definhando, a escândalos infindos, ao esvaziamento crescente do PT e a um bombardeio ensurdecedor_ conserva a preferência de um em cada quatro brasileiros.
Ame-se, odeie-se ou prefira-se uma opinião intermediária sobre Lula, é difícil não reconhecer sua força, ainda que padecendo de anemia.
É esse patrimônio que faz com que o ex-presidente seja o principal alvo da oposição. Dilma ostentou essa condição enquanto a onda do impeachment não havia sido rebaixada a marola. Hoje ataca-se a presidente para, sobretudo, enfraquecer as chances de Lula daqui a três anos.
Tal patrimônio também faz com que os partidários de Lula e Dilma enxerguem nele, e não nela, a oportunidade de um dia sair do atoleiro.
Os 25% pró-Lula são mais expressivos porque a aprovação popular a Dilma despencou para humilhantes 10%. E até a correia da bicicleta da presidente sabe que ela está onde está graças a Lula.
Como a crise do país ameaça a pretensão do petista de triunfar em 2018, ele entrou em campo. Primeiro, vazaram _ou foram vazadas_ suas críticas a Dilma, ao governo e ao PT, expostas numa reunião com militantes vinculados à Igreja. Ontem, Lula soltou novamente o verbo, ao lado do ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González.
Lula sabe que jacaré parado vira bolsa de madame. Conhecidíssimo pelo eleitorado, teria sido melhor para ele retardar ao máximo o retorno ao centro do palco.
Diante do cenário adverso, considerou que era necessário antecipar o regresso, mesmo com o risco de desgaste de imagem com segmentos que não o rejeitam.
A favor de Lula, sua administração logrou inegáveis avanços sociais para a maioria dos cidadãos, a despeito de esquemas como o mensalão e a generosidade obscena com concentradores de renda como os banqueiros.
O segundo governo Dilma ameaça aquelas conquistas. E a presidente não parece disposta a seguir os conselhos do padrinho.
Na próxima quadra, ninguém apanhará tanto quanto Lula, podem apostar.
É ele que querem nocautear.
Se isso é bom ou mau para o Brasil, vai da cabeça de cada um.