Blog do Mario Magalhaes

Agora é oficial: jornalismo no Facebook será submetido à censura

Mário Magalhães

O Facebook censurou esta foto, depois recuou. E se não recuasse? – Reprodução Ministério da Cultura

 

''O jornalismo no Facebook será censurado?'', indagou o blog outro dia.

Sim, respondeu o Facebook, como informa hoje reportagem de Nelson de Sá.

Noutras palavras, ao veicular diretamente nessa plataforma de mídia social o material que produzem, as organizações jornalísticas passam a se submeter a um conjunto de valores e regras alheios.

Exemplo: se um editor do ''New York Times'' julga relevante publicar a fotografia de três mulheres de seios nus, protestando diante de um mandatário qualquer, a notícia pode ser banida do Facebook, caso um funcionário desta corporação (''comunidade'' é nome fantasia) considere que aparecem demasiados mamilos na imagem.

Na intermediação entre o fato e sua difusão jornalística o Facebook se impõe como censor.

Trata-se de perigo para o jornalismo e a cidadania.

A concentração midiática implica a generalização dos valores do Facebook. Não é o caso de discutir se são sábios ou estúpidos, mas de reconhecer que a diversidade de critérios e a pluralidade de vozes vitaminam a democracia.

Cada empreitada do jornalismo mantém seus próprios códigos e padrões. Na década de 1980, um jornal no qual eu trabalhava proibia a publicação de qualquer palavrão (um dia eu conto como, em 1987, emplaquei um montão deles).

Hoje estampa sem cerimônia palavrões até na primeira página, e mais ainda na internet. É direito do jornal proceder assim ou assado. Mas passará a se sujeitar às idiossincrasias do Facebook, se vier a nele veicular matérias inteiras, e não apenas, como hoje, somente o link.

A fotografia lá no alto foi divulgada na página do Ministério da Cultura no Facebook. Ameaçado de processo, por violar a legislação brasileira que assegura a livre circulação de informações, o Facebook voltou atrás.

E se não voltasse?

Por enquanto, a encrenca maior é com a nudez. Se o princípio é o da censura, abre-se o caminho para banir outros conteúdos jornalísticos legítimos, porém incômodos.

O blog reproduz abaixo a reportagem que saiu hoje na ''Folha'':

(O blog está no Facebook e no Twitter )

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Facebook vai censurar nudez em notícias publicadas no Instant Articles

Por Nelson de Sá

Lançado na quarta-feira (13), o projeto Instant Articles, do Facebook, para publicar na plataforma reportagens do jornal ''The New York Times'', do ''BuzzFeed'' e de mais sete veículos americanos e europeus, não poderá incluir nudez ou ''ameaça direta à segurança pública''.

''Esse conteúdo não é tratado de forma diferente de todos os outros publicados no Facebook'', afirmou a assessoria de imprensa da rede social. ''Solicitamos que todo conteúdo publicado diretamente obedeça aos nossos Padrões da Comunidade.''

Os padrões listados pela plataforma são agora menos restritivos, após uma série de controvérsias –uma delas em torno da remoção do perfil da revista ''The New Yorker'', em 2012, por um cartum em que apareciam os mamilos de uma mulher desenhada.

Sobre nudez o Facebook faz hoje, entre outros avisos: ''Restringimos algumas imagens de seios que mostram os mamilos. Removemos fotos com foco em nádegas totalmente expostas [e] descrições de atos sexuais que exponham detalhes vívidos''.

A rede se justifica e até se desculpa antecipadamente: ''Alguns públicos podem ser mais sensíveis a esse tipo de conteúdo. Nossas políticas podem ser mais duras do que gostaríamos e restringir conteúdos compartilhados com objetivos legítimos''.

Em questão sensível para o jornalismo, os padrões do Facebook também alertam: ''Removemos ameaças reais feitas a figuras públicas, bem como discursos de ódio direcionados a elas''. E remetem a ''ferramentas para [o usuário] evitar conteúdos ofensivos''.

O site ''Gawker'', que não entrou na primeira lista de organizações jornalísticas do Instant Articles, questionou a cobertura de imprensa do lançamento por ''omitir'' que o Facebook, com seus Padrões da Comunidade, não tem nada de ''neutro'' quanto ao conteúdo jornalístico.

O próprio ''NYT'' perguntou, num texto: ''O que acontece quando editores decidirem que o certo, jornalisticamente, é mostrar foto com seios que o Facebook não permita?''. Não respondeu, mas anotou que ''é por isso que nenhum veículo quer se tornar dependente da rede''.

Para ler o texto completo, basta clicar aqui.