Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : fevereiro 2014

Por que derrubaram Jango (6)
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Mário Magalhães

blog - jango fazendeiros armados

Primeira página do “Jornal do Brasil”, 18.fev.1964

 

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A “luta” da manchete do “Jornal do Brasil”, aí em cima, é uma impropriedade ou um eufemismo: não costuma haver “confronto” ou “luta” entre fazendeiros, protegidos por suas milícias de jagunços, e camponeses sedentos de terra. Nem em 2014, nem 50 anos atrás, quando o “JB” publicou essa notícia, no dia 18 de fevereiro de 1964, uma terça-feira como hoje. Não ocorrem “lutas”, mas “massacres”, dada a desproporção de forças.

Ao contrário do que a Europa e os Estados Unidos tinham começado a fazer séculos antes, dividir a terra, a reforma agrária nem engatinhava no Brasil. O país era e continua a ser uma das nações de maior concentração das áreas de agricultura e pecuária em poucas mãos.

Os latifundiários sabiam que as medidas de reforma anunciadas pelo governo do presidente João Goulart não eram radicais, longe disso. Como eles, Jango era um grande estancieiro.

Os proprietários, porém, temiam que as iniciativas tímidas de Goulart servissem de incentivo aos camponeses e assalariados rurais que montavam acampamentos e promoviam ocupações de fazendas na, agora sim, “luta” por um pedaço de terra.

Os herdeiros dos antigos senhores feudais se armaram mais ainda. Não admitiam compartilhar nem mesmo uma área do tamanho de um guardanapo.

Pressionado, João Pinheiro Neto, executivo de Jango para a reforma agrária, reagiu, informou o “JB”: “Pinheiro Neto afirmou ontem que, ‘a cada novo insulto à sua pessoa, responderá com mais trabalho, mais energia e mais obstinação em busca da reforma agrária, que libertará o camponês brasileiro da miséria em que vive atualmente'”.

Em 18 de fevereiro de 1964, faltavam 44 dias para o golpe de Estado de 1º de abril, quando Jango seria deposto por uma conspiração na qual os novos capitalistas do campo reluziam entre os protagonistas.


Biblioteca JFK divulga tesouro documental que Hemingway armazenou em Cuba
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Mário Magalhães

Ernest Hemingway, autor de “O velho e o mar”

 

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“‘Não há nenhuma razão para que um hambúrguer na sertã fique cinzento, gorduroso, fino como uma folha de papel e sem sabor. Podemos acrescentar todo o tipo de gulodices e sabores à carne picada – cogumelos cortados, molho cocktail, alho e cebola aos quadradinhos, amêndoas moídas, uma grande colher de Picalilli, ou o que quer que chame a nossa atenção. O ‘Papa’ prefere esta combinação.’ Começa assim – e a isto segue-se uma lista de ingredientes que inclui duas colheres de sopa de alcaparras, outra de salva picada e um terço de chávena de vinho branco ou tinto – um dos documentos do espólio de Ernest Hemingway (“Papa”, para os que lhe foram verdadeiramente chegados) que a Biblioteca e Museu Presidencial John F. Kennedy, em Boston, pôs no início desta semana à disposição dos investigadores.”

Essa é a abertura da reportagem que Inês Nadais publicou domingo no jornal português “Público”, “Tudo o que sempre quisemos saber sobre Hemingway e nunca tivemos coragem de perguntar” (leia a íntegra clicando aqui).

A novidade é que 2.500 documentos e objetos do Prêmio Nobel de Literatura e autor do romance “O velho e o mar” _que eu estou relendo, por exigência do meu próximo livro_ estão à espera de pesquisadores na Biblioteca JFK.

São preciosidades que contam a história do gênio que viveu de 1899 a 1961, quando se matou. O acervo foi acumulado por Hemingway nas décadas em que morou numa casa, a Finca Vigía, nas cercanias de Havana.

Uma curiosidade do espólio: ao ser anunciado como Nobel pela Academia Sueca, Hemingway recebeu um telegrama da atriz sueca Ingrid Bergman:

“Afinal os suecos não são assim tão estúpidos”.

Além de assombrosamente linda, a moça tinha humor.


