Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : fevereiro 2014

O Cristo e a Lua, por Antônio Gaudério
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Mário Magalhães

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Esta foto soberba, abre-alas da página do blog no Facebook, é de autoria do Antonio Gaudério, gênio do fotojornalismo.

Foi feita numa madrugada, anos atrás, na praia de Botafogo.

Será que o amigo lá de cima do Corcovado tirou férias e anda esquecido do Rio?


O esquecimento é amigo da barbárie: há 7 meses desapareceram com o Amarildo
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Mário Magalhães

blog - amarildo 7 meses

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Hoje faz sete meses que o Amarildo sumiu _foi sumido_ na Rocinha, na noite de 14 de julho de 2013.

As investigações concluíram que o trabalhador foi assassinado, na tortura, por PMs da dita Unidade de Polícia Pacificadora.

Não basta ao Estado apurar e oferecer provas à Justiça.

É sua obrigação devolver os restos mortais do Amarildo, para que a família possa lhe oferecer um enterro digno.

Parece esquecido, mas ao fundo ecoa o grito da multidão: “Ei, Cabral, cadê o Amarildo?”


A morte passou perto (boa sorte, Adriano!)
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Mário Magalhães

blog - adriano

Adriano regressou ao futebol ontem, pelo Atlético-PR, contra o The Strongest – Foto EFE/Hedeson Alves

 

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Se o Adriano reestreasse, dois anos depois do seu último jogo, por algum time aqui do Rio ou de São Paulo, certamente não haveria o pouco caso que confinou a partida do Furacão a um canal a cabo a que quase ninguém tem acesso.

O imperador entrou no finalzinho da vitória de ontem do Atlético-PR, 1 a 0 contra o boliviano The Strongest, pela Libertadores. Perdeu peso, emerge do inferno. Seu problema Adriano não é sem-vergonhice, mas a combinação de depressão e álcool.

Em 2009, ele dava mais uma volta por cima, conduzindo com o Pet o Flamengo a mais um título nacional. Escalado para escrever um perfil do atacante, eu soube que naquela semana ele não daria entrevista exclusiva, e não deu mesmo. Restou-me uma perguntinha em coletiva, mas não tinha nenhuma passagem mais saborosa para publicar.

Salvou-me o amigo Sérgio Rangel, que contou sobre os pastéis de uma avó do Adriano.

Pois eu fui à casa da dona Vanda, escutei suas  histórias e provei os seus quitutes. Nos dias seguintes, uma romaria de colegas também a visitou.

Que bom que o Adriano voltou à labuta. Tomara que dê certo.

A reportagem de 2009 está abaixo, na íntegra.

* * *

A morte passou perto

Misture meio quilo de farinha de trigo com um copo de óleo e outro de água morna. Adicione sal. Estire com o rolo e recheie com queijo minas. A quantidade de pastéis depende do diâmetro da boca do copo com que se corta a massa.

Frite em óleo muito quente, acompanhado de folha de louro ou dente de alho, para o óleo não queimar. Além de apetitoso, o pastel sai sequinho.

Foi esse quitute que encantou Ronaldo, em Milão, quando ele almoçou na casa do então companheiro de clube Adriano.

A paraibana Vanda França, avó materna do jovem contratado da Internazionale, passava temporada com o neto na Itália e brilhava na cozinha.

“Ronaldo comeu demais”, ela recorda. Depois, o hoje roliço jogador do Corinthians encomendaria mais pastéis ao colega, agora no Flamengo.

Tornaram-se amigos. Ronaldo era um astro planetário. Adriano despontava.

O ano de 2009 marcou a volta por cima dos dois. Ronaldo, 33, renasceu como jogador. Adriano, 27, emergiu do inferno e hoje tenta ser campeão. Em abril, estava morto. Era esse rumor que alvoroçava o Rio.

Após defender a seleção, ele não voltou à Inter e sumiu. Tagarelaram à sua mãe, Rosilda, que o filho falara em dar cabo à vida, desencantado com o futebol. E a namorada o deixara.

Adriano se enfurnou por dias em uma das favelas mais violentas do Rio, a Vila Cruzeiro, onde foi criado. Era ali, no complexo do Alemão, que o jornalista Tim Lopes apurava reportagem sobre drogas em 2002 quando traficantes o apanharam e o assassinaram.

Ainda criança, o coartilheiro do campeonato, 19 gols, assistira a um homem matar outro diante dele. A família lembra que o pai do menino, Almir, gritou “Adriano!”. Em choque, o filho não conseguiu se mexer.

