Homossexualidade é ‘pecado’, disse Crivella na sabatina. Eu: ‘Pecado!?!’
Mário Magalhães
Ao lado dos colegas Isabele Benito, Kennedy Alencar e Humberto Nascimento, participei na sexta-feira da sabatina UOL-SBT com o senador Marcelo Crivella, candidato do PRB a governador do Rio.
Na antevéspera, havíamos sabatinado o governador Luiz Fernando Pezão, do PMDB, o outro concorrente do segundo turno (veja aqui).
A íntegra da conversa com Crivella pode ser assistida clicando na imagem do alto ou aqui.
Transcrevo abaixo o diálogo que trata da convicção do candidato sobre a homossexualidade como pecado.
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MM: Senador, se a questão fosse religiosa, eu não voltaria ao assunto, porque cada um tem o direito de ter a sua crença e de manifestar a sua crença. Mas há interesse público, um candidato a governador do Estado. Os poetas compuseram e cantaram o lindo verso ''Qualquer maneira de amor vale a pena''. Mas, como o preconceito e o ódio persistem, só no ano passado pelo menos 312 cidadãos e cidadãs foram assassinados no Brasil por motivações homofóbicas. Uma morte a cada 28 horas. Recorde mundial. O senhor, outro dia, afirmou que considera a homossexualidade um pecado. O senhor tem ideia de como tal convicção e tal declaração, na boca de um homem público, podem significar um incentivo à discriminação, à intolerância, à violência e ao ódio?
Crivella: De jeito nenhum!. Isso é absolutamente…
MM: Pecado, senador!?!
Crivella: Ué, você quando se refere a alguma coisa de ser pecado o que você está querendo expressar é a sua sinceridade e a sua convicção, que é um direito seu. Agora, com amor e respeito. Eu não estou dizendo aqui que é uma inquisição, nem para perseguir, nem para colocar na cadeia, nem que é doença, nem incentivar…
MM: Mas que é pecado.
Crivella: Mas que é pecado.
MM: Por quê?
Crivella: Porque é o que a Bíblia diz, e eu creio nela. O senhor não crê, mas eu creio, é um direito meu.
MM: Não coloque palavras na minha boca. Em que passagem a Bíblia diz que a homossexualidade é pecado?
Crivella: Ah, em várias passagens. Agora, o senhor também me respeite, não coloque na minha boca…
MM: Eu estou perguntando. O senhor é o candidato ao governo do Estado.
Crivella: Eu sei, mas eu mereço respeito também. E espero que o senhor me dê…
MM: Como eu estou respeitando o senhor.
Crivella: Você não deixa eu acabar de falar. Eu acho que respeito é a gente ouvir. Eu ouço o senhor, me ouça também.
MM: Sem colocar nada na boca alheia.
Crivella: Exatamente. Em várias passagens a Bíblia fala isso, e eu creio na Bíblia. Agora, isso não se expressa de maneira nenhuma como o senhor colocou nesse texto. Esse texto que o senhor colocou aí é completamente contra o espírito da Bíblia. Quando tem na Bíblia os pecados, é um alerta, é uma maneira de você tentar dizer para a pessoa de um caminho melhor. Que você acha que é melhor, pode ser que ela não ache. E você vai divergir com ela, e ambos vão se respeitar e conviver perfeitamente. Deixa eu lhe dizer uma coisa: na minha família tem pessoa homossexual que convive comigo há anos, e vivemos bem. No meu gabinete tem também. Então não vai ser o senhor agora que vai me ensinar como me comportar ou me dar uma lição de ética que eu já pratico na minha vida.
MM: O senhor discorda do Milton e do Caetano quando eles dizem que qualquer maneira de amor vale a pena?
Crivella: É uma convicção deles, mas eles têm que respeitar a minha. É assim que é a democracia, a gente se respeita mutuamente. O que não pode é eu dizer para eles que têm que seguir a minha, e eles dizerem para mim que eu tenho que seguir a deles. Cada um, na vida pública e na democracia, tem as suas convicções. Isso é da liberdade, é da justiça.