Wagner Moura e o filme ‘Marighella’: ‘Acordo e durmo pensando nisso’
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Mário Magalhães

marighella-wagner-reuniao170214

Na sede da produtora O2 Filmes, em São Paulo, da esq. para a dir., Andrea Barata Ribeiro, Fernando Meirelles, Felipe Braga, Wagner Moura e Bel Berlinck – Foto O2 Filmes

 

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“Esse filme é meu grande projeto, acordo e durmo pensando nisso, estou completamente apaixonado e enlouquecido com ele.”

Foi o que o ator Wagner Moura disse à colega Estefani Medeiros, do UOL, na reportagem “Nossa geração não sabe o que é morrer por uma causa” (leia aqui).

Wagner falava sobre sua estreia como diretor de longa-metragem, com um filme sobre a vida do revolucionário Carlos Marighella (1911-69), a ser rodado em 2015. (Transparência: a obra terá como base a biografia que eu escrevi, “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”, editada pela Companhia das Letras.)

Trata-se de uma co-produção de Wagner e da O2 Filmes, produtora de Fernando Meirelles, Bel Berlinck e Andrea Barata Ribeiro.

A O2 (pronuncia-se “o”, como a letra, “dois”) divulgou ontem em seu blog notícias sobre o filme (aqui).

No Twitter, Fernando Meirelles comentou: “Marighella ganhou uma escola com seu nome ontem e agora ganhará um filme”.

O colégio Carlos Marighella fica em Salvador. Até a semana passada, seu nome era Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici.


Palavras malditas (8): vítima fatal
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Mário Magalhães

Na “Tribuna da Imprensa”, em 1986, eu escrevia em máquinas – Foto multtclique.com.br

 

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Para quem vive de escrever, o companheiro mais fiel não é o cachorro, e sim o dicionário.

Sobretudo escrevendo livro, quando muitas vezes a repetição de palavras, em vez de buscar efeito estético e retórico, expõe a prosa involuntariamente suja e a negligência literária.

Assim que ligo o computador, abro a janela da versão eletrônica do Houaiss, abrigada aqui no UOL. Além de informar o significado das palavras, seus verbetes sugerem coleções de sinônimos para amparar minhas aflições. Muito raramente, quando o Houaiss não dá conta, recorro aos volumes impressos do Aurélio e, em cinco tomos, do velho Caldas Aulete herdado de outras gerações.

Eis o que o Houaiss ensina, aqui na tela do notebook, sobre o adjetivo “fatal”:

1 que é inevitável; que ocorre como se fora determinado pelo destino

‹ não havia saída, aquela progressão era f. ›

2 que põe termo, que mata; funesto, mortal

‹ tiro f. ›

3 que leva à infelicidade, à ruína

‹ a mulher f., erro f. ›

4 que é desastroso, nefasto

‹ as ditaduras são f. aos intelectuais ›

5 que não se pode prorrogar

‹ prazo f. ›

6 que prenuncia ou faz prever desfecho trágico ou funesto

‹ paixão f. › ‹ decisão f. ›

* * *

“Letal” é um sinônimo, registra o dicionário, que acrescenta: por considerarem “fatal” um galicismo, puristas da língua preferem o emprego de “mortal”.

Se “fatal” significa o “que mata”, é imprópria a expressão largamente difundida “vítima fatal”.

Alguém ou alguma coisa é vítima de uma fatalidade. Isto é, não é fatal. Vítima de acidente fatal, ataque fatal, descuido fatal, ignorância fatal, conversa fatal, demissão fatal, vacilo fatal, paixão fatal. Mas não vítima fatal.

Até onde eu entendo, a vítima só será fatal num caso assim: vítima de escorregão fatal, a pessoa cai do 22º andar e mata um transeunte que passava pela calçada. Vítima porque foi vítima do escorregão; fatal, porque matou.

 


Daniel Aarão Reis e Marly Vianna debatem coleção ditadura, de Elio Gaspari
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Mário Magalhães

blog - elio gaspari debate

 

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A Intrínseca está lançando as novas edições impressas e eletrônicas dos quatro livros de Elio Gaspari sobre a ditadura (o autor prepara o quinto volume, que tratará do governo do general João Baptista Figueiredo).

Para celebrar o lançamento, haverá um debate amanhã, quarta-feira (19.fev), na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.

A partir das 19h30, com os historiadores Daniel Aarão Reis e Marly Vianna.

Ótimo programa, para quem gosta de história.

(Elio Gaspari, avesso a eventos públicos, não estará presente.)


