Dá para resistir aos ‘brinquedos’ de Eike Batista? Eu resisti…
Mário Magalhães
É, quem sabe, pode ser, corro o risco de ceder ao cabotinismo, mas as fotografias do juiz federal Flávio Roberto de Souza ao volante do Porsche Cayenne do empresário Eike Batista me trouxeram novamente à lembrança um episódio que contei de passagem aqui no blog, no post Retrato de Eike no auge: o dia, ou melhor, a noite, em que eu resisti a um brinquedo do ex-marido da Luma tão sedutor quanto os seus carrões.
(Claro que o digno magistrado só estava zelando pelo bem público, ao contrário do que pensam cabeças maliciosas e espalham línguas maledicentes…)
Pela altura de setembro, outubro de 2009, eu jantava com Eike e dois colaboradores dele no restaurante Mr. Lam, de propriedade do então postulante a terráqueo mais rico e ainda hoje a melhor cozinha asiática do Rio.
O dono apontou para o mezanino da casa à beira da lagoa Rodrigo de Freitas, onde ficava um adega metálica assim descrita no site do Mr. Lam:
''A adega Veuve Clicquot Vertical Limit da Porsche Design Studio é a única em restaurantes no mundo. Um objeto de arte nascido da tradição francesa em vinhos e a audácia inovadora de uma das líderes em design. Feita em aço escovado, mede 2,10m de altura por 60 cm de largura e possui doze prateleiras iluminadas individualmente. As portas e os ângulos são soldados à mão e é totalmente à prova de som e vibração. A temperatura é mantida constantemente a 12º, exatamente igual às adegas da Veuve Clicquot, em Reims, França''.
Isto é, outra obra-prima da Porsche, como confirma a imagem lá do alto.
Em 2007, foram produzidas, informou o fabricante, 15 unidades.
Com uma dúzia de garrafas magnum, as grandonas, em cada adega.
Só com champagne vintage, de safras supimpas, desde a década de 1950.
Adoro espumantes, tenho-os como bebida para cima, ao contrário de outras, derrubadoras e depressivas.
Não sou nenhum connaisseur de champagne-champagne, aqueles produzidos em determinado solo francês.
Mas já provei o suficiente para apreciar as viuvinhas brut, ou Veuve Clicquot, mais secas que, por exemplo, o champagne Cristal frutado que novos-ricos bebiam no Brasil do alvorecer da década de 1990, para imitar o presidente Collor.
E não é que o Eike Batista propôs que compartilhássemos uma garrafa?
Tudo porque, depois de ele falar sobre a adega, indaguei que conquista o faria abrir uma magnum.
No lançamento, em 2007, cobravam nos Estados Unidos 70 mil dólares por unidade da superadega Porsche com o líquido precioso incluído.
Não dava para aceitar o convite gentil do Mr. X.
Porque eu estava escrevendo um perfil dele para a ''Folha''.
Evidentemente, baita desgraça, configuraria conflito de interesses.
Se tacasse o pau, poderiam dizer que era para mostrar independência, apesar do jabá.
Caso a reportagem soasse simpática, talvez insinuassem que eu me vendera por uns goles da safra 1955.
Questão de ética jornalística, em suma.
No final, fiquei sem passear de Porsche, ou seja, sem beber o champagne guardado noutra máquina Porsche.
Dá para resistir?
Dá, mantendo afiado o simancol, também conhecido como escrúpulos.
Por causa do passeio do juiz com o carrão, voltei a me perguntar: como deve ser uma viuvinha tão antiga?
Será que o velho espumante ainda borbulha?
Ironia: naquela noite de anos atrás, Eike Batista contou que não gosta muito de bebida alcoólica.