Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : junho 2014

Elegia para uma seleção imortal
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

Vão passar os anos, chegarão outras Copas, novas gerações serão bafejadas pelo feitiço do futebol.

Mas quem ama o futebol jamais esquecerá o talento e o encanto da seleção da Espanha campeã em 2010, no primeiro Mundial da África.

A seleção inspirada no colossal Barcelona de Guardiola, cujo DNA havia sido o carrossel de Cruyff.

A Espanha que, como um dia disse Pep sobre o seu Barça antológico, reviveu muitos dos brilhos do futebol brasileiro de outrora.

A Espanha do cultivo da posse de bola, como aqui nos ensinaram Telê Santana e Cláudio Coutinho.

Aquela equipe morreu, e está sendo velada no Maracanã, onde foi eliminada pelo Chile, com uma soberba vitória de 2 a 0.

Não é a primeira defensora do título a cair na primeira fase.

Porém, nunca foi tão triste. Foi bom, maravilhoso, enquanto durou.

O sonho não acabou porque não foi sonho: durante muitos anos foi realidade. Duas Euros recheadas por uma Copa!

Que histórias não teremos para contar todos os que vimos aquele timaço.

Em um paradoxo aparente, foi o futebol que triunfou neste 18 de junho de 2014.

Celebrado pelo Chile, com os jogadores se mexendo, tratando com carinho a pelota. Baixinhos que jogam com gosto.

Viva o Chile!

Olha aí, no estilo da esquadra chilena, uma das muitas heranças da Espanha que abandonou a babaquice franquista da Fúria para ser a Roja que mora nos corações de quem preza mais a paixão do esporte que escudo e bandeira.

A Espanha fenomenal chegou ao fim por fadiga de material. Muitos dos seus astros envelheceram, e Vicente Del Bosque, treinador magistral, apostou na sobrevida utópica de alguns.

Para não dizerem que eu esperei acontecer o que aconteceu para identificar os problemas, eis um post publicado aqui no blog em 15 de maio, apontando os limites de Xavi Hernández: “Sem Thiago Alcântara, Espanha perde maior esperança de superar cansaço“.

Pois Xavi começou a Copa, até ser barrado hoje.

O esgotamento contaminava muitos outros craques e jogadores decisivos, como escrevi na anatomia da goleada de 5 a 1 sofrida para a Holanda na estreia: Espanha padece de piripaque físico, técnico, tático e moral.

Xavi e Xabi já haviam antecipado a saída da seleção depois da Copa.

Puyol pendurou as chuteiras antes.

Torres não pendurou, até veio, mas já estava irreconhecível.

Casillas, que pena, aparenta já ter dado o melhor.

Será que, aos 34 anos anos em 2018, Iniesta ainda batalhará nos campos russos?

E Ramos, que terá 32? Brilhante na Champions, esteve muito mal na Copa.

Ao menos num prognóstico os jogadores da Espanha tinham razão: o confronto com o Chile seria uma “final”.

Contudo, quem começou em ritmo de decisão foram os chilenos.

Cantaram o hino até o fim, à capela, mimetizando os brasileiros.

Com um minuto e 17 segundos, já sufocavam, com duas grandes chances.

Bem que Del Bosque tentou melhorar, para superar algumas das maiores deficiências do vexame diante dos holandeses.

De saída, mudou a zaga, escalando Martínez no lugar de Piqué. Mais à frente, trocou Xavi por Pedro.

Na estreia, David Silva havia se posicionado na direita do ataque, onde hoje ficou Pedro, com Silva recuado no meio.

Muita coisa não mudou. Parecendo afetado pelas vaias xenófobas, Diego Costa não fez nem cosquinha nesta Copa. Muito barulho por nada.

Como tantas vezes no passado, os finalizadores vieram de trás. Aos 15 min, Alonso quase marcou.

Quatro minutos depois, o mesmo Xabi errou passe e concedeu contra-ataque para o veloz Chile, que cirurgicamente fez 1 a 0, com nosso conhecido Vargas.

