Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : fevereiro 2014

História: Anselmo, um herói rubro-negro
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Mário Magalhães

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Em 1981, Anselmo vinga em Montevidéu a pancadaria de Santiago – Fotos do grande Almir Veiga

 

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Raul Plassmann, gigante do gol, relembrou hoje no “Globo Esporte” o episódio no qual o atacante Anselmo vingou companheiros que haviam sido abatidos covardemente pelo zagueiro chileno Mario Soto, na batalha épica das finais da Libertadores de 1981.

No programa da Globo, apareceram imagens em movimento da noite em que Anselmo foi à luta. O narrador da época o condenava. Sem o conhecimento do contexto da refrega, Anselmo pode sofrer ainda hoje os respingos da verborragia dos que o avacalharam como vilão.

Anselmo não é vilão, e sim herói da história do Flamengo. Um herói nas suas circunstâncias. Mas herói.

Foi o que contei anos atrás, ao reconstituir o episódio. A reportagem está abaixo.

*

Herói esquecido não se arrepende de ‘soco vingador’

Foi uma frase só: “Entra lá e dá uma porrada no cara!”.

É assim, palavra por palavra, que o funcionário público -de Portugal- José Antônio Cardoso Anselmo Pereira, 47, ainda se lembra da ordem que ouviu do técnico Paulo César Carpegiani 25 anos atrás.

Anselmo comprovou a identidade mostrando o passaporte brasileiro ao bandeirinha e entrou no gramado do estádio Centenário, em Montevidéu. Não se preocupou com a bola, mas com o zagueiro Mario Soto. Faltavam dois ou três minutos para o fim do jogo.

Não se esqueceria daquela noite: “Olhei para o lado, e ele achou que eu ia fazer alguma coisa, porque saiu de perto de mim. Aí teve uma falta, uma bola parada. Quando tocaram a bola rápido, ele estava atrás de mim e passou correndo. Quando passou correndo, senti que ia passar ao meu lado. Virei para trás e dei uma porrada nele”.

Acertou a cabeça de Soto, que desabou. No próximo dia 23, o seu soco completa um quarto de século, e o Flamengo celebra o título da Taça Libertadores.

O timaço de Zico, Leandro, Júnior, Mozer, Tita, Andrade, Raul, Adílio, Nunes e companhia entrou para a história -conquistou o Mundial interclubes três semanas depois. Seus craques também.

Na semana seguinte ao triunfo sobre o Cobreloa, porém, talvez não houvesse para a torcida um herói como Anselmo. Esquecido e feliz longe do Brasil, hoje o antigo centroavante não se arrepende de uma das mais célebres agressões do futebol.

O nocaute que levou à idolatria instantânea feriu a carreira que despontava: Anselmo ficou marcado pela atitude, despediu-se do Flamengo meio ano depois e nunca mais defendeu um clube protagonista.

Não era para se arrepender? “Não. Isso, não! Não é para dizer para alguém fazer, não é exemplo para nada, não tem nada a ver com futebol. Numa época foi até bom, numa época pequenininha. É quando se chega a herói, mas logo se é tratado como maluco, bandido, marginal. Se calhar me prejudicou muito. Mas foi feito.”

Missão

Seu gesto se juntou à antologia nacional que coleciona a cotovelada de Pelé no uruguaio Matosas na Copa de 70, a de Leonardo no americano Tab Ramos na de 94 e a ira de Almir Pernambuquinho, que enfrentou no braço todo o time do Bangu na decisão do Campeonato Carioca que o Flamengo perdeu em 1966.

A diferença é que Anselmo não bateu no calor da partida, não entrou para fazer um gol: seu desafio era derrubar o chileno chamado de “O Verdugo” pelos próprios companheiros.

Nos atuais tempos de Jogo Limpo, a campanha mundial contra a violência, talvez Anselmo fosse execrado. O Cobreloa pediu seu banimento de competições internacionais, mas não houve nenhuma punição.

