Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : setembro 2013

Um gesto de estadista
Comentários Comente

Mário Magalhães

Presidente Dilma Rousseff – Foto Flávio Florido/UOL

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

O gesto da presidente Dilma Rousseff, ao cancelar (ou adiar; leia P.S.) a visita oficial ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, constitui ato tão eloquente quanto sereno, em defesa da soberania do Brasil.

Pela enésima vez, reitero: se o Brasil tivesse bisbilhotado a maior empresa norte-americana (como agentes dos EUA espionaram a Petrobras) e o próprio hóspede da Casa Branca (como procederam com Dilma), Obama cancelaria liminarmente uma viagem para estas bandas tropicais. Nem seu mais renitente opositor o condenaria.

A vasta arapongagem eletrônica da NSA e da CIA, agências dos EUA, equivalem politicamente a iniciativas de beligerância contra uma nação classificada como amiga pelo Departamento de Estado. Sem uma resposta além da retórica indignada, o Brasil propagaria a impressão de se submeter à condição subalterna à qual se habituou século após século.

Uma coisa é comparar um pibinho, nosso, a um pibão, deles. Outra, considerar que a legislação internacional só vigora para os mais fracos.

Não é rastejando em busca de uma vaga no Conselho de Segurança das Nações Unidas, por mais legítima que seja a reivindicação, que o Brasil será reconhecido como um dos grandes.

E sim exigindo reciprocidade ao tratamento diplomático, nos marcos da lei, que oferece.

P.S.: responsável e sóbria, a nota do Planalto (leia aqui) afirma que “os dois presidentes decidiram adiar a visita de Estado”. Trata-se da linguagem punhos-de-renda típica da diplomacia. Como não há nova data estabelecida, na prática houve cancelamento. É óbvio que Obama “concordou”. Diria o quê? Se Dilma anunciasse que iria, ele “concordaria” mais ainda.


‘Joia rara’: velho folhetim, raro prazer
Comentários Comente

Mário Magalhães

Cena de “Joia rara”: Franz (Bruno Gagliasso) ferido no Himalaia; Foto Divulgação/TV Globo

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

Acompanho pouco TV. Por isso, sugiro que prestem atenção quando sair uma crítica digna do nome sobre “Joia rara”, no blog do amigo Mauricio Stycer, pois aqui vão somente alguns pitacos.

Por causa das autoras, Duca Rachid e Thelma Guedes, eu queria dar uma olhada na novela das seis que estreou ontem na Globo. Tempos atrás me deparei, num hotel, com um capítulo de “Cordel encantado”, obra da dupla. Fascinado, comentei com um pessoal, que me esclareceu que eu era o último a saber da história tão cativante.

Também queria observar como um ator desencarna de um vilão, em “Avenida Brasil”, para viver outro personagem da mesma natureza. Pelo que vi, José de Abreu ensaia mais uma grande interpretação. Seu burguês não parece um malvado caricatural, mas com características comuns a todos nós: o pai que ama o filho e deseja o melhor para ele (o problema são seus valores e métodos, do contrário inexistiria conflito e trama).

Por fim, eu soubera que Domingos Montagner havia lido certo livro ao se preparar para o papel de um líder proletário. Sem pieguice, no roteiro ou na encenação, o ator dominou as sequências em que apareceu.

Meu primeiro susto foi com a superprodução no Himalaia, e as cenas tão bem filmadas, da escalada ao acidente. No mosteiro budista que acolheu um ferido, o nível se manteve. Curvo-me ao lugar-comum: parecia cinema, e não televisão. Por mais que as novelas costumem se esmerar no começo, a equipe da diretora Amora Mautner se excedeu.

Com todo o respeito a José de Abreu, Domingos Montagner e Bruno Gagliasso, muito bem como o mocinho, ninguém brilhou como Nelson Xavier, na pele e na careca de um mestre budista. As autoras se deram ao trabalho de explicar por que o religioso, no Nepal, sabe falar português. Não precisava: é o que vemos, sem espanto, nos filmes de Hollywood.