Iniesta chamou o jogo, mas não teve boa companhia.

Ainda assim, Alonso chutou aos 22 min (para fora) e Diego aos 26 min (quase acertou).

Em falta dispensável de Alonso, Sánchez cobrou, e Casillas espalmou com infelicidade para o meio da área. Aránguiz, outro jogador íntimo dos brasileiros, ampliou para 2 a 0, aos 43 min.

No segundo tempo, Del Bosque sacou Alonso, amarelado, e colocou Koke.

Aos 3 min, com Diego, e aos 7 min, com Busquets, a Espanha teve chances não aproveitadas.

Quando acertou o gol, Bravo defendeu.

Aos poucos, foi se deprimindo, com o Chile investindo sem sucesso em contra-ataques.

Cazorla, meia de alta técnica, pisou sozinho na bola. Melhor regressar para casa.

Quatro anos mais tarde, a campeã Espanha morreu em campo.

Para o futebol, a seleção que viveu o apogeu em 2010 é imortal.

Nunca a esquecerei.


Sem ‘doping’ da vingança, Holanda vira abóbora
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

Na vitória de 3 a 2 há pouco sobre a Austrália, a Holanda perdeu o encanto de seleção-sensação da primeira rodada da Copa, impressão que havia conquistado com a goleada sobre a campeã Espanha.

A carruagem mais vistosa do Mundial virou abóbora _não uma abóbora chinfrim, de fim de feira, e sim respeitável.  Mas uma abóbora. Tem elenco e futebol para se transformar novamente em carruagem.

Pareceu que faltou aos holandeses o “doping” psicológico da revanche pela derrota na final de 2010. Contra os espanhóis, concentração, determinação, futebol-total. Diante dos australianos, um time competitivo, mas não um timaço.

Mantendo a camisa azul, a mais bonita exibida nos gramados até agora, a Holanda também manteve três zagueiros, como na estreia. O adversário, contudo, era no papel muito mais frágil que a Roja, embora tenha imposto um jogo mais duro.

Numa partida emocionante e de igual para igual, o rapidíssimo Robben abriu o placar aos 20 min do primeiro tempo, em contra-ataque puxado por ele.

Um minuto depois, Cahill empatou num sem-pulo fabuloso.

Ao contrário do que todo mundo esperava, não se impunha a equipe dos carequinhas De Jong, Robben, Sneijder, Indi e Vlaar. Não via a camisa vermelha (ou branca, como nos 5 a 1) da Espanha e tocava, anestesiada, a bola.

A Austrália perdeu dois gols antes do intervalo.

Nos acréscimos da primeira etapa, o zagueiro Indi saiu contundido (aparentou estar desacordado). Com o ingresso de Depay na ponta-esquerda, a antiga Laranja Mecânica voltou ao sistema 4-3-3 consagrado por ela.

No segundo tempo, o cenário começou igual, toma-lá-dá-cá.

Aos 8 min, um pênalti controverso convertido por Jedinak colocou o time historicamente mais fraco à frente.

Logo aos 13 min, numa falha de marcação, Van Persie anotou o empate em dois gols.

O elenco muito inferior ficou evidente quando o goleiro australiano Ryan falhou em chute de longe de Depay, e a Holanda virou, 3 a 2.

Pouco antes, o atacante Leckie perdera grande oportunidade para a seleção da Oceania (classificada pela Ásia).

Às vezes, o lugar-comum está certo. Neste caso, quem não faz leva.

Há esportes em que a influência da cabeça é mais determinante, como no tênis. Mas no futebol os neurônios e o coração também pesam. Sem a sede da vigança, a Holanda jogou hoje muito menos.


Copa que se preza tem frangaço
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

Copa que se preza tem tanto grandes atuações de goleiro, como a do mexicano Ochoa hoje contra o Brasil, quanto perus desclassificantes.

Faltava o frango. Não falta mais.

