Neymar não é problema. É salvação
Mário Magalhães
Muito mais surpreendente que o futebolzinho da seleção no 0 a 1 da noite passada foi a reação de espanto, quase estupor, diante da derrota para a Colômbia.
Parece que o Mundial de 2014 e o adeus às ilusões não existiram.
Dois meias colombianos são melhores que qualquer um dos nossos quatro, incluindo os volantes. Quem, no Brasil, joga mais que James Rodríguez e Juan Cuadrado? Digo hoje, na Copa América, pois no Chelsea o Willian é titular, e o Cuadrado, banco. Alguém pensa que o Firmino pode encarar o Falcão García, mesmo com este longe do auge?
O tempo de favoritismo permanente passou na janela e muita gente não viu.
Esta geração brasileira é mais fraca do que as recentes.
A diferença é que as anteriores não tiveram um craque espetacular como Neymar.
Ele esteve mal em Santiago. Mas quem disse que joga sempre bem? Alguém joga? Basta acompanhar o Barcelona para reconhecer que, ótimo na maioria das vezes, o atacante também tem suas jornadas de joão.
Se no clube outros seguram a onda quando Neymar não está em dia estrelado, na seleção complica. Não é que não haja nenhum Messi, Suárez ou Iniesta com a camisa canarinho. É pior: o conjunto é muitíssimo inferior ao padrão Neymar.
É mesmo possível que as notícias vindas da Espanha lhe tenham provocado um tilt emocional. Neymar tornou-se réu na investigação sobre eventuais falcatruas na sua transferência do Santos.
Ainda que o nosso craque maior venha a confirmar essa impressão, desconfio que não seja só isso. Elucubro, pois careço de informações. Não entrei na cabeça e no coração do Neymar.
Ele é um boleiro de enorme e salutar ambição. Chegou ao Chile querendo o título e a consagração como o melhor da competição. Ao receber no primeiro tempo o cartão amarelo que considerou injusto, selou sua ausência do jogo seguinte, contra a Venezuela. Um baque.
Daí em diante, despirocou. Até, em seguida ao apito derradeiro,chutar a bola num adversário, ensaiar uma cabeçada noutro e ganhar o vermelho que pode lhe custar mais partidas na Copa de tiro curto.
Agora, pelo amor de Deus: Neymar não é problema, é a salvação para a seleção que sem ele não passaria de timeco muitíssimo pior que o atual.
Problema é sua ausência.
Problema é o incentivo à cultura de relativizar os próprios erros e culpar _como Dunga e os jogadores, também Neymar_ o árbitro.
Problema é a delegação não ter blindado Neymar, ajudando-o a encarar suas legítimas ambições e pressões de fora do campo.
Problema é a ruína moral da CBF e seus respingos pútridos no ambiente da seleção.
Problema maior será transformar Neymar em vilão.
Neymar é herói.
A seleção precisa dele.
O Brasil perder a Copa América é do jogo e é previsível.
Inadmissível é jogar o fracasso nos ombros de Neymar.
De novo: Neymar não é problema; é salvação.
Precisa de apoio, incentivo e conselhos.
Vai dar a volta por cima.