Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : agosto 2013

Humilham o Brasil, e Dilma baixa a cabeça
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Mário Magalhães

Glenn Greenwald (esq.) e David Miranda – Foto Ricardo Moraes/Reuters

 

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Primeiro, vieram as revelações sobre a espionagem de brasileiros pelo governo dos Estados Unidos.

O Itamaraty chiou, mas pegou leve.

Afinal, a Dilma visitará o Obama em outubro, e os diplomatas não querem estragar o convescote.

Mais do que isso, acalentam o sonho de um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Os fins, ambiciosos, justificariam os meios, curvar-se diante da arbitrariedade.

Depois, submeteram o presidente da Bolívia, Evo Morales, à humilhação de ter o avião interceptado na Europa, a fim de procurarem Edward Snowden a bordo. Para quem desembarcou hoje de uma longa viagem a Marte, trata-se do técnico que trabalhou para a Agência de Segurança Nacional dos EUA e denunciou a arapongagem high-tech da NSA (a sigla inglesa da agência) e da CIA mundo afora.

O Brasil é a maior potência sul-americana. Reclamou, mas nos modos polidos _ou pusilânimes_ da “carrière”.

Quem muito se abaixa mostra o que não deve, e deu no deu.

No domingo, o cidadão brasileiro David Miranda foi detido por quase 12 horas em um aeroporto londrino, com base na lei local de antiterrorismo. Antes de submetê-lo a constrangimento, as autoridades do Reino Unido avisaram os chapas de Washington.

Miranda não era suspeito de vínculo com o terror. Foi aprisionado para intimidarem seu companheiro, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, radicado aqui no Rio. Foi Greenwald quem informou o planeta sobre a escandalosa documentação sigilosa recolhida por Edward Snowden.

O Itamaraty pede explicações, reclama, mas não encara os governos do Reino Unido e dos Estados Unidos. O palavreado de protesto serve mais para consumo interno, voltado à opinião pública brasileira.

Desde a revelação sobre a espionagem ilegal, o governo Dilma Rousseff, por meio do chanceler Antônio Patriota, recusou-se a tomar uma atitude à altura do lugar que o Brasil aspira entre as nações.

A reação altiva seria oferecer asilo a Edward Snowden, que prestou um serviço ao Brasil ao avisar sobre a intromissão nas comunicações por telefone, e-mail etc.

Patriota, contudo, apressou-se a esclarecer: o Brasil não estava aberto a Snowden, que na falta de opção acabou abrigado pelo governo ultra-autoritário da Rússia.

Patriota e Dilma enrolam. Se querem mesmo resistir à humilhação ao Brasil e a um cidadão nacional, ainda é tempo de anunciar que Edward Snowden seria bem-vindo aqui.

Dá para imaginar a tormenta se, no lugar do Brasil, estivessem os Estados Unidos ou o Reino Unido?


Ei, Sheik, vem jogar no meu time!
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Mário Magalhães

 

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Não, não há duplo sentido no título. Se houvesse, não teria nada demais. O convite é futebolístico.

O que os inseguros machões corintianos fizeram ontem desonra o clube de Sócrates, Casagrande e Wladimir. É indigno da casa que tanto orgulha o futebol brasileiro. Promove a intolerância, quando a história do Corinthians estimula a integração.

Já a bitoca de Emerson com um amigo dá um recado contrário, de direito de ser dono do próprio nariz, da boca, do corpo e do coração. De ser feliz. Uma mensagem de tolerância.

Sheik, se encherem muito a sua paciência, não esquente. Aqui no meu time você será recebido de braços abertos. E terá direito a celebrar seus gols como bem desejar, com soco no ar, cambalhota ou bitoquinha. Nem que seja para incomodar os fascistas e homofóbicos que não merecem vestir a gloriosa camisa do Timão.

 


Missa para um herói
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Mário Magalhães

 

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Rui Moreira Lima era maranhense, mas não um herói brasileiro. No balanço sincero da história, o brigadeiro era um herói da humanidade.

Por uma dessas coincidências, esperou chegar aos 94 anos para partir. Pois foram 94 as missões de combate em que ele decolou com seu caça e pulverizou tropas nazistas no front italiano da Segunda Guerra.

Foi um feito tão incrível que até hoje muitos pilotos custam a acreditar que ele foi capaz de sobreviver a tantas incursões. Na média fria das estatísticas, deveria ter sido abatido dezenas de voos antes. Teve perícia, sorte e uma tremenda coragem.

