Na avenida 31 de Março, há coisa pior do que engarrafamento: o nome
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Com o fechamento de um trecho da avenida 31 de Março provocado por obras na região portuária, os cariocas vão sofrer um pouco mais no trânsito, até o fim de agosto.
Se for por um bom motivo, como parece, sai na urina. Mas as autoridades do Rio poderiam ter avisado, evitando o caos da segunda-feira. O pedaço interditado, das cinco da manhã às duas da tarde, é no sentido Santo Cristo, passando a Presidente Vargas.
Grave é o nome da avenida-elevado. Celebra o golpe de Estado que em 1964 derrubou por força das armas o governo constitucional do presidente João Goulart. Seria equivalente à Alemanha manter hoje praças batizadas como 20 de Janeiro, comemorando o dia em que os nazistas sacramentaram a “solução final”, leia-se genocídio, para os judeus, em 1942. Ou argentinos percorrerem rodovias que festejassem o 24 de março, data de 1976 em que os militares tomaram o poder na marra.
Logradouros com o nome do ditador Emilio Garrastazu Médici se espalham pelo Brasil. Imagina um ginásio esportivo Benito Mussolini na Itália ou uma escola Adolf Hitler na Alemanha… Um dia existiram, já não existem mais.
(Sobre Getulio Vargas: foi ditador de 1937 a 45, mas se converteu em presidente eleito pelo povo, no regime democrático, na década de 1950. É legítimo preservar ruas em sua homenagem.)
O prefeito Eduardo Paes se opõe à mudança do nome da avenida 31 de Março. Também era contra reduzir a tarifa dos ônibus. A roda da história anda, mesmo devagar.
Curiosidade: 31 de março é data que consagra uma fraude. Naquele dia, há quase 50 anos, o general golpista Olímpio Mourão Filho, curtido nas milícias do integralismo, botou sua tropa na estrada Juiz de Fora-Rio. Mas Jango só deixou Brasília em 1º de abril, data verdadeira de sua deposição.
Os golpistas e as viúvas da ditadura 1964-85 sempre fugiram da marca do 1º de abril, dia dos bobos e da mentira. Diziam salvar a democracia. Deu no que deu.