Blog do Mario Magalhaes

Documentário sobre tragédia na boate Kiss tem primeiras imagens divulgadas

Mário Magalhães

 

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O filme se chama “Janeiro 27”.

Hoje é dia 27 de novembro.

Parece que faz tanto tempo, mas foi anteontem, na madrugada de 27 de janeiro de 2013, há dez meses cravados: na boate Kiss, em Santa Maria, 242 pessoas, quase todas muito jovens, morreram queimadas em um incêndio. Até agora inexiste punição pela tragédia causada por negligência criminosa.

Acabam de ser divulgadas na internet as primeiras imagens do documentário dirigido pelos cineastas Luiz Alberto Cassol e Paulo Nascimento (clique na imagem acima para assistir).

Não se trata de um trailer, porque as filmagens, iniciadas no fim de outubro, serão retomadas no mês que vem. É um promo, define o jargão do cinema. Uma versão provisória do filme será exibida às famílias das vítimas em janeiro, às vésperas do primeiro aniversário da desgraça.

O documentário foi um pedido de pais e mães de mortos, feito em agosto, no Festival de Gramado, no qual o júri popular concedeu a Paulo Nascimento o prêmio de melhor longa-metragem estrangeiro, com a produção argentina “A Oeste do fim do mundo”.

Cassol, com pegada no documentário, e Nascimento, mais voltado à dramaturgia, são de Santa Maria. Uniram-se para contar o infortúnio da cidade gaúcha onde nasceram. O filme é bancado com recursos da Accorde Filmes, produtora da qual Nascimento é sócio, sem recurso a dinheiro público, inclusive o embrulhado nos eufemismos dos pacotes de “renúncia fiscal”.

Não haverá cenas do fogo na casa noturna, disse-me Nascimento. Ele e Cassol mostrarão “como está a vida” de quem ficou. Os diretores se impressionam como o episódio de dez meses atrás, o tempo histórico de um espirro, vai se tornando “cantinho de página” no noticiário. “No começo, todo mundo era solidário; depois, as pessoas parecem querer evitar o assunto”, testemunha Nascimento.

Ao contrário dos seus personagens, o cineasta não teve parentes mortos na Kiss. Ele e Cassol enviaram ontem uma carta a uma associação de familiares (pode ser lida aqui, no blog do jornalista Claudemir Pereira). Em maio, conheci Carina, a mãe que aparece no promo (Parentes de vítimas temem pizza na CPI da boate Kiss).

Que ninguém espere ou tema apelações em “Janeiro 27”. “A história é dramática demais, não precisamos de melodrama”, diz Paulo Nascimento.