O piloto da FAB recebeu todas as condecorações possíveis como herói de guerra, de vários países, o que não impediu que os golpistas de 1964 o prendessem e expulsassem da brilhante carreira militar.

Escrevi um livro no qual ele é personagem, “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras). Narro o golpe de 1964 no capítulo “Os aviões ficaram no chão”. Eram os aviões que o então coronel Rui queria enviar da base aérea de Santa Cruz para atacar as colunas golpistas que marchavam de Minas para o Rio. Não precisaria ferir ninguém, contava. Seus superiores não o autorizaram, e ele cumpriu a ordem, como oficial legalista que se orgulhava de ser.

Rui amava o Brasil.

Nesta terça-feira à tarde será celebrada aqui no Rio a missa de sétimo dia em sua memória, como informa o convite acima, publicado ontem em “O Globo”.

O brigadeiro Rui merece todas as honras. Que sua história seja reverenciada, conhecida e inspire a construção de um país mais justo.


Gol anulado de Aloisio indica falta de domínio de fundamento: ele cabeceia de olhos fechados
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Mário Magalhães

Imagem SP Net

 

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Nem o Aloisio reclamou, reconhecendo que foi correta a anulação do seu gol de braço ontem no 0 a 0 contra o Flamengo, como se lê aqui.

O que mais me chamou a atenção foi o atacante são-paulino cabecear de olhos fechados, deficiência que pode ser corrigida ainda na formação dos atletas e que nunca é tarde para ser superada. A falha contribuiu para a bola bater no seu braço, invalidando a finalização.

Nos anos 1970, o Pelé lançou um livro em que dava dicas para jogar futebol. Até de luvas ele aparecia nas fotos, ensinando macetes de goleiro. No capítulo das cabeçadas, do qual eu ainda lembro hoje, quando não tenho mais o livro nem recordo o seu título, o Rei enfatizava que se deve cabecear de olhos abertos.

A cabeçada é um dos tais fundamentos importantes do futebol.

Nos idos da década de 1990, o Telê ironizava, longe dos microfones, que o Elivélton era o único titular da seleção “aleijado”. O motivo era o bom ponta canhoto ser incapaz de dar um passe com o pé direito, outra limitação oriunda do não domínio de fundamento. Com o comentário, o Telê também fustigava o Parreira, então no comando da seleção. No São Paulo, Elivélton era reserva. No Brasil, titular.

Outro problema tricolor ontem, quando o time merecia a vitória, foi um erro técnico do Jadson na cobrança do pênalti. Pênalti se chuta para fora, na trave, nas mãos do goleiro e até dentro do gol. Os melhores já desperdiçaram. Faz parte.

O grave é a essa altura do campeonato um cobrador não tomar muita distância da bola. Qualquer estatística mostrará que quem fica próximo demais da marca dos 11 metros perde mais do que quem toma distância maior. O Sócrates grudou na bola na Copa de 86. Não foi só por isso que errou o penal, mas contribuiu.

Se o Autuori havia mudado o batedor, imagino que tenha orientado treinamento de cobrança. Se no treino o Jadson também ficou excessivamente perto da marca do pênalti, o técnico errou ao não corrigi-lo. Se não treinou, deveria aproveitar a semana sem jogo para treinar.

Que aproveite e instrua o Aloisio sobre cabeçadas.


A TV divulga o slogan ‘O melhor time é o seu’. ‘Só que não’, resmunga a menina
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Mário Magalhães

Será que JJ, presidente do São Paulo, ouviu o slogan? – Foto Blog do Milton Neves

 

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Como a menina de 12 anos tinha teste de português hoje, obriguei-a ontem a estudar. Ela já se divertira muito no fim de semana, e sobrou o horário do jogo Flamengo x São Paulo.

Fizemos um acordo. Ela poderia estudar na sala, de costas para a TV, só olhando os lances perigosos. Na prática, como sabemos, não funciona com quem gosta de futebol. Se tivesse a idade do pai, a filha teria ficado com torcicolo.

Na TV, a ótima transmissão do Premiere, com narração do Eduardo Moreno e comentários do Lédio Carmona. Lá pelas tantas, alguém pronuncia o slogan do canal, “O melhor time é o seu”.

De costas, na mesa, a menina retruca baixinho, com ar pesaroso: “Só que não”.

Torcedores de muitos clubes devem pensar a mesma coisa.

Ela é Flamengo e anda chateada.