O fervor da torcida se expressou em uma faixa exibida em meio à multidão que aclamou os campeões no Galeão: “Anselmo vingador”. O colunista João Saldanha exaltou no “Jornal do Brasil”: “Eles acabaram levando o que Mario Soto levou, merecidamente, do Anselmo, que entrou em campo, foi lá, deu-lhe aquela cacetada e cumpriu a missão dele”.

Do Flamengo, Anselmo jamais recebeu homenagem.

Guerra

A guerra concluída no Centenário teve os movimentos iniciais na primeira das duas partidas das finais, no Maracanã. O Flamengo ganhou por 2 a 1, dois gols de Zico.

A segunda foi disputada em Santiago, no estádio Nacional, que oito anos antes servira de campo de concentração no golpe de Estado no Chile.

O Cobreloa fez 1 a 0 com méritos, mas produziu uma carnificina. O cotovelo de Mario Soto quase cegou o atacante Lico, cujo olho esquerdo desapareceu sob o hematoma, e abriu o supercílio de Adílio.

Atletas rubro-negros contaram que o rival golpeava com uma pedra na mão. Com a igualdade, foi preciso um terceiro jogo, em campo neutro.

Anselmo assistiu à batalha de Santiago pela TV, em casa, em Friburgo (RJ). No dia seguinte foi chamado para se incorporar às pressas à delegação, já que Lico não jogaria.

Senhor da bola, o Flamengo se impôs, Zico marcou dois, e a pancadaria prosseguiu. No finalzinho, título decidido, Soto acertou Tita com gosto.

O banco do Flamengo se levantou, revoltado, e Carpegiani mandou Anselmo entrar no lugar de Nunes e revidar. O soco, desferido de frente, fez o zagueiro girar 180 graus antes de cair. O time inteiro do Cobreloa correu para pegar o agressor.

Ele fugiu, escorregou, mas escapou. Foi expulso e levou dois rivais, inclusive Soto.

Jacaré

A vingança transformou o jogador de 22 anos em ídolo. Reserva, ele foi a Tóquio, mas não participou dos 3 a 0 sobre o Liverpool no Mundial.
Em 1982, se transferiu para o Botafogo-SP, cinco anos após chegar ao infanto-juvenil do Flamengo. Esteve em outras seis equipes antes de parar, em 1990, e se mudar para Portugal, onde já atuara.

Vive na localidade de Quarteira, a poucos metros do mar. Pacato, de cabelos grisalhos, acompanha a carreira de dois filhos jogadores de futebol.

Pega jacaré na praia, mergulha, pesca pargos e robalos, diverte-se em peladas. Cidadão de classe média, trabalha na contabilidade de uma escola. Torcia pelo Fluminense na infância. Trocou: “Quem passa pelo Flamengo fica com o coração rubro-negro”.

Não recomenda que o imitem. Não guarda ressentimento, nem se considera injustiçado. E não disfarça o orgulho pelo épico da Libertadores e até mesmo pelo soco, catártico para a maior torcida do Brasil: “As pessoas que viveram aquilo nunca vão esquecer”.

 

Carpegiani reconhece ter dado ordem

Como o sr. se lembra da conquista da Libertadores e do episódio com Anselmo? 

O fato com o Anselmo é pequeno, diante da conquista. A responsabilidade foi minha. Pedi para ele entrar e dar o soco. Sou grato, porque o jogador me atendeu. Depois a direção não queria levá-lo ao Mundial. Bati o pé para ele ir.

O sr. sempre assumiu a ordem.

Pediram para eu dizer que não ordenara. Mas a responsabilidade foi toda minha. Fato negativo, mas ocorreu, em função da partida anterior.

Aos 57 anos o sr. mandaria um atleta fazer o que mandou aos 32?

Não. Aquilo foi num momento quente. Não tenho arrependimento, só que não faria de novo. E repudio quem fizer.

 

O agressor foi a vítima, diz agredido

Em novembro de 1981, Mario Soto tinha 31 anos e era o “xerife” do Cobreloa. A voz afável nada tem a ver com o lugar-comum associado a um vilão. Ele diz que o soco de Anselmo não o atingiu no estádio Centenário, ao contrário do que dizem testemunhas diversas.