Iniciada nos anos 1930, a novela, pelo que li, logo pulará para a década seguinte. Eram tempos de conflagração e paixões no Brasil e no mundo. “Joia rara” já dá uma ideia sobre esse cenário, mas que ninguém espere um tratado sociológico sobre o passado.

Ainda bem. Telenovela é na essência folhetim. Portanto, seu propósito é entreter. O amor proibido entre a operária combativa e o filho do patrão já foi contado um milhão de vezes. Nem por isso deixa de emocionar.

Não sei se será assim na novela. Mas, pelo que deu para ver ontem, tem tudo para ser.

Como se não bastasse o bom gosto na fotografia, com o contraste entre a claridade no Himalaia e as cenas sombrias na fábrica e outros ambientes, o capítulo inaugural, classudo, fechou com Milton Nascimento cantando “Nascente”.

Se conseguir driblar o trabalho, logo mais estarei de novo em frente à TV.


Travessa debate redemocratização do Brasil
Comentários Comente

Mário Magalhães

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

A Livraria da Travessa anunciou a programação da sua 9ª Quinzena de Literatura Latino-Americana. Neste ano, o tema central serão os últimos anos da ditadura (1964-85) e a redemocratização do Brasil. Também haverá debates sobre a ditadura uruguaia (1973-85) e os desaparecidos políticos na Argentina.

A “quinzena”, um pouco mais longa, abre no próximo dia 23, sempre na loja da Travessa do Shopping Leblon.

Eis, completa, a ótima programação:

-23/09: Anistia (Cid Benjamin e César Benjamin).

-24/09: Diretas Já (Jorge Bastos Moreno).

-26/09: Riocentro e a direita explosiva (Chico Otávio e Luiz Alberto Fortunato).

-01/10: Abertura e os partidos políticos (Maria Celina D’Araújo).

-02/10: A volta dos exilados (Denise Rollemberg e Edney Silvestre).

-03/10: Desaparecidos na ditadura argentina ( Geneton Moraes Neto e o advogado Rafael Belaustegui).

-08/10: Justiça de Transição: reparações e Comissões da Verdade ( Carlos Fico).

-10/10: A ditadura uruguaia e suas ligações com o Brasil e os EUA (Clara Aldrighi e Luiz Cláudio Cunha).

-11/10: Colégio eleitoral e a eleição de Tancredo ( Deputado Miro Teixeira e José Casado).

-16/10: Fazer teatro e cinema na ditadura (Aderbal Freire-Filho e Ruy Guerra).

 

 


Jornais: cinco PMs devem ser indiciados por tortura e morte de Amarildo; jovem diz que policial pagou por falso testemunho
Comentários Comente

Mário Magalhães

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

Dia de muitas novidades na investigação sobre o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, sumido desde o dia 14 de julho.

Na “Folha de S. Paulo”, os repórteres Diana Brito e Marco Antônio Martins informam que cinco policiais militares devem ser indiciados sob suspeita de tortura, morte e ocultação do cadáver de Amarildo. Inclusive o major Edson Santos, ex-comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela da Rocinha.

O indiciamento formaliza a condição de suspeito. Trata-se de atribuição da Polícia Civil, que conduz o inquérito.

Na última vez em que foi visto, Amarildo estava sob custódia do Estado, levado para a UPP em um veículo da PM.

Em “O Globo”, a repórter Elenilce Bottari conta que um jovem de 16 anos afirmou ter recebido dinheiro de policiais para atribuir o desaparecimento de Amarildo a traficantes de drogas, além vincular o pedreiro a uma quadrilha criminosa.

Eis a abertura da reportagem da “Folha”:

“O ex-comandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, major Edson Santos, e quatro policiais da unidade devem ser indiciados sob acusação de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver do ajudante de pedreiro Amarildo Souza, 43”.

“Ontem o delegado responsável pelo inquérito, Rivaldo Barbosa, da Divisão de Homicídios, e promotores do Ministério Público que acompanham o caso passaram a tarde reunidos discutindo os passos finais do relatório.”

“A tendência é que, além do indiciamento, seja pedida a prisão preventiva dos cinco policiais militares suspeitos de envolvimento com o desaparecimento do pedreiro.”