Na estreia de Rússia e Coreia do Sul no Mundial, o goleiro russo Akinfeev fez gluglu ou cocorocó aos 23 min do segundo tempo, em chute de longe de  Lee Keun-ho _a meia altura, e não rasteiro.

Antes o jogador que não honrou a escola de Yachin e Dasayev, arqueiros legendários, havia soltado de bobeira três vezes a bola.

Aos 29 min, Kerzhakov empatou, sentenciando o 1 a 1 de modesto nível técnico.

A Bélgica lidera o grupo H da Copa, que na primeira rodada já testemunhou um senhor frangaço.


Vacina contra o oba-oba
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

O aspecto mais negativo é também o mais positivo no balanço do empate do Brasil com o México em 0 a 0: está claro, como sugerira a vitória sofrida sobre a Croácia na estreia, que a seleção precisa evoluir muito para disputar o título com mais chances.

O clima de oba-oba em torno do time de Felipão e Parreira esfria ou termina. Bela notícia! É preciso trabalhar para encarar equipes que já deram espetáculo e parecem competitivas, como Holanda, Alemanha e Itália.

Não foi uma partida bonita a que o Castelão hospedou, mas pegada, batalhada, típica de Copa do Mundo.

O confronto foi tão duro que os melhores brasileiros foram, na minha opinião, os zagueiros Thiago Silva e David Luiz.

No primeiro tempo, as ações foram equilibradas. No segundo, a parte inicial foi mais do México e, a derradeira, do Brasil. Thiago quase marcou de cabeça, aos 41 min. Aos 46 min, Júlio César salvou, com bela defesa.

Com Hulk contundido, imaginei que a entrada de Ramires reforçaria a pressão na saída de bola adversária, mas não foi isso o que ocorreu. Os brasileiros deixaram os mexicanos jogarem até atravessar a linha do meio-campo, e vice-versa.

Com Ramires, o time não progrediu na marcação, e perdeu ímpeto no ataque.

Substituído no intervalo, Ramires deu lugar a Bernard, opção mais ofensiva. Então, o México dominou a meia cancha e cresceu. Mais tarde, Bernard criou e ameaçou.

Como a zaga brasileira está em grande forma, Peralta e Giovani dos Santos não levavam vantagem na área. Por isso, meias como Vázquez e Guardado chutavam da intermediária, com perigo. A facilidade em bater de longe, sobretudo no começo da segunda etapa, refletiu a pouca intensidade dos volantes e meias canarinhos.

A equipe também foi pouco intensa no ataque, na maior parte do tempo. Colecionou oportunidades, inclusive com Neymar, mas as grandes foram poucas, ainda que o goleiro Ochoa tenha sido eleito o melhor.

O Brasil está a um passo da classificação para as oitavas-de-final. Segue em primeiro lugar no grupo A graças a erros de arbitragem na primeira rodada, favorecendo a seleção candidata ao hexa e, contra Camarões, prejudicando os mexicanos.

Desta vez, os jornais do México não poderão titular “Jogamos como nunca, perdemos como sempre”.

A torcida visitante teve mesmo o que comemorar.

A seleção brasileira tomou uma vacina contra o oba-oba. Valeu a viagem a Fortaleza.


O salto alto dos belgas
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

De tão proclamada como candidata a grande surpresa da Copa, a seleção da Bélgica passou o primeiro tempo contra a Argélia como se desfilasse feito campeã. De salto alto, não jogou nada e foi para o intervalo perdendo por 1 a 0 para a brava e retrancada equipe do norte da África.

Com as estrelas Kompany, Courtois e Hazard, os belgas regressaram para etapa final conscientes de que é preciso jogar antes de celebrar. Dispensaram o salto agulha, jogaram para valer e viraram para 2 a 1.

Uma bolsa de apostas londrina chegou a cravar, poucos meses atrás, a Bélgica como a quinta principal favorita no Mundial. Em vez de surpreender, o time decepcionou por 45 minutos. Lento e previsível, era fácil de marcar. Hazard, craque de grandes atuações pelo Chelsea na temporada, mal era visto.