O Flamengo reclamou da sua violência já no segundo jogo, em Santiago. 

É como se jogava a Libertadores naquele tempo. O Cobreloa jogou como deveria.

O que o sr. lembra da agressão de Anselmo?

No campo pode ocorrer tudo. O ruim é que foi agressão programada. Pelo que sei, no hotel.

Carpegiani assume a ordem, mas no fim do jogo.

Tiro toda a responsabilidade do jogador. Anselmo foi vítima da decisão de Carpegiani.

Como foi?

Eu estava na metade do campo, e o nosso goleiro gritou “cuidado!”. Anselmo não chegou a me acertar. A única ação antidesportiva foi a de Carpegiani. A mim não causou dano. Causou ao Anselmo.

(Mário Magalhães, “Folha de S. Paulo”, 29/10/2006)


Se os matadores permanecem impunes, novos Rubens Paiva serão assassinados
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Mário Magalhães

Ex-deputado federal Rubens Paiva, cassado em 1964 e assassinado em 1971

 

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As viúvas da ditadura sofrem com uma nova peça, dessas que a senhora implacável chamada história costuma pregar: já não podem dizer que a afirmação de que o cidadão brasileiro Rubens Beyrodt Paiva foi assassinado e desaparecido em 1971 constitui intriga de revanchistas ensandecidos, esses ingratos incapazes de reconhecer alegados méritos da ditadura parida quase meio século atrás.

Agora, quem confirma a farsa do relato oficial sobre o sumiço de Rubens Paiva é um dos atores da encenação, o coronel reformado Raymundo Ronaldo Campos. Seu depoimento foi feito à Comissão da Verdade, em sua versão estadual no Rio (leia aqui).

O ex-deputado federal Rubens Paiva, cassado em 1964, foi preso em janeiro de 1971 e assassinado na tortura em dependências do Exército. Tinha cinco filhos, entre eles meu querido colega Marcelo.

Como se sabia que o militante oposicionista estava sob custódia do Estado, as autoridades inventaram a versão de que ele havia sido resgatado cinematograficamente por guerrilheiros urbanos. Um dos militares que o acompanhavam, conforme a mentiralhada, era Raymundo Ronaldo Campos, que na época participou da fraude e hoje se curva aos fatos: o relatório da Força não passa de obra de ficção.

A União já havia reconhecido o assassinato de Rubens Paiva. A novidade é um dos atores da trama confirmar: como em tantos episódios, o governo da época mentiu, para encobrir o extermínio, ilegal até para a legislação da ditadura.

Os assassinos de Rubens Paiva não foram identificados, muito menos punidos. Há quem sustente, inclusive o Supremo Tribunal Federal, que estariam protegidos pela Lei de Anistia, de 1979. Ocorre que não há nenhuma manifestação explícita daquela norma livrando de julgamento os autores de crimes imprescritíveis contra os direitos humanos, como tortura e desaparecimento forçado.

A Suprema Corte também erra. Não aprovou, em 1936, a entrega da alemã, comunista, judia e grávida Olga Benario para a SS nazista?

Mesmo se houvesse referência a torturadores na Lei de Anistia, o Brasil ainda vivia a ditadura. E ditadura não tem legitimidade e legalidade para se autoanistiar.

Imaginem se os próceres do III Reich tivessem se autoanistiado às vésperas da derrota de 1945. Alguma consciência digna seria contra que eles fossem julgados e condenados?

Até hoje o corpo de Rubens Paiva (1929-71) não apareceu. Como no caso Amarildo, também perpetrado por agentes públicos, embora este tenha sido crime comum, e não político.

Existe uma continuidade histórica entre um acontecimento e outro, separados por 42 anos e meio. A impunidade dos assassinos de Rubens Paiva e centenas de brasileiros durante a ditadura 1964-85 acena para o futuro: podem fazer de novo, que não vai dar em nada.