“Ouvido pela ‘Folha’ no fim de semana, o major Edson Santos disse que as acusações sobre seu envolvimento com o sumiço de Amarildo ‘não são verdadeiras’.”

A íntegra pode ser lida clicando aqui.

O início da matéria de “O Globo”:

“O adolescente que disse ter sido pressionado pelo major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, para acusar um traficante pelo desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza afirma ainda que recebeu dinheiro para sustentar essa versão. Com 16 anos, o menor é uma das principais testemunhas do relatório em que o delegado Ruchester Marreiros, ex-adjunto da 15ª DP (Gávea), pede a prisão da mulher do pedreiro, Elizabete Gomes da Silva, por envolvimento com o tráfico. O relatório faz parte de um processo que está na Justiça. Amarildo sumiu no dia 14 de julho, após ser levado por PMs para a UPP da favela”.

A íntegra está aqui.


A padroeira dos leitores desesperados
Comentários Comente

Mário Magalhães

Balão exibido na Bienal do Livro do Rio – Foto Ana Rezende/Estante Virtual/Divulgação

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

A essa altura do campeonato, não tenho ideia de quantos livros comprei por meio da Estante Virtual. Ficarei surpreso se tiverem sido menos de uma centena. Quando comecei a trabalhar em uma biografia que me tomou nove anos de dedicação, penava para encontrar um título fora de catálogo. Com o site que reúne o acervo de 1.300 sebos e livreiros, tudo ficou mais fácil. Cheguei a pagar a ninharia de menos de R$ 20 por uma obra esquecida da década de 1920.

Leio no Publishnews, informativo do mercado editorial, que 11 mil livros foram vendidos diariamente, em agosto, com intermediação da Estante. Por segundo, há 20 buscas. A reportagem pode ser lida clicando aqui.

Talvez não exista nenhum casamento tão bem-sucedido, entre a internet e as livrarias físicas, quanto este celebrado pela Estante Virtual. Tomara que tenha vida longa.


Injustiça! Peixe do Brasil tinha feiura para vencer campeonato de bicho mais medonho do mundo
Comentários Comente

Mário Magalhães

Peixe miraguaia, em museu de Rio Grande (RS) – Foto Blog Baú de Brincadeiras

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

Não tem desculpa! Seria como eliminarem a Gisele Bündchen da seleção das modelos mais formosas, o Pelé do time dos grandes craques de todos os tempos, a Fernanda Montenegro do elenco das atrizes mais talentosas do planeta. Lamentável, caros súditos da rainha!

Passou-se o seguinte: a Associação Britânica de Ciência promoveu pela internet um concurso para escolher o animal mais feio do mundo. Ganhou um tal de peixe-gota. Tem seus méritos, evidentemente, como se vê nesta reportagem. Alegam que se parece com o ser humano, mas para mim lembra mais um smurf. Outros bichos medonhos estão aqui.

A competição não tem o propósito de humilhar certas espécies, concedamos o eufemismo, desfavorecidas pela natureza. E sim de alertar para sua ameaça de extinção.

Bacana, mas não precisavam abusar da injustiça. No Museu Oceanográfico de Rio Grande, no extremo-sul do Brasil, há uma miraguaia capturada décadas atrás. Um tumor no crânio fez com que o peixe ganhasse aparência de rosto humano, daí que lhe colocaram óculos, numa imagem inesquecível para quase todos que visitam o museu. Não entrou nem na lista de candidatos ao título de mais feioso.

Nas férias de juventude, comi até quase enjoar miraguaias pescadas por parentes num balneário de Rio Grande, a praia do Cassino. Os peixes eram enormes, tinham mais de um metro de comprimento e dezenas de quilos. Dizem que hoje não dá mais miraguaia no Cassino, devido à pesca predatória, mas não sei se é verdade.

Talvez os britânicos desconheçam a miraguaia do museu, preservada em formol. Quem sabe só valesse imagem de bicho vivo.

Mas seria casuísmo, porque uma miraguaia viva não se prestaria a sair mar adentro com o par de óculos que a falecida do museu ostenta com tanta dignidade.