Aos 25 min, o argelino Feghouli converteu pênalti sofrido por ele mesmo. Com pouca posse de bola, a Argélia frustrava os parcos ataques belgas.

A partida entre duas seleções que representam povos sem, por assim dizer, maiores simpatias pelos franceses, mudou na segunda etapa. O meia Fellaini, que entrara havia pouco, empatou de cabeça aos 25 min.

Ele fez lembrar célebre participação de João Saldanha na TV, condenando cabelo black-power para jogadores, porque a bola seria amortecida. Pois Fellaini marcou de cabeça.

Aos 39 min, o dono da vistosa cabeleira deu outra cabeçada perigosíssima.

Antes, aos 35 min, lançado por Hazard, enfim esperto, Mertens anotou o gol decisivo.

Por pouco, a Bélgica não foi surpresa negativa no Mineirão. Se batalhar sempre como no segundo tempo, pode crescer na Copa.


Fãs de Cristiano Ronaldo xingam, intimidam e ameaçam jornalista
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

‘Podem me prender

Podem me bater

Podem até deixar-me sem comer

Que eu não mudo de opinião’

Lembrei-me dos versos de Zé Keti, cantados por Nara Leão e Maria Bethania no alvorecer da ditadura pós-1964, ao me transformar em alvo de uma ofensiva intolerante de fãs do jogador de futebol Cristiano Ronaldo.

O que ocorre desde ontem não é o salutar confronto de opiniões, por mais estridente que possa ser a controvérsia, mas um movimento com o propósito de impedir a livre expressão de ideias.

Assim que terminou a goleada da Alemanha sobre Portugal por 4 a 0, publiquei aqui no blog o artigo “O jogador mais nojento do mundo”.

Na página do blog no Facebook e na conta do blogueiro no Twitter, sobrevieram xingamentos, intimidações e ameaças. Os exemplos relatados abaixo foram colhidos até as 23h desta segunda-feira (horário de Brasília). A pancadaria prosseguiu de madrugada e parece longe de cessar.

Seria mais cômodo calar sobre a investida e tocar a vida, ou a Copa, postando meus pitacos sobre as partidas que tanto têm me encantado.

Mas o que está em jogo não é a mera interpretação da idolatria e suas manifestações febris, mas o direito de divergir e expor a divergência. Se deixasse para lá, eu seria complacente com o ódio.

Com minhas desculpas pela deselegância da reprodução literal, eis alguns insultos que retratam o tom virulento e preconceituoso (e certas fixações, não é, caro Sigmund?): “fdp”; “vai tomar bem no cu”; “vai tomar no cu seu blogayro de merda”; “filho da puta”; “fdp que dá o cu”; “seu merda”; “cara, vai dar o cu, que é a tua praia”; “vai tomar no cu”; “pau no cu”; “viado”; “filha da puta”; “enfia uma rola no teu cu”; “viado vagabundo”; “idiota chupador de rola do Messi”.

Os palavrões são o de menos, até porque eles ecoam o caldo cultural das arquibancadas.

O mesmo não digo das numerosas ofensas a três gerações de moças da minha família. Primeiro, pela estupidez de mirar em quem não participa da desinteligência. Segundo, pela cafajestada de fustigar, com baixarias, mulheres. Terceiro, pela covardia dos valentões de internet, esses pusilânimes cuja coragem termina no teclado do computador.

As ameaças de castigo corporal e eliminação física são graves: “se me cruzo contigo na rua, fodo-te”; “morrrrrrre, filho da puta”; “isso não vai ficar assim!”; “você me diz onde você tá que eu vou aí meter uma bala na sua cara”.

Ou seja, quem não compartilha de determinadas convicções mereceria a morte. Já vimos esse filme antes.

Eis a síntese do empenho em sufocar uma voz dissonante: “tamo denunciando sua página” (ao Facebook, com o intuito de retirá-la do ar); “você deveria ser banido de qualquer rede social”.

