Classe média em transe: ‘Tem que morrer na África!’
Mário Magalhães
Sábado ensolarado, quase meio-dia, o pequeno-burguês carioca volta para casa com o pôster de ''Star Wars'' emoldurado, e, comprados na feirinha de orgânicos do bairro classe média, a garrafa de suco de uva da serra gaúcha e a geleia de amoras-pretas feita não sei onde.
O pequeno-burguês sou eu, que não vejo graça em ''Guerra nas Estrelas'', mas não conto isso para o meu caçula, fã da série. Como canta a Fátima Guedes, ''pobres mentiras diplomáticas, de puras intenções''.
Ao passar pelo botequim situado na fronteira entre o pé-sujo e o pé-limpo, ouço o sujeito se esgoelar à mesa:
''Tem que morrer na África!''.
Ele esbraveja como quem discursa diante de multidão, por isso dá para escutar a bronca.
O homem maldiz as autoridades que permitem a entrada de viajantes vindos dos países da África onde o ebola faz estragos.
Ele quer que o Brasil não os aceite.
Se, na imprensa, o clima é de anos 1950, nas ruas aqui de Botafogo o tom é de década de 1930.