Blog do Mario Magalhaes

Ganso, ‘roubo’ e ‘camburão’: na democracia, direito de espernear é sagrado

Mário Magalhães

Ganso, em jogo no Morumbi - Foto Leonardo Soares/UOL

Ganso, em jogo no Morumbi – Foto Leonardo Soares/UOL

 

Para não misturar uma coisa com outra coisa, digo logo que o Corinthians foi imensamente melhor que o São Paulo nos 2 a 0 de ontem pela Libertadores.

Triunfo merecido, de uma equipe cuja principal virtude parece ser a segurança: sabe o que quer e como conquistar o que quer.

O tricolor talvez saiba o que quer, mas não como chegar lá.

Outra limpeza de terreno: é direito inalienável do árbitro Ricardo Marques Ribeiro buscar na Justiça as reparações que considere devidas.

Contrariado sobretudo com decisão do juiz no segundo gol alvinegro, o são-paulino Ganso apontou ''roubo'' e disse que o árbitro deveria sair de camburão do estádio do Corinthians. Ouvi o jogador na virada de quarta para quinta-feira, em entrevista ao SporTV.

O autor de roubo, qualquer criança não ignora, é ladrão.

Muito bem: o erro de Marques Ribeiro foi desclassificante. Para tomar a bola de Bruno, o corintiano Emerson empurrou acintosamente o são-paulino, dando início ao contra-ataque muito bem executado que resultou no gol de Jadson.

O árbitro não deu falta, e Ganso bronqueou.

Enquanto a Justiça resolver com independência eventual querela entre Marques Ribeiro e Ganso, é do jogo da democracia.

O inaceitável são as costumeiras _e agora já alardeadas para Ganso_ punições para jogadores e técnicos que protestam contra arbitragem.

Os cartolas do futebol mundial criaram um mundo à parte do século 21, inspirado na era medieval, com regulamentos de competições que impedem cidadãos _como boleiros e treineiros_ de se manifestarem.

Cria-se, como no caso do Brasil e outros países cujos clubes disputam a Libertadores, um evidente conflito, digamos, institucional: a Constituição assegura o direito de livre expressão.

Mas regulamentos esportivos impedem e punem esse direito.

Existem castigos até para quem não identifica dolo em enganos arbitrais.

Prevalecem nas competições regras típicas de ditaduras.

Seria absurda uma punição dos organizadores da Libertadores contra Ganso.

É direito dele espernear.

E do árbitro de processá-lo na Justiça comum, insisto.

Mas o jogador ser impedido de trabalhar em virtude de suas opiniões seria atitude primitiva.

O regulamento prevê isso e aquilo? Mas não está acima da Constituição.

( O blog está no Facebook e no Twitter )