O banimento de quem discorda também não constituiu aspiração ou pena historicamente nova.

A xenofobia ressurge aguçada. Acusam brasileiros radicados na Europa disso e daquilo. Recorrem à bravata do falecido ditador António de Oliveira Salazar: quem apresenta restrições a um português _antigamente, ao déspota de plantão_ desrespeita Portugal.

Se for assim, o país que este neto de português mais fere é o Brasil, considerando o que já escrevi sobre senhores como Ricardo Teixeira, Fernando Collor, Vanderlei Luxemburgo e Carlos Alberto Brilhante Ustra.

A esmagadora maioria das centenas de ofensas tem brasileiros como remetentes. Nem as viúvas da ditadura 1964-1985 foram tão truculentas, por mais que reajam com energia ao que costumo postar no blog.

Respeito quem pensa diferente, como os que afirmam “cara mais humilde que o CR7 não tem” e o elogiam como “um ser tão humilde”. Questão de opinião.

O inaceitável é censurar, sobretudo com ameaças fascistoides, quem cultiva outros valores. Para mim, Cristiano Ronaldo é pior do que o ególatra que adota o mantra “eu ganho, nós perdemos”. Entendo seus pronunciamentos com o sentido de “eu ganho, eles [os outros jogadores dos seus times] perdem”.

Ao marcar um gol decisivo para a seleção portuguesa vir à Copa de 2014, ele gritou “Eu estou aqui”. É prerrogativa sua agir publicamente assim, com individualismo exacerbado. Bem como é direito alheio emitir juízo público sobre tal comportamento narcísico.

O CR7 simboliza no esporte o cada um por si, sem um rasgo de solidariedade. Como anotei no post da discórdia, “ele subverte a nobre ideia do futebol como pacto coletivo”. Sua atitude estimula a de muitos cidadãos.

Cristiano Ronaldo encarna um egoísmo com o qual eu não me identifico. Por isso tenho o direito de considerar nojento o atacante, conforme duas acepções do dicionário “Houaiss”: 1) “que provoca nojo, repugnância”; 2) “que se julga o maior, metido a besta; seboso, convencido, mascarado”.

Posso estar certo ou errado, isso vai da cabeça de cada um. Mas a veneração quase religiosa por um ídolo não confere o direito de interditar a divergência, por mais contundente que ela seja.

Imagina se um maluco avesso ao CR7 e partidário do pensamento único saísse por aí intimidando e ameaçando os torcedores que têm o jogador como exemplo de alma generosa…

Folgo em informar aos neocensores que a ditadura acabou há muito tempo tanto no Brasil (1985) quanto em Portugal (1974). A censura ao jornalismo foi extinta, e a liberdade de expressão e de opinião se consagrou como conquista democrática e direito constitucional.

Vários posts da página do blog no Facebook, sobre outros assuntos, foram infestados por comentários de ódio, que trocam ideias por desqualificação _manjado expediente de quem esgrima argumentos frágeis. Tenho a possibilidade de eliminá-los, mas não retirei nenhum deles, por reverência à democracia e para denunciar a intolerância.

Mais do que lembrança, a música do grande Zé Keti é inspiração: “Podem me prender, podem me bater…”.


O direito à pelada
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

O 0 a 0 entre Irã e Nigéria não foi apenas, no 13º jogo, o primeiro empate da Copa, nem a primeira partida sem gol: pela primeira vez, no 20º Mundial, assistimos a uma rematada pelada.

Já não era sem tempo! Bem-vinda e sonora pelada!

Futebol só com jogo bom e qualidade técnica de razoável para cima não é futebol. Sem jogador casca-grossa, perdemos a noção do que é o estilista, o craque.

Agora há pouco tivemos chutões desvairados, passes bisonhos, patéticos desencontros entre os pés e a bola, tudo o que os peladeiros autênticos têm de melhor.

A Fifa deveria introduzir nas Copas a cota das peladas e dos pernas-de-pau.

