Obituários precoces: analistas chegaram a enterrar Dilma, Aécio e Marina
Mário Magalhães
A campanha presidencial permanece indefinida e, em virtude da corrida parelha, eletrizante.
Um balanço, contudo, já pode ser esboçado: desde que acompanho eleições (pleito para o Senado em 1974), nunca li e ouvi tanto palpite furado de quem se pronuncia com a autoridade de analista e comentarista.
Também já me embrenhei no estudo de eleições desde a virada da década de 1920 para a de 1930. Também não me recordo, indo mais longe no tempo, de prognósticos tão desautorizados pelos fatos.
Primeiro, com a morte de Eduardo Campos e a ascensão espetacular de Marina Silva, dei com, mais do que menção à hipótese, previsão de triunfo no primeiro turno da ex-senadora. Dilma Rousseff já era.
Em seguida, com a presidente demonstrando que sua base social entre os mais pobres não lhe virou as costas, foi a vez de muitos tratarem Aécio Neves como defunto. Era certo: o mata-mata final oporia as ex-ministras de Lula.
A convicção de que Aécio não se recuperaria resultou em plantação: ele abandonaria o confronto pelo Planalto. Hoje, isso significaria Dilma liquidar a fatura no domingo. Quando espalharam o boato sem fundamento, a cascata sobre a desistência do tucano favorecia a consagração de Marina direto no primeiro turno.
Com a lenta recuperação de Aécio e a intensa deterioração de Marina, houve quem a dissesse fora do segundo turno. Mais um chute precipitado.
O cenário tem mudado com assombrosa rapidez, mas certos vaticínios parecem mais expressão de vontade do que de razão.
A impressão é de que regressamos à época da imprensa partidária e colérica dos anos 1950 e 1960.
Não há mais o Plano Cohen da década de 1930 ou a Carta Brandi dos 1950, ambos instrumentos do golpismo.
Mas o que tem de factoide às vésperas da eleição de 2014…
Em suma, Dilma, Marina e Aécio seguem vivíssimos.
O único obituário real foi o do governador Eduardo Campos, na tragédia que nem ele nem o Brasil mereciam.