Os acusados de matar o pedreiro Amarildo estão em cana, mas não se constrangeram em torturá-lo e sumir com ele. No passado não rendeu castigo, por que renderia agora?

Ainda é tempo de responsabilizar os torturadores e matadores da ditadura. Levá-los aos tribunais serviria de advertência às futuras gerações: não reeditem a covardia, porque haverá punição.

Ou seja, deveriam prevalecer os mesmos valores que, justamente, castigaram genocidas da Alemanha, veteranos da Segunda Guerra, do Cambodja, da matança patrocinada pelo Khmer Vermelho, e da Argentina dos generais e seus sócios civis.

Quando crimes contra a humanidade são perdoados, reluz o sinal verde para tudo se repetir.

Não adianta conhecer a verdade se, de posse dela, o Brasil não ensina: quem torturar, executar e sumir com seres humanos vai pagar por isso.

E não basta responsabilizar somente quem sujou as mãos diretamente. É preciso esquadrinhar a cadeia de comando e punir os chefes, até a cúpula.

Muitos repressores já morreram, é verdade. Mas há uma legião deles viva. E impune.


Lições: o que ensina a empolgante goleada do Botafogo na Libertadores
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Mário Magalhães

O atacante Wallyson, três gols no Maracanã - Foto EFE/Marcelo Sayão

O atacante Wallyson, três gols no Maracanã – Foto EFE/Marcelo Sayão

 

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Na noite do reencontro do Botafogo com a multidão de torcedores e com um triunfo eloquente, que o promoveu à fase de grupos da Libertadores 2014, a principal lição é que o time deve jogar no estilo que no ano passado o levou à competição continental. Isto é, para a frente, com a bola no chão. E não plantado, com o empenho defensivo anestesiando a ambição de atacar.

Os empolgantes 4 a 0 de ontem no Maracanã com mais de 50 mil presentes confirmaram o que mesmo a derrota de 1 a 0 no jogo de ida, semana passada na altitude, havia sugerido: o alvinegro tem mais elenco e mais time que o eliminado Deportivo Quito.

A mudança decisiva da primeira para a segunda partida foi a troca de um dos três volantes por um atacante, que foi fazer companhia a Ferreyra: saiu Rodrigo Souto, e entrou Wallyson, consagrado com três gols.

Por mais que o ar rarefeito nos quase 3.000 metros acima do nível do mar da capital equatoriana recomendasse cuidados, o técnico Eduardo Húngaro cometeu um erro. Como gol fora de casa tem mais peso em mata-mata, deve-se ousar mais em viagem, e não no Rio, a não ser em situação de necessidade. Ou seja: três volantes são excessivos, mais ainda longe do Maracanã.

Como o Botafogo rende mais tocando a bola, Elias, que não é nenhum craque, é mais útil que Ferreyra, muito menos. É injusto comparar a frio o desempenho dos dois ontem. Ferreyra acertou uma cabeçada na trave, mas foi mal. Elias substituiu-o aos 21 do segundo tempo e, em meros 13 minutos, participou de dois gols.

A injustiça é que Elias se beneficiou dos contra-ataques proporcionados pela ida do Deportivo Quito à frente. Ainda assim, a ideologia de posse de bola estabelecida por Oswaldo Oliveira exige no ataque o ágil Elias, e não o paradão Ferreyra _ao lado de Wallyson, que depois de ontem deve ser tido como titular.

Outra lição é que o clube e Húngaro estão corretos em priorizar a Libertadores. No domingo, escalaram os reservas contra o Vasco, sabiamente. Campeonato Estadual tem todo ano. Libertadores, fazia 18 anos que a equipe não encarava.

Mais uma lição: a despeito do chocolate, a formação atual está longe do padrão daquela de Oswaldo e Seedorf nos melhores momentos de 2013. Parece heresia, depois do sucesso no Maracanã, mas Wallyson e Elias formam uma dupla limitada. Não se busca o gol somente com os atacantes, é claro, mas o Botafogo deveria investir em contratações, sobretudo de um meia e de um jogador de ataque.