Mais à frente, foi a vez de Almir ser alvejado na cabeça por uma bala disparada em um bate-boca com o qual ele nada teria a ver. Por anos conviveu com o projétil, que não pôde ser retirado do crânio. Morreu do coração, em 2004.

Desencadeou-se o que o próprio Adriano reconheceria como depressão, combinada com abuso de álcool. “Não conseguia dormir”, “busquei refúgio”, contou semanas atrás, ao comentar o suicídio do goleiro Robert Enke, da seleção alemã, vítima de crise depressiva.

A morte é velha conhecida de Adriano. Muitos dos chapas de peladas tonificaram estatísticas de óbito. Vanda, 71, não se esquece de um em particular, Maguilinha. Ignora se quem o matou foi bandido ou polícia. “Era muito amigo da gente.”

A avó morava na beira do campo do Ordem e Progresso, time da Vila Cruzeiro. O neto vivia mais adiante, no morro.

Até Adriano deslanchar, seu pai era office-boy. A mãe foi faxineira, funcionária de fábrica de roupas e vendedora ambulante de churrasquinho.

“Nossa família passou fome”, diz Vanda. “O que é passar fome? É amanhecer e não ter pão para comer, café para tomar. É chegar a hora do almoço e não ter nada. Graças a Deus, ninguém deu para bandido.”

Suas sete filhas e o único filho, bombeiro hidráulico, já não moram na Vila Cruzeiro. Adriano presenteou os tios com casas na zona oeste.

A mãe e a avó moram juntas numa residência de classe média alta na Barra da Tijuca, perto da de Adriano. Vanda, que vivia de faxinas, segue sem escrever a receita de seus pasteis: ela só sabe assinar o nome.

Adriano ostenta símbolos de ascensão comum a futebolistas: carrões importados e coleção de affairs -foi visto, ou associado, com duas garotas do segmento degustação, a Mulher Moranguinho e a Mulher Caviar; e com uma panicat, chacrete contemporânea do “Pânico na TV”. É pai de um casal.

Ele e Ronaldo sucumbiram na Copa de 2006. Têm regalias em seus clubes. No Flamengo, é raro Adriano participar do primeiro treino da semana, na terça. Já nem se explica por quê.

Ciclotímico, ficou fora do jogo contra o Corinthians no domingo por causa de uma queimadura. Culpou um acidente doméstico com lâmpada de jardim. Pode ser verdade, mas quase ninguém acreditou.

Porém, ele responde por 33,9% dos gols e 27,2% das finalizações certas do Flamengo, diz o Datafolha. É decisivo.

Indagado pela Folha, Adriano afirmou que permanecer no topo é mais duro que dar a volta por cima -no futebol e na vida. “Para dar a volta por cima, basta você ter força de vontade, mas se manter ali no mesmo nível é muito difícil”.

“Na vida, tem que aprender sempre, tomar cuidado para não tropeçar. Eu tropecei algumas vezes e consegui me reconquistar devagarinho.”

(Mário Magalhães, “Folha de S. Paulo”, 06.dez.2009)


‘Caso Tinga me fez voltar ao passado’, por Anderson Olivieri
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Mário Magalhães

blog - tinga

Tinga, no jogo da quarta-feira, quando foi alvo de insultos racistas – AP Photo/Karel Navarro

 

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Do Blog do Olivieri:

* * *

Eu tenho um irmão postiço. Foi o futebol que me deu. Sim, o futebol.

Eu tinha seis anos quando o conheci. Ele tinha sete, mas vivência de garoto de quatorze, quinze anos.

Meados de maio de 1989 e , de repente, ele surgiu na sala de aula. Era o nosso mais novo colega, disseram-nos quando foram apresentá-lo à turma.

Nos recreios, ele passou a frequentar a quadra de futebol. Ali começou nossa amizade. Craquezinho, driblava como ninguém.

Também pudera, desde cedo teve de driblar sérios problemas na vida.

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.


No Brasil do Plano Cohen, do Riocentro e do caso PC, todo ceticismo é pouco
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Mário Magalhães

Integralistas, grupo fascista brasileiro dos anos 1930, fazem a saudação tradicional – Foto reprodução

 

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Como todo mundo, com exceção dos sabichões costumeiros, de algumas coisas eu sei, e de outras não.

Sei um pouco sobre o Plano Cohen. Na década de 1930, havia no Brasil uma organização de massas batizada como Ação Integralista Brasileira. Os integralistas, malditos como galinhas-verdes, eram fascistas brasileiros, inspirados em Mussolini. Alguns líderes, como Gustavo Barroso, eram antissemitas nos moldes de Hitler.