Ao final, vaias do público. Da minha parte, comovida gratidão.

Enquanto isso, nesse mesmo grupo F, a Argentina sorri.


O jogador mais nojento do mundo
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

Nunca houve jogador de futebol tão nojento quanto Cristiano Ronaldo.

Hoje ele não viu a bola, na derrota de Portugal para a Alemanha, máquina de eficiência, por 4 a 0 _poderia ter sido muito mais.

Não foi culpa do CR7. Seu time foi atropelado em falhas de João Pereira (fez pênalti estúpido), Pepe (não pulou para impedir cabeçada), Bruno Alves (não se livrou da bola à sua frente) e Rui Patrício (deu rebote bobo).

Cristiano Ronaldo, contudo, esteve em campo como sempre se sentiu: sozinho. Ele subverte a nobre ideia do futebol como pacto coletivo. Representa o paroxismo narcísico dos nossos tempos. Retrata o mundo, assim como o futebol nos espelha.

Patético, o capitão português arrancou a faixa do braço no terceiro gol. Talvez tenha sido um incômodo físico. Porém, mais que dar piti, sugeriu julgar que o vexame não é dele, mas dos companheiros. É, velho Sartre, o inferno são sempre  os outros.

Egoísta, egocêntrico, tudo ego, o CR7 tem direito de fazer a sobrancelha melhor que os comentaristas de TV e de depilar as pernocas. Nada contra, cada um na sua.

Mas é meu direito considerar vaidade ofensiva atitudes como não comparecer a cerimônias de melhor do planeta da Fifa quando se prevê o revés _como o português já fez.

Mais importante do que a bala que matou Kennedy, o CR7 não celebrou o gol salvador de Ramos no segundo tempo da decisão da Champions League. Voltou solitariamente para o meio-campo. Só porque não foi ele quem marcou pelo Real Madrid.

Ao contrário do que disse Pelé, com sua infinita capacidade de pronunciar asneiras, Cristiano Ronaldo joga muito. É cracaço, o que me contraria ainda mais.

Porém, não tem espírito de equipe. Ele sofreu nesta segunda-feira pelo insucesso pessoal, e não da sua seleção.

O CR7 é mais metido que dedo em nariz de piá.

Na etapa inicial, só deu Alemanha. Cristiano Ronaldo ficou só.

Aos 12 min, Müller converteu pênalti infantil cometido por João Pereira em Mario Götze.

Aos 32 min, em cobrança de escanteio, Pepe ficou no chão e Hummels ampliou de cabeça.

Quatro minutos depois, Pepe, estúpido como tantas vezes, foi expulso ao agredir Müller.

Müller anotou o terceiro do seu time aos 46 mim, quando Bruno Alves vacilou ao não chutar a bola à sua disposição.

Sem nenhum atacante puro-sangue, a Alemanha escalou um meio-ataque com Lahm, Kross, Özil, Khedira, Müller e Götze.

Boateng, ágil, foi deslocado da zaga para a lateral-direita, com a missão (bem-sucedida) de marcar o CR7.

Lahm atuou de volante, como Guardiola o posiciona no Bayern de Munique.

No segundo tempo, tudo como dantes, embora os alemães, com um a mais, tenham se empenhado pouco.

Aos 33 min, o goleiro Rui Patrício não segurou a bola, e Müller fez seu gol número 3, e 4 a 0 Alemanha. É o artilheiro da Copa que não admitiu empates em 12 partidas e que consagra a Fonte Nova como o estádio das goleadas (antes recebeu Holanda 5 x 1 Espanha).

Eu esperava muito mais de Portugal.

Cristiano Ronaldo penteou a bola como penteia o cabelo, e nada conseguiu.

Chegou a ter um chiliquito, reclamando de pênalti não marcado.

Cobrou falta e acertou a barreira _nos acréscimos, bateu uma com bomba que Neuer salvou.

É mesmo craque, mas um tipo nojento.

Neymar e Messi estrearam na Copa com muita vantagem sobre o CR7.