Antes da partida, os torcedores formaram na arquibancada o mosaico “o gigante voltou”. Ao final, cantaram o hino do clube. Grande noite. Na próxima semana, contra o San Lorenzo, mais conhecido como o time do papa, a parada será mais dura.

Como Francisco não joga, as chances do Botafogo aumentam.


Programa ‘Arte do Artista’ sobre a biografia ‘Marighella’ está na internet
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Mário Magalhães

 

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Como escrevi ontem, “Arte do Artista”, conduzido pelo diretor teatral Aderbal Freire-Filho, foi o programa de TV mais espetacular feito sobre a biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras). Leia aqui o post.

O programa foi reprisado ontem à noite na TV Brasil.

Para quem não viu e quiser ver, compartilho uma boa notícia: o programa está no Youtube.

Para assisti-lo, basta clicar na imagem acima.

Bom programa!


Não precisa explicar; eu só queria entender: do que reclamam os bancos?
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Mário Magalhães

Itaú Unibanco tem lucro recorde de

R$4,6 bi no 4º tri e ações disparam

 

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Quem não chora não mama, é verdade, mas as lamentações corriqueiras dos bancos e dos banqueiros contra isso e aquilo parecem caçoadas: as instituições financeiras nunca lucraram tanto no Brasil. Deveriam, isto sim, agradecer ao governo tão camarada.

Volta a ecoar um bordão do Macaco Sócrates, personagem do saudoso programa humorístico “Planeta dos Homens”, que foi ao ar nas décadas de 1970 e 80, na TV Globo.

O macaco martelava: “Não precisa explicar; eu só queria entender”.

Portanto, eu só queria entender: do que reclamam os bancos?

Para quem não viu, eis a reportagem da Reuters, veiculada pelo UOL, informando sobre o novo lucro bilionário do Itaú: leia clicando aqui.


Bis: véspera de eleição, tempo de plantação (ou, em se plantando, tudo dá)
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Mário Magalhães

Na política e no jornalismo, como na agricultura – Foto Fabiano Cerchiari/UOL

 

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Assombrado com a profusão de barrigas (notícias sem fundamento, no jargão jornalístico), tubos de ensaio, chantagens, mentiras, intrigas, recados _tudo travestido como informação e opinião no jornalismo político, reproduzo um post veiculado no blog em julho de 2013.

A acrescentar, um comentário: é incrível que um manjado político fluminense, tido por muitos jornalistas como trambiqueiro, personagem assíduo da coluna do Jorge Bastos Moreno, seja fonte constante e oculta de muitos repórteres e comentaristas. Os colegas embarcam na plantação de “notícias” sem lastro na realidade e cujo único objetivo é pressionar adversários ou mesmo aliados.

Abaixo, o post original.

* * *

Um jornalista talentoso foi designado titular da principal coluna de notas políticas de uma publicação. Cordial, o presidente da República recebeu-o no Planalto para um bate-papo e o cumprimentou: “Parabéns por assumir a pasta da Agricultura”.

O novo colunista sorriu e indagou: “Como assim?”

Citando Pero Vaz de Caminha, o presidente cortou a bola que ele mesmo levantara: “Em coluna política, em se plantando, tudo dá”.

Ele queria dizer que, para ajudar amigos e prejudicar inimigos, não falta quem alimente intrigas e minta, falando reservadamente com jornalistas.

É provável que o presidente apenas tenha preferido não perder a piada, mesmo sem ganhar um novo amigo. Existem colunistas que identificam armadilhas, checam versões e publicam escrupulosamente as notícias que têm lastro nos fatos.

Mas no fim de semana lembrei o episódio que me foi narrado pelo então colunista neófito. À medida que se aproximam as eleições de 2014, surgem cada vez mais informações com cara de que foram plantadas e de que não passam de cascata.