A organização mantinha um serviço secreto, comandado por um oficial do Exército chamado Olímpio Mourão Filho. No futuro, logo depois de deflagrar o golpe de Estado de 1964, o então general Mourão Filho diria que, a depender da sua compreensão de política, não passava de uma “vaca fardada”.

Modéstia dele. Certa feita, em 1937, Mourão elaborara um estudo dantesco sobre o que seria uma tentativa de insurreição comunista. O documento, tratando de hipótese fantasiosa (o PCB estava em coma, com os principais dirigentes em cana), foi alardeado pelo governo Getulio Vargas como plano real. Redigira-o um certo Cohen, comunista e, traía o sobrenome, judeu.

Com base na elucubração, transformada pela fraude governista no tal Plano Cohen, Getulio capitaneou um golpe em novembro de 1937, implantando a ditadura do Estado Novo, que só terminaria em 1945. Repetindo: o plano falso serviu de pretexto para o fechamento do Congresso e o alastramento da repressão.

Sei mais um pouco sobre as bombas que explodiram do lado de fora do Riocentro na noite de 30 de abril de 1981. Dentro do pavilhão carioca amontoavam-se milhares de oposicionistas à ditadura (1964-85), para o show do 1º de Maio. Terroristas do Destacamento de Operações de Informações levavam bombas, que por “acidente de trabalho” explodiram com eles. Se os artefatos tivessem sido detonados onde os militares haviam previsto, poderia ter ocorrido uma tragédia.

O atentado do Riocentro foi investigado em um inquérito policial militar fajuto. A ditadura divulgou que o sargento morto e o capitão ferido haviam sido vítimas de sanguinários guerrilheiros de esquerda. Era mentira, como mais tarde a União concluiu e coronéis reconheceram na coleção de história oral da Biblioteca do Exército que trata do ciclo inaugurado com a deposição de João Goulart.

Sei ainda um pouquinho mais sobre as mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino em 1996. O inquérito policial daquele ano propagou que o ex-tesoureiro de Fernando Collor havia sido assassinado pela namorada, que teria se suicidado em seguida. Cascata, como julgou em 2013 o tribunal do júri: Suzana não atirou nem em PC nem em si mesma. Eles foram liquidados por outra ou outras pessoas. Quem? Acusação sem provas não é comigo.

De Jonas Tadeu eu sei que foi advogado de integrante de milícia paramilitar no Rio. Para quem ignora as consequências nefastas da existência dessa gente, não me canso de recomendar o filme “Tropa de Elite 2”.

Mas não sei como Tadeu virou defensor dos dois jovens suspeitos do assassinato do repórter cinematográfico Santiago Andrade. Conheço sua versão, que é a do quase acaso. Mas, saber, não sei.

Sei que Jonas Tadeu é fã da apresentadora Sheherazade, como li hoje em reportagem do colega Sérgio Ramalho. Sobre a musa da intolerância, o advogado pontificou na internet: “Muito bom ter você na televisão, uma jornalista de honra e de imenso senso de dignidade”. Até onde Tadeu pode ir para irrigar valores como os dele e de Sheherazade, eu não sei.

Sei que o advogado disse que cliente seu recebia R$ 150 para participar de manifestações. Não sei se acredito. Houve quem se fiasse em sua afirmação de que um cliente não poderia identificar o outro cliente por desconhecer o rosto. Mais tarde, deu-se o reconhecimento.

Não sei por que interesses mais pontuais Jonas Tadeu milita nesse episódio, embora saiba que ele possa estar apenas representando seus clientes. Será?

Porém, sei que a insistência em “mandantes” e “aliciadores”, em tese legítima, pode servir a interesses bem precisos. Quem mais ganhou com tudo isso até agora? Será que a resposta não é tão evidente como parece a mim?

Em junho de 2013, havia 300 mil pessoas nas ruas, onde agora só aparecem 500. Gritavam, no ano passado: “Ei, Cabral, vai tomar…”. Sei que ter sido favorecido em nada compromete obrigatoriamente o governador, hoje um tanto esquecido.

Quando começa a ser registrado em depoimento que um suposto participante de homicídio viu bandeira de partido x ou y, fica estranho. Eu também vi, mas de muito mais agremiações. Por que umas são citadas e outras não? Querem causar danos a quem não tem vínculos com a morte de Santiago? Será que só eu sei que contribuir com dinheiro para manifestações pacíficas não equivale a patrocinar a violência de outros?