Assessoria de Freixo corrige informação falsa sobre presença em ato
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Mário Magalhães

A assessoria de Marcelo Freixo enviou uma errata agora há pouco às redações do Rio informando que errou ao divulgar que este blogueiro participaria de ato de solidariedade ao deputado estadual do PSOL-RJ.

A assessoria escreveu:

“A organização do ato de desagravo ao deputado estadual Marcelo Freixo errou ao divulgar que o jornalista Mário Magalhães participará do evento. Pedimos desculpas a todos e todas”.

Antes, centenas de jornalistas do Rio haviam sido informados de que eu estaria presente, não só no ato, mas na mesa que dirigirá os trabalhos. Era mentira.

A informação não procede, como alertei em post anterior, que reproduzo abaixo:

* * *

Assessoria de Freixo mente sobre presença de jornalista em ato

Uma informação falsa está sendo divulgada pela assessoria do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ): nota transmitida à imprensa afirma que este blogueiro, Mário Magalhães, participará de ato público nesta segunda-feira em solidariedade a Freixo.

Desde a década de 1980, este jornalista não participa de manifestações de caráter político-partidário.

Lamento profundamente que a assessoria de Freixo, levianamente, divulgue uma mentira irresponsável.

Deveria ter mais cuidado, até porque tem aprendido na própria carne o que  é ser vinculado a ações com as quais nada tem a ver.

Continuarei a comentar, com a independência jornalística necessária, a investigação sobre a morte do colega Santiago Andrade.

Alertei a assessoria de Freixo sobre a falsidade. Disseram que iriam “ver o que aconteceu”. Não me interessa. Espero uma correção rápida e clara.

Lamentável, profundamente lamentável. É a primeira vez que isso ocorre _associarem-me a manifestação da qual não participarei_ em quase 30 anos de jornalismo.


Assessoria de Freixo mente sobre presença de jornalista em ato
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Mário Magalhães

Uma informação falsa está sendo divulgada pela assessoria do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ): nota transmitida à imprensa afirma que este blogueiro, Mário Magalhães, participará de ato público nesta segunda-feira em solidariedade a Freixo.

Desde a década de 1980, este jornalista não participa de manifestações de caráter político-partidário.

Lamento profundamente que a assessoria de Freixo, levianamente, divulgue uma mentira irresponsável.

Deveria ter mais cuidado, até porque tem aprendido na própria carne o que  é ser vinculado a ações com as quais nada tem a ver.

Continuarei a comentar, com a independência jornalística necessária, a investigação sobre a morte do colega Santiago Andrade.

Alertei a assessoria de Freixo sobre a falsidade. Disseram que iriam “ver o que aconteceu”. Não me interessa. Espero uma correção rápida e clara.

Lamentável, profundamente lamentável. É a primeira vez que isso ocorre _associarem-me a manifestação da qual não participarei_ em quase 30 anos de jornalismo.


Duas vergonhas: Vasco garfado e ‘clássico dos milhões’ com 13 mil pagantes
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Mário Magalhães

blog - vasco gol garfado

Como comentaram as crianças aqui de casa, o que lembra a pose do auxiliar Rodrigo Castanheira, que disse não ter visto a bola entrar? – Foto reprodução UOL/Band

 

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Duas ou três coisas que eu sei de Vasco 1 x 2 Flamengo, jogo de ontem no Maracanã:

* O prejuízo, gravíssimo e decisivo para o Vasco, ao não ter validado um gol em que a bola entrou, não foi limitado à garfada na falta cobrada por Douglas. Como o time abriu o placar mais tarde, teria feito 2 a 0, desenhando uma partida muito diferente, com o Flamengo tendo de se arriscar mais, em busca da virada. Sem contar que a mão grande escandalosa como a de ontem faz qualquer time perder a cabeça.

* Até certos cronistas, daqueles para quem erro de arbitragem não influi em resultado, advogam a introdução do controle eletrônico para checar se a bola ultrapassou a linha do gol. O problema é que, congelada no tempo, a Fifa não muda.

* O árbitro Eduardo Cordeiro Guimarães e o auxiliar de linha Rodrigo Castanheira deveriam, se resta um mínimo de sensatez à Ferj, pegar um gancho longevo. Depois de trucidar o Vasco, o assoprador compensou no segundo tempo, quando Guiñazu deveria ter sido expulso (diretamente ou com o segundo cartão amarelo), ao imprimir suas travas no joelho de Hernane.