‘Contra o Facebook’, por Marion Strecker
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Mário Magalhães

Ilustração: Alpino, na “Folha de S. Paulo”, 03.fev.2014

 

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O Facebook faz dez anos de vida, e a Marion Strecker faz uma experiência sem Facebook no celular.

Como começou o desafio?

Ela contou em sua coluna na “Folha”. Ei-la:

* * *

Contra o Facebook

Por Marion Strecker

Hoje comecei um teste. Decidi experimentar ficar sem o Facebook no meu celular. Se der certo, vou estender o experimento ao iPad e, quem sabe, também ao computador.

Impetuosa, botei o dedo sobre o ícone do aplicativo e esperei ele começar a tremelicar, como é a regra no iPhone. Ele tremelicou. Respirei fundo e apertei o pequeno xis, que simboliza o apagar. Veio o alerta: se apagar o aplicativo, todos os dados serão apagados também.

Que ameaça! Sei bem que não basta apagar o aplicativo para todos os dados pessoais sumirem do Facebook. Isto requer outro tipo de iniciativa. Então por que mentem?

Para ler na íntegra, basta clicar aqui.


Às 23h, na TV, o programa mais espetacular sobre a biografia ‘Marighella’
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Mário Magalhães

"Folha de S. Paulo", 4.fev.2014

“Folha de S. Paulo”, 4.fev.2014

 

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Dei muitas entrevistas desde o lançamento, há pouco mais de um ano, da biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras). Não é o que eu sei fazer, responder _não passo de entrevistado sofrível. Sou repórter, portanto meu negócio é perguntar.

Encarei grandes entrevistadores, como foi o caso da Míriam Leitão, na Globonews. Estive com muitos outros colegas de, como a Míriam, altíssimo nível.

O programa mais espetacular sobre o livro, contudo, foi feito por um artista, o diretor teatral Aderbal Freire-Filho, condutor do programa “Arte do Artista”, na TV Brasil. A edição sobre Carlos Marighella (1911-69) será reprisada nesta terça-feira, a partir das 23h.

Além de conversar comigo no estúdio, o Aderbal criou uma história. Pelas ruas do Rio, saiu de Fusca, o carro mais usado pelos guerrilheiros urbanos nos anos 1960 e 70. Visitou lugares marcantes da trajetória de Marighella. E interpretou a tensão dos últimos anos de sua vida, já sob a ditadura instaurada em 64.

Em “Arte do Artista”, o grande artista é Aderbal Freire-Filho, que bolou um programa alucinante, como foi a vida do meu biografado.


‘Nunca fomos japoneses’, por Xavi Hernández (em memória de Luis Aragonés)
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Mário Magalhães

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Xavi Hernández e Luis Aragonés, nos tempos de Roja – Foto reprodução internet

 

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Luis Aragonés, o técnico que revolucionou a seleção espanhola, trocando a “fúria” estéril pelo refinamento da posse de bola, morreu de leucemia no sábado.

No domingo, o jornal “El País” publicou “Professor, nunca fomos japoneses”, sublime artigo de Xavi Hernández, gênio do Barça e da Roja, contando como tudo se passou.

Foi com Aragonés no comando que a Espanha venceu a Eurocopa de 2008, abrindo caminho, já sem ele, para o triunfo no Mundial de 2010 e o bi na Eurocopa de 2012.

A elegia de Xavi é tão emocionante e reverente quanto uma apaixonada defesa da combinação de estética e eficiência no futebol.

Só encontrei o texto em castelhano. Ei-lo:

* * *

Míster, nunca fuimos japoneses

Por Xavi Hernández

“Usted no es japonés, usted me entiende lo que le digo”. Me dijo una noche. Le estoy viendo, en la habitación de un hotel y sé que le echaré de menos. Mucho. Porque yo a Luis Aragonés le quería mucho. Y con Luis hablé mucho.

