Rio: questão não é saúde mental de ex-mulher, e sim saber se houve propina
Mário Magalhães
No tonitruante escândalo deflagrado com as gravações feitas em segredo pela ex-deputada Vanessa Felippe, Rodrigo Bethlem (PMDB-RJ) empreendeu manobra como principal meio de defesa: o deputado federal acusa a ex-mulher de sofrer de males psíquicos que a teriam levado a assacar calúnias contra um homem público decente.
Desconversa pueril: ao contrário do que sugere o antigo secretário do prefeito Eduardo Paes (PMDB), é irrelevante, para saber se as suspeitas de corrupção procedem, a saúde mental da filha do presidente da Câmara Municipal do Rio, Jorge Felippe (PMDB).
Não é a agora empresária quem afirma que Bethlem, de vencimentos líquidos inferiores a R$ 20 mil, tem _ou teve_ uma renda mensal de aproximadamente R$ 100 mil, recebe por fora de R$ 65 mil a R$ 70 mil de um contrato entre uma ONG e a prefeitura, que outra empresa, fornecedora de lanches, lhe dá uma sobremesa de R$ 15 mil e que o deputado abriu conta na Suíça _não declarada, de acordo com reportagem da revista ''Época''.
Quem declarou ter feito tudo isso foi Rodrigo Bethlem, durante uma negociação de pagamento de pensão, quando poderia ter subestimado seus rendimentos.
O áudio seria de novembro de 2011 e teria sido gravado na residência de sua ex-mulher.
A questão é se Bethlem cometeu ou não atos de corrupção. O resto constitui golpe baixo.
O episódio é gravíssimo, sobretudo pela autoridade que Eduardo Paes conferiu ao correligionário no governo. Bethlem foi secretário de três pastas, e como chefe da Ordem Pública tornou-se o ''xerife'' da cidade.
Não é mero ''aliado'' de Paes, e sim figura proeminente do seu grupo político. Foi executivo graduado da administração. Até a poderosa Secretaria de Governo ocupou.
Se confirmada a propina sugerida pelo próprio deputado, o prefeito, na melhor das hipóteses, demonstra dificuldade em escolher colaboradores.
O caso repercute na campanha eleitoral: Bethlem seria personagem de destaque no palanque do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato a novo mandato.
Não será mais, e pode ser instrumento de ataque ao governador.
Há uma lição jornalística: poucos políticos do Rio foram tão promovidos pelos meios de comunicação nos últimos anos como Rodrigo Bethlem, alegado batalhador pela ordem, contra a baderna _muitas vezes ao lado de ricos contra pobres, mas isso não era dito.
Se o jornalismo opinar e propagandear menos e investir mais em informar, talvez seja capaz de apurar esquemas que só vêm à tona em querelas de família e outras vendetas.