Sei também que a morte de Santiago é infame, assim como justificar seus matadores é outra infâmia. Não chama a atenção que os depoimentos dos principais suspeitos sejam tomados como verdade verdadeira e não como versão?

Não sei onde isso tudo vai dar. Mas sei que, em um país com a nossa história, ceticismo nunca é demais.

Sei também que, até anteontem, um advogado de miliciano não seria acolhido como o arauto da lei e da ordem, acima de qualquer suspeita.

É melhor saber que pouco sei do que sair dando uma de sabe-tudo para, talvez, referendar uma nova caça às bruxas.

Atualização (14.fev.2014, 10h), três observações suplementares:

1) esperei pelos jornais impressos em busca de referências aos R$ 150 que Caio de Souza receberia para participar de cada protesto, de acordo com o advogado Jonas Tadeu. Afinal, o preso deu, na cadeia, depoimento à Polícia Civil. Só encontrei referências dele a um troco oferecido para a passagem no próximo protesto e  à distribuição de quentinhas numa ocupação. Que fim levaram os R$ 150?;

2)  ok, o dinheiro da contabilidade de um certo grupo de manifestantes se destinava a uma festa de Natal com moradores de rua. O que não sei é quem paga o advogado dos dois presos suspeitos de assassinar Santiago. Quem paga? Quem pagou a viagem à Bahia?;

3) que fim levou a história da conexão entre Caio, cujo nome ainda era desconhecido, com Marcelo Freixo? Isso, eu sei, é factoide.


Itaú e ‘revolução’: banco ‘é apartidário’ e não defende ‘posição política’
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Mário Magalhães

 

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O banco Itaú se pronunciou na tarde desta quinta-feira sobre o post “50 anos depois, agenda do Itaú ainda trata golpe como ‘revolução de 1964′”, publicado ontem aqui no blog (leia aqui).

Eis a íntegra da mensagem do banco, em resposta a solicitação do blog.

“O Itaú Unibanco informa que a agenda distribuída aos clientes conta com informações sobre datas relevantes ao longo do ano. O banco é apartidário e, em hipótese alguma, pretende defender uma posição política no conteúdo entregue aos correntistas”.

O post de ontem está abaixo:

* * *

Não constitui novidade histórica a intensa participação dos banqueiros e seus bancos privados no golpe de Estado que depôs em 1964 o presidente constitucional João Goulart.

Nem o financiamento do aparato repressivo de tortura, morte e desaparecimentos forçados, por parcela expressiva de donos de instituições financeiras, nas décadas de 1960 e 70.

O que é incrível, a julgar pela agenda 2014 distribuída pelo Itaú a clientes, é que o tempo pareça ter congelado. No dia 31 de março, a agenda registra o “aniversário da revolução de 1964″.

Como reconhecem as consciências dignas, não houve uma “revolução” meio século atrás, e sim um golpe desferido com as armas da sociedade golpista entre segmentos militares e civis, como os banqueiros (alguns viraram ministros).

“Revolução”, em referência à instauração da ditadura, é palavra consagrada na boca de marechais e generais como Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo, os presidentes-ditadores do ciclo encerrado em 1985.

Quem falava “revolução” eram torturadores como o delegado Fleury, o policial Borer e o então major Ustra _este, vivo, fala até hoje.

A agenda do Itaú também reproduz a data da versão golpista, 31 de março, mas Goulart ainda estava no Palácio Laranjeiras no começo da tarde de 1º de abril. O golpe foi mesmo em 1º de abril, o dia da mentira _os golpistas diziam salvar a democracia.

Pior ainda, o “aniversário da revolução de 1964″ está na agenda no mesmo contexto festivo de outras datas: deveria ser celebrado, feito o dia internacional do livro infantil (2 de abril) e o dia do obstetra (12 de abril).

Já se passaram 50 anos. Passaram mesmo?


Por que derrubaram Jango (5)
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Mário Magalhães

blog - jango salario minimo

Primeira página da “Folha de S. Paulo”, 13.fev.1964

 

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É possível contextualizar a medida, mencionando a dívida volumosa e crescente herdada da administração Juscelino Kubitschek, a inflação galopante, os inegáveis erros de gestão que nem os governistas negariam no futuro, mas o essencial é isto: contra a grita do empresariado, o governo do presidente constitucional João Goulart dobrou o valor nominal do salário mínimo em fevereiro de 1964.