* Preços surreais, para campeonatos mixurucas como o nosso estadual aqui no Rio, desmoralizam o confronto que se consagrou como “clássico dos milhões”, por reunir as duas maiores torcidas da cidade. Apenas 13.245 pessoas pagaram ingresso, e a renda não alcançou nem um milhãozinho.

* Se o Douglas se dispuser a jogar e sobretudo suar como ontem, o Vasco terá feito uma ótima contratação. Bela estreia!

* Já o Evérton não vai continuar muito tempo como titular no Flamengo, se não melhorar.

* Em duas jogadas, o Felipe espalmou a bola para a frente, correndo o risco de entregá-la a um adversário, e não para o lado. É uma deficiência antiga, que merece mais treinamento para erradicá-la.

* Na quarta-feira, o Flamengo havia sido garfado no México, contra o León. O que não justifica a vergonha de ontem.


Deu no ‘Diário Oficial’ da Bahia: colégio Médici vira colégio Marighella
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Mário Magalhães

blog - colegio marighella do

“Diário Oficial” do Estado da Bahia, 14.fev.2014

 

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O governo da Bahia encerrou as especulações sobre uma possível recusa da mudança de nome e publicou no “Diário Oficial” do Estado a nova denominação do antigo Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici. A instituição de ensino fundamental, médio e profissional passa a se chamar Colégio Estadual do Stiep Carlos Marighella (Stiep é o bairro soteropolitano onde o estabelecimento se localiza).

A troca foi sacramentada em portaria do secretário da Educação, Osvaldo Barreto Filho, veiculada na sexta-feira.

O general gaúcho Médici (1905-85) governou o Brasil de 1969 a 74, período mas repressivo da ditadura instaurada em 64. Em seu governo, ao menos 29 agentes de segurança mataram o guerrilheiro baiano Marighella (1911-69), que estava desarmado ao ser surpreendido e fuzilado numa rua paulistana.

O pedido para a substituição do nome ocorreu em dezembro, quando houve uma eleição da qual participaram professores, funcionários, estudantes e pais de alunos. O nome de Marighella recebeu 406 votos, o equivalente a 69% dos sufrágios. O do geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001), 128. Perseguido pela ditadura, o célebre cientista teve de passar cerca de uma década no exílio, inclusive durante a administração Médici. Não houve sugestão na escola para que o nome do antigo ditador fosse incluído na cédula. Os votos nulos somaram 25, e os brancos, 27.

A proposta de mudança, ideia antiga de segmentos da comunidade escolar, prosperou depois que alunos da professora de sociologia Maria Carmen organizaram a exposição batizada “A vida em preto e branco: Carlos Marighella e a ditadura militar”. Um vídeo sobre a exposição pode ser visto clicando aqui.

O colégio foi inaugurado e batizado em 1972, quando Médici era o ditador. O general não recebera um só voto popular para assumir a presidência da República _a ditadura tinha acabado com as diretas para o Planalto.

Filho de um operário italiano e de uma negra filha de escravos, o mulato Carlos Marighella tornou-se famoso na Bahia aos 17 anos, ao responder em versos rimados a uma prova de física. Militou por 33 anos (1934-67) no Partido Comunista. Integrou a Assembleia Constituinte de 1946, na qual defendeu, sem sucesso, propostas como o direito ao divórcio e a adoção do 13º salário. Deputado federal, teve o mandato cassado em 1948, por perseguição política. Comandou uma das greves mais rumorosas do século XX no país, a Greve dos 300 Mil, março-abril de 1953, em São Paulo. Desarmado, foi baleado e preso num cinema carioca em maio de 1964, semanas depois do golpe de Estado que depôs o presidente constitucional João Goulart.  Após romper com o PCB, Marighella foi um dos fundadores e dirigentes da maior organização armada de combate à ditadura, a ALN, Ação Libertadora Nacional. Em novembro de 1968, o governo declarou-o formalmente inimigo público número 1. Com o fim da ditadura, a União viria a reconhecer que Marighella poderia ter sido preso com vida em 1969 e apresentaria à sua família um “pedido oficial de desculpas”.

A opinião do blogueiro, que escreveu uma biografia de Marighella, sobre a mudança de nome do colégio pode ser conhecida aqui.

Só na rede pública brasileira de ensino básico, ainda há quase mil escolas com nomes de presidentes da ditadura 1964-85 (leia aqui).