Sabía que no estaba fino, pero nunca pensé que tenía algo tan grave, que se iba a ir tan pronto, tan rápido, de esta manera. “Estoy bien, estoy bien”, me decía cuando le preguntaba. Hablaba de vez en cuando con él, porque para mí siempre, desde el día que le conocí, fue un referente absoluto. Supongo que es el entrenador con el que más horas he pasado hablando de fútbol. Subía a la habitación y hablábamos horas, a veces del estilo “esa es la clave, Xavi, saber a qué queremos jugar”, siempre de la importancia de juntar a los buenos en el campo y también de lo importante que era no tener miedo a nadie, a ningún equipo, por mucho que corran más. “Usted y yo sabemos que la pelota corre más que ellos. Y que la tocamos mejor que ellos”, me dijo.

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.


Imagens contam a história: vingança, herança da escravidão e impunidade
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Mário Magalhães

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Na madrugada do sábado, a artista plástica Yvonne Bezerra de Mello postou o seguinte desabafo-denúncia no Facebook, acompanhando a foto que aqui no blog sai mais abaixo, a terceira:

“Belissimo fim de noite.
Depois de uma reuniao do Aterro Vivo aqui em casa e me preparando para dormir, Alvaro Braga da associação de St. Teresa voltou pars me buscar porque passando de carro na Av Rui Barbosa depois da reuniao, viu um jovem todo machucado, nu e preso a um poste com uma tranca de bicicleta. Tinha sido espancado por uma gangue de moto que costuma roubar aqui nessa minha rua. Acionamos os bombeiros que prontamente vieram e serraram a tranca. Logo depois chegou a ambulancia para levar o jovem. A PM tb foi acionada por mim mas o caso dele necessitava de um hospital.
Violencia no Rio, mais um capitulo”

Como era previsível, os arautos da barbárie se esgoelaram xingando-a de defensora de marginais, quando na verdade ela advoga o primado da lei, e bandido é quem se julga no direito de fazer _alegada_ justiça com as próprias mãos.

A brava Yvonne não há de se incomodar, pois faz décadas que está acostumada a essa histeria. Entre outros bons serviços prestados aos mais pobres, a artista amparava os garotos e jovens que dormiam na Candelária no tempo, duas décadas atrás, em que oito meninos de rua e mendigos foram mortos ali numa chacina.

Três motivos conspiram para a ação perpetrada pela turma que se tratava, conforme o rapaz agredido, como “justiceiros”:

1) vingança. Em vez de encaminhar para a polícia um suposto ladrão que supostamente estaria roubando, os “vingadores” assumem o papel do Estado, surrando, em grupo, o indivíduo solitário. Comportamento típico do caldo de cultura do fascismo. E de covardes;

2) o agredido é negro _e talvez seja menor de idade. Faz 125 anos que a escravidão acabou no Brasil, o que historicamente é o tempo de um espirro. Muito da nossa organização social e da cultura nacional está impregnado pela segregação do passado nem tão remoto, no qual castigos físicos a escravos constavam da lei;

3) a história evidencia que quem fere os mais fracos, mesmo que contra a lei, não costuma ser punido no Brasil. Quando o fraco fere o forte, aí, sim, sai de baixo, a lei se impõe.

Três imagens contam mais da herança da escravidão.

SÉCULO XIX – A pintura abaixo, “Escravidão no Brasil”, é do parisiense Jean-Baptiste Debret, que viveu aqui de 1816 a 1831.

Ficheiro:024debret.jpg

SÉCULO XX – Esta fotografia, consagrada com o Prêmio Esso, foi intitulada “Todos negros” pelo autor, Luiz Morier. Em 1983, o então fotógrafo do “Jornal do Brasil” se deparou com uma blitz policial na estrada Grajaú-Jacarepaguá, cá no Rio. E documentou moradores da comunidade amarrados como outrora. Todos negros.

SÉCULO XXI – Esta é a foto _escurecida, para não identificar o rapaz_ que Yvonne Bezerra de Mello publicou no Facebook. Nu, ferido e preso pelo pescoço, como seus antepassados, o jovem negro é humilhado numa rua do Rio de Janeiro. Os bombeiros o levaram para o hospital.