Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : outubro 2014

Direita se une e esquerda se divide no 2º turno
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Mário Magalhães

Pró-Aécio, Bolsonaro tem motivos para sorrir – Foto Alan Marques/Folhapress

 

Há coisas ainda mais previsíveis que os vacilos defensivos do João Paulo no Flamengo (mas o lateral ataca bem): na hora do vamos-ver, a direita se une, e a esquerda se divide.

Como demonstra, uma vez mais, a campanha do segundo turno para a Presidência da República.

No primeiro, pelearam por brigadas diferentes Levy Fidelix, Clube Militar, José Maria Eymael, Marco Feliciano, Pastor Everaldo, Silas Malafaia, Luis Carlos Heinze, Jair Bolsonaro mais uma turma grande da direita.

Certos ou errados, hoje estão todos com Aécio Neves.

Na rodada inicial, estiveram em bivaques distintos Luciana Genro, Jorge Furtado, Mauro Iasi, Marcelo Freixo, José Maria de Almeida, Jean Willys, Rui Costa Pimenta e outra turma grande da esquerda.

Pois o cineasta Jorge Furtado continua com Dilma Rousseff, que agora tem também o apoio de Marcelo Freixo e Jean Willys.

Certos ou errados, Mauro Iasi e Zé Maria vão anular o voto, como deve fazer Pimenta _os três concorreram ao Planalto. Não identificam, para os trabalhadores, contrastes entre a ex-guerrilheira e o candidato predileto da Bolsa de Valores que justifiquem o sufrágio na presidente.

Certa ou errada, Luciana Genro, também candidata, foi a porta-voz da opinião “nenhum voto em Aécio”, que admite Dilma, nulo ou branco.

O de sempre: a direita batalha unida; a esquerda, separada. Tão separada que muitos dos seus militantes dizem que parte da esquerda nem esquerda é.

As consequências de tal comportamento são historicamente conhecidas, para o bem e para o mal, dependendo de como cada um vê o mundo.

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No maior petardo da campanha, Pezão exibe vídeo devastador para Universal
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Mário Magalhães

Que eu tenha assistido, foi o maior tirambaço de um candidato contra outro na campanha eleitoral de 2014.

Na noite de sábado, o programa de Luiz Fernando Pezão (PMDB) exumou imagens do século XX, as mais devastadoras contra a Igreja Universal do Reino de Deus em todos os tempos.

São as que foram ao ar no “Jornal Nacional” em 1995, mostrando como o bispo Edir Macedo ensina os pastores a arrecadar contribuições dos fiéis.

O vídeo é devastador porque ninguém haverá de dizer que é edificante.

Pezão acusa o adversário no segundo turno da eleição para governador do Rio, Marcelo Crivella (PRB), de ser instrumento da Universal para controlar o Estado.

O senador Crivella é bispo licenciado da igreja e sobrinho de Macedo. Afirma separar política e religião.

Para assistir ao programa de Pezão, basta clicar na imagem no alto ou aqui.

Uma observação secundária, sobre marketing: o sotaque do novo apresentador da propaganda do apadrinhado de Sérgio Cabral provoca enorme ruído em ouvidos cariocas e fluminenses.

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Na despedida de solteira, moça engravida de anão; qual a moral da história?
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Mário Magalhães

Na temporada de baixarias e farisaísmo da campanha eleitoral, fait divers são remédio para arrancar, se não gargalhadas, alguns sorrisos.

O melhor dos últimos dias dá conta de que em Valencia, cidade espanhola banhada pelo Mediterrâneo, uma noiva participou de despedida de solteira animada por um stripper anão. Entusiasmada com o convidado, foi às vias de fato com o dito cujo e engravidou. Subiu ao altar sem nada contar ao noivo, até que nasceu um bebê com nanismo (leia aqui, no “Correio”).

Só então a mãe da criança revelou tudo ao marido.

Nas diversas edições do jornalismo brasileiro sobre o episódio _será mesmo verdade?_, a sacada mais inspirada que eu vi foi da primeira página do “Meia Hora” de sábado (depois mudaram a capa), com a moral da história:

“A mentira tem pernas curtas”.