É o que anunciava há 50 anos cravados a primeira página da “Folha de S. Paulo”. Antes do fim do mês o novo mínimo, 100% a mais, entraria em vigor.

Em 13 de fevereiro de 1964, faltavam 49 dias para o golpe de Estado que depôs o presidente Jango.


Flamengo joga com 10, é garfado, luta, perde, mas enche torcida de orgulho
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Mário Magalhães

blog - flamengo versus leon

Valente, time festeja o gol de Cáceres ontem no México – Foto EFE/Ulises Ruiz Basurto

 

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Há vitórias que são como certas comidas, telenovelas e pessoas: insossas, não fedem, nem cheiram.

Muitas derrotas incomodam mais pela submissão ao revés do que pelo placar.

E existem, poucas vezes, resultados adversos que devem encher de orgulho os derrotados. Foi o que ocorreu ontem com o Flamengo, ao perder por 2 a 1 para o León, no México.

A parada não se anunciava fácil. O adversário é o atual campeão mexicano. Embora vencedor da Copa do Brasil, o Flamengo safou-se por pouco de cair para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Vem se ressentindo da perda da dupla Elias e Luiz Antônio, que jogaram muita bola no fim da temporada. A estreia na Libertadores ainda calhou de ser fora, onde o rubro-negro jamais triunfou ao estrear na competição continental. E com o árbitro colombiano José Hernando Buitrago, escalado ontem, time brasileiro não costuma ganhar.

Pois o jogo começou com  o Flamengo esbanjando personalidade, com três mudanças na turma sonolenta que levou três do Fluminense no sábado: Erazo deu lugar a Samir; Muralha, a Cáceres; e Paulinho, a Lucas Mugni.

Aos 5 min, Éverton cruzou da esquerda, quase na linha de fundo, e Hernane acertou uma cabeçada fortíssima, que pareceu ter raspado em mão do goleiro Yarbrough antes de se chocar contra o travessão.

Então, sobreveio a insensatez: aos 11 min, ainda no princípio da partida, Amaral chutou os bagos de Montes e foi justamente expulso. Era a segunda falta da equipe _e daí? Um erro gravíssimo do volante. Futebol é coletivo, mas falhas individuais podem destruir um time. No sábado, Erazo não havia sido o único jogador claudicante em campo, mas o zagueiro equatoriano vacilou nos três gols e contribuiu para o sucesso tricolor, que por sua vez esteve ótimo.

Em vez de se deprimir, o time treinado por Jayme de Almeida cobriu-se de brios e, com dez, foi à luta. Estava bem, até que aos 30 min o árbitro garfou os visitantes ao inventar, descaradamente, um pênalti de Hernane em Gonzalez. Não era pênalti nem no México, nem no Maracanã, nem no aterro aqui perto de casa, nem no raio que o parta. Boselli converteu, 1 a 0.

Cabisbaixo, ao ser roubado? Qual nada: o Flamengo buscou o empate. Aos 37 min, Samir teve chance, depois de cobrança de falta por Elano. Aos 43 min, também na bola parada de Elano, Cáceres cabeceou certeiro: 1 a 1, com a raça dominante no DNA do clube.

No fim do primeiro tempo, com um a menos, parecia que o Flamengo tinha um a mais. Dominou.

Será que o Flamengo jogava tão bem com dez por ter se acostumado em 2013 a ter Carlos Eduardo, hoje barrado, como titular?

O León não se beneficiava de 11 contra dez, e sim de 12: aos 14 min da segunda etapa,  Buitrago apitou outro pênalti, numa ajudinha não tão bandeirosa como da primeira vez, mas igualmente camarada: André Santos chegou duro em Arizala, mas não fez o penal assinalado.

De novo brilhou Felipe, um gigante, melhor rubro-negro ao lado de Cáceres, volante que reapareceu em grande forma, numa atuação soberba. Pois Felipe não se deixou enganar pela cavadinha de Boselli. Aumentou a confiança do time.

Aos 17 min, numa falta pela esquerda, Elano cruzou, e a bola bateu na trave. Mais uma!

O gol da vitória saiu aos 23 min. Em um salseiro na área, após escanteio, Arizala sentenciou, 2 a 1.

O Flamengo voltou a ser atacado, levou bolas na trave, mas não se entregou. Cansado, na altitude de 1.800 metros, batalhou até o fim.

O León fazia cera diante da equipe com 10 e flagrantemente afanada.

Se o Flamengo repetir a atuação de ontem _sublinho: se repetir_ pode ir longe na Libertadores. O desempenho do time foi de encher de orgulho seus torcedores.