Blog do Mario Magalhaes

O pressentimento do Zagallo e o fator Seedorf

Mário Magalhães

O craque Seedorf, termômetro do Botafogo – Foto Divulgação/Vitor Silva/SSPress

 

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Mal acabara a semifinal da Copa de 98, no velho estádio de Marselha, quando alguém perguntou ao Zagallo se ele pressentira que a seleção prevaleceria sobre a Holanda. Ele disse que sim, ao saber, minutos antes do mata-mata, que o Clarence Seedorf estaria no banco, e não em campo.

A partida foi renhida, e só chegamos aos pênaltis graças à crise da relação entre o Kluivert e a bola. O holandês fez um gol, mas desperdiçou outros tantos e estragou jogadas. Triunfamos nas cobranças, depois de o Velho Lobo motivar seus batedores _houve quem ridicularizasse a cena, para mim comovente.

No meio do jogo, uma colega correu para vomitar no banheiro da tribuna de imprensa, tamanho seu nervosismo. Outro amigo ansioso, chileno-paulista, ficou do lado de fora, batendo papo com um guarda. Um eminente escritor até hoje reitera que não gosta de decisão em pênaltis, porque seriam injustos. Só por isso, ele recapitula em suas crônicas, retirou-se antes das cobranças naquela noite. Minha impressão foi outra: nosso querido imortal, gente boa, estava se pelando de medo de enfartar.

Foi mesmo uma jornada de matar, que só evoco para mostrar como Zagallo, que sabe muito de futebol, já identificava o talento assombroso do Seedorf. Recordei a passagem de 15 anos atrás ao ver o surinamês-holandês macambúzio, na ponta-esquerda do Botafogo, durante todo o primeiro tempo do clássico da quarta-feira contra o Flamengo.

Não jogou nada. Seu time atuou com dez e levou um baile que poderia ter se transformado em goleada. Seedorf errou passes, apanhou da bola, não marcou _uma nulidade. Como tem sido recentemente. Uns dizem que está com os joelhos em pandarecos. Outros, que o clima com os companheiros azedou.  A maioria constata o óbvio: aos 37 anos, não é mais o garoto que fez o Zagallo vibrar ao vê-lo na reserva _ele entrou mais tarde, no Vélodrome. E o calendário dos futebolistas beira a insanidade.

No segundo tempo, contudo, a história mudou. Logo deu para ver que, da solidão no extremo canhoto, Seedorf passou a jogar no círculo central, organizando a equipe. Como seu cérebro, comandou-a na etapa em que encurralaram o Flamengo e deixaram de enfiar o chocolate que as circunstâncias proporcionavam.

Seedorf e Oswaldo de Oliveira são muito inteligentes. Se o velho craque não estava no meio antes é porque devem avaliar que ele não segura o ritmo quando os adversários ainda estão descansados.

É cada vez mais evidente que, com Seedorf bem, o alvinegro vai bem. E vice-versa. Como ele tem jogado mal, o Botafogo decaiu.