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Candidatos virtuais: no Brasil, FHC x Lula; no Rio, Cabral x bispo Macedo
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Mário Magalhães

Às vezes, parece que a eleição presidencial opõe na urna Fernando Henrique Cardoso a Luiz Inácio Lula da Silva.

Os partidários de Dilma Rousseff aplaudem Lula e vaiam FHC.

Os de Aécio Neves defendem FHC e denunciam o pacote Lula-Dilma como maracutaia _propõem o balanço exclusivamente do governo dela.

No Rio, é Cabral contra bispo Macedo.

Luiz Fernando Pezão aponta o líder da Igreja Universal do Reino de Deus como o mentor da candidatura de Marcelo Crivella a governador.

Bispo licenciado da Universal, Crivella é sobrinho de Edir Macedo.

Já Crivella fustiga o ex-governador Sérgio Cabral como padrinho de Pezão: “Pezão é Cabral, Cabral é Pezão”.

Cá entre nós, há uma certa diferença de nível entre os candidatos virtuais a presidente e a governador do Rio, né não?

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Classe média em transe: ‘Tem que morrer na África!’
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Mário Magalhães

Sábado ensolarado, quase meio-dia, o pequeno-burguês carioca volta para casa com o pôster de “Star Wars” emoldurado, e, comprados na feirinha de orgânicos do bairro classe média, a garrafa de suco de uva da serra gaúcha e a geleia de amoras-pretas feita não sei onde.

O pequeno-burguês sou eu, que não vejo graça em “Guerra nas Estrelas”, mas não conto isso para o meu caçula, fã da série. Como canta a Fátima Guedes, “pobres mentiras diplomáticas, de puras intenções”.

Ao passar pelo botequim situado na fronteira entre o pé-sujo e o pé-limpo, ouço o sujeito se esgoelar à mesa:

“Tem que morrer na África!”.

Ele esbraveja como quem discursa diante de multidão, por isso dá para escutar a bronca.

O homem maldiz as autoridades que permitem a entrada de viajantes vindos dos países da África onde o ebola faz estragos.

Ele quer que o Brasil não os aceite.

Se, na imprensa, o clima é de anos 1950, nas ruas aqui de Botafogo o tom é de década de 1930.

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No Dia da Criança, ‘nova política’ de Marina caducou
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Mário Magalhães

Seria constrangedor uma propalada “nova política” se aninhar no ninho que tem entre seus aliados José Sarney, Fernando Collor e Renan Calheiros.

É o ninho de Dilma Rousseff.

Idem se alinhar à artilharia que conta com próceres como Antonio Carlos Magalhães Neto e José Agripino Maia.

É a tropa de Aécio Neves.

A pregação de Marina Silva já parecia precocemente desbotada devido a companhias como Heráclito Fortes e a família Bornhausen, no primeiro turno presidencial.

Desbotou de vez com o anúncio dominical de apoio a Aécio. A não ser que se apague da memória a retórica recente e histórica da ex-senadora.

Marina martelou contra a polarização PT-PSDB, de fato longeva demais.

Contra a polarização, aderiu a um polo.

Na condição de senadora e opositora, criticava à exaustão o governo Fernando Henrique Cardoso como obstáculo ao avanço nacional.

Agora, fecha com FHC, por sinal o presidente que tinha Renan Calheiros como ministro da Justiça.

No discurso de ontem, Marina condenou as “velhas alianças pragmáticas desqualificadas”.

A candidata derrotada ao Planalto, na “discussão programática” com Aécio, reivindicou que ele abandonasse a bandeira da redução da maioridade penal. Ele se recusou a aceitar o pedido. E ela aceitou apoiá-lo. Seria isso “aliança programática qualificada”?

No Dia da Criança, quem diria, Marina chancelou o postulante ao Planalto que patrocina a redução da maioridade penal.

Certa ou errada, Marina passou a vida apontando o PSDB como atraso. Quem mudou, o tucanato ou ela?

Dizer uma coisa e fazer outra é o “novo”?

No começo, a miragem da “nova política” entusiasmou milhões de brasileiros.

No final, Marina acaba no mesmo palanque de Jair Bolsonaro, Marco Feliciano, Silas Malafaia e Clube Militar.

Ainda de fraldas, a “nova política” já caducou.

