Líder no Datafolha, Garotinho é só um espantalho nas tratativas para 2014
Mário Magalhães
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Político talentoso que é, o deputado federal Anthony Garotinho (PR) provavelmente tem consciência de que são reduzidíssimas suas chances de se eleger novamente governador do Rio de Janeiro. Ao contrário do que sugere sua expressiva e incontestável liderança na pesquisa Datafolha do finzinho de novembro (leia aqui o levantamento completo do instituto).
No cenário com quatro concorrentes mais parrudos, ele ostenta 21% de intenção de votos, contra 15% do senador Lindbergh Farias (PT) e do ministro Marcelo Crivella (PRB), 11% do vereador Cesar Maia (DEM) e 5% do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). A margem de erro é de três pontos para mais e para menos.
Para quem não mora no Estado ou pensa que ele se resume à zona sul carioca, o que dá no mesmo, exponho dois motivos para o sucesso do ex-governador no Datafolha.
Garotinho e sua mulher, Rosinha, por dois mandatos estiveram no Palácio Guanabara (1999-2007, com breve interregno, a administração Benedita da Silva). Desenvolveram ações sociais que ajudaram cidadãos mais pobres, como o projeto dos restaurantes populares, em funcionamento ainda hoje. Por R$ 1, se come (ou se comia) comida honesta. Para quem tem mesa farta todo dia, talvez a iniciativa mereça o rótulo de “populista”. Quem depende de programas dessa natureza para comer ou comer melhor não esquece a autoria.
É por isso que na pesquisa recém-divulgada Garotinho alcança 30% entre os eleitores que ganham até dois salários-mínimos, e apenas 7% entre os que recebem mais de dez.
Outra característica dos governos da família Garotinho foi, ratificando a fidelidade à sua origem, no Norte fluminense, a atenção ao interior muito além da habitual.
Datafolha: no interior, Garotinho bate em 29%. Na capital, despenca para 13%.
Com esse desempenho, por que Garotinho só se elegeria em um cenário muito pouco provável, como um confronto de segundo turno com Pezão, apadrinhado pelo desgastado governador Sérgio Cabral?
Porque a rejeição ao atual deputado é imensa, como demonstrarão futuras sondagens que incluam esse item em seus questionários. Ela decorre sobretudo da reta final do governo Rosinha, em que o caos tomou o Estado. É verdade que o casal elegeu seu candidato em 2006, mas Sérgio Cabral só vingou ao descolar sua imagem da dos aliados em baixa.
Quando Geraldo Alckmin abriu a campanha para o segundo turno presidencial, em 2006, anunciando a parceria com Garotinho, liquidou com suas pretensões, inclusive no Rio de Janeiro. Quatro anos antes, Garotinho amealhara fabulosos 18% dos votos para o Planalto. Foi perdendo eleitores, a despeito do prestígio entre brasileiros evangélicos como ele.
Todo analista minimamente familiarizado com a política do Rio conhece essa realidade. Por isso, nas infindas tratativas de PMDB, PT e PRB sobre a sucessão no Estado, Garotinho virou um espantalho. Ninguém acredita que ele tenha vigor para triunfar, mas seu nome é evocado como espectro: “Olha aí, se a gente não se acertar, o Garotinho vai voltar…”.
Nos últimos tempos, graças à atuação na Câmara e à presença no rádio, Garotinho recuperou alguma influência. Mas nada que pareça capaz de reverter a convicção da maioria dos eleitores de que, com ele e Rosinha, o Estado regressaria à balbúrdia de 2006.
É possível que Garotinho abra mão de novo mandato de deputado, a fim de formar uma bancada mais numerosa, em torno de uma campanha sua a governador (pode dar errado, pois não haveria um puxador de votos à Câmara tão forte quanto ele). Também poderia tentar o Senado, em acordo com Crivella, Lindbergh ou Cesar _para ele, Pezão é o inimigo a ser batido. O resultado no Datafolha vitamina suas condições para negociar.
Mas é só. Eventual retorno de Garotinho ao governo estadual seria a maior surpresa da política do Rio de Janeiro em muito tempo.