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Jornalismo de torcida, decisão de Marina, dinheirama apreendida…
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Mário Magalhães

Mesmo que daqui a poucas horas a candidata derrotada Marina Silva (PSB) venha a declarar seu apoio a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da eleição presidencial, o jornalismo já colheu novo vexame com a precipitação de dar como certo o anúncio da ex-senadora até a quinta-feira. O endosso ao senador não ocorreu, embora na segunda e na terça já fosse alardeado e festejado _com exceções. No mínimo, o tom era de favas contadas.

Os fatos contradisseram o noticiário contaminado por torcida. Não é novidade.

Durante anos, acumularam-se informações sobre a troca da candidata Dilma Rousseff (PT) por seu antecessor e padrinho Luiz Inácio Lula da Silva.

Deu no que deu.

Mais tarde, na quadra em que a renúncia do tucano à disputa reforçava a perspectiva de triunfo de Marina _e fracasso de Dilma_ já no primeiro turno, a plantação foi sobre a iminente desistência do neto de Tancredo.

Deu no que deu.

Ainda houve quem tratasse como definida a passagem de Marina, até certo momento tida como a concorrente com mais chances de bater a petista, para o mata-mata final.

Deu no que deu.

Enganos como esses não ocorrem por má-fé, mas pela transformação do jornalismo em propaganda, ainda que involuntária.

Um exemplo mais objetivo?

Caso 1) Às vésperas do primeiro turno, um colaborador de candidato a deputado vinculado a certa candidatura presidencial é preso com R$ 102 mil.

Caso 2) Poucos dias depois do primeiro turno, colaborador de campanha de candidato a governador vinculado a determina candidatura presidencial é preso com R$ 116 mil.

Muito ou pouco graves, merecedores ou não de títulos garrafais e manchetes _pode ser que sim, pode ser que não_, os episódios são parecidos.

A virtude do equilíbrio jornalístico recomenda tratamento, senão igual, o que é difícil, ao menos semelhante.

O que aconteceu?

A primeira apreensão de dinheiro foi sufocada no noticiário, que lhe deu atenção diminuta.

A segunda virou um escândalo monumental, para compor o cenário “mar de lama”.

É assim o jornalismo de torcida: conforme os personagens e os interesses, os brados pela decência têm mais ou menos decibéis.

Não custa registrar: o deputado do caso 1 é Bruno Covas, do PSDB de Aécio.

O candidato do caso 2 é Fernando Pimentel, governador eleito pelo PT de Dilma.

Parece que viajamos num túnel do tempo e caímos em 1954. A imprensa era acentuadamente partidária, e nas mesmas proporções atuais: a esmagadora maioria com a oposição, a minoria com o governo.

Por sorte, em 2014 tudo será resolvido com o voto popular, e não com um golpe de Estado e uma bala no peito.

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Kátia Abreu no programa de Dilma na TV: o que diria Chico Mendes?
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Mário Magalhães

Contrariados com a adoção de bandeiras mais conservadoras por Marina Silva, antigos companheiros da ex-senadora repetiram a pergunta nas últimas semanas: o que diria Chico Mendes?

Como se sabe, Marina militou no Acre ao lado do sindicalista assassinado (“ambientalista” é fraude histórica).

O questionamento-provocação tem, vá lá, suas razões.

Pois ontem começou na TV o horário eleitoral do segundo turno (para ler reportagem do UOL e assistir às propagandas de Dilma Rousseff e Aécio Neves, basta clicar aqui).

No geral, o de sempre, cada marqueteiro tentando vender o que seu candidato presidencial supostamente tem de bom e buscando esconder o que de fato tem de ruim.

A surpresa da noite foi a aparição da senadora reeleita Kátia Abreu (PMDB-TO) no programa de Dilma.

Com o tradicional acento combativo, a senadora disse: “Ela [a presidente] tem força de trabalho, força interior, e quer um Brasil cada vez melhor”.

Para quem não sabe, Kátia Abreu é líder da bancada ruralista, presidiu a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), transformou-se na porta-voz mais tonitruante do latifúndio, virou musa da direita mais empedernida.

Falar mal de Marina é fácil. Evocar Chico Mendes (1944-1988) e atacar de Kátia Abreu na TV constitui farisaísmo.

A propósito, ao ver o programa de ontem, o que diria Chico Mendes?

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