Blog do Mario Magalhaes

Médicos bronqueados – ‘Odeio pobre’, já dizia Justo Verissimo

Mário Magalhães

Artista genial, Chico Anysio (1931-2012) criou e interpretou o personagem Justo Verissimo

 

( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )

Ao contrário de tantos colegas, desgraçadamente não tenho opinião sobre tudo, pelo contrário, nem entendo de tudo, mais pelo contrário ainda.

Ignoro se o projeto de contratação de médicos estrangeiros é bom ou não. Ouço argumentos inteligentes pró e contra.

Também não sei se a extensão do curso de medicina em dois anos, anunciada ontem pelo governo, ajudará ou atrapalhará, embora para um leigo como eu seja simpática a ideia de uma temporada dos doutores na rede pública. Ou seja, atendendo quem não tem plano de saúde.

Uma das poucas certezas é que o Estado costuma operar a favor do interesse privado, e não público. A saúde pública é uma tragédia não porque o Estado a administra, e sim porque a administra como um serviço para cidadãos considerados de terceira classe, os mais pobres. A maioria dos governantes não frequenta hospital público, mas particular. Não constituem exceção os hipócritas que alardeiam excelência da saúde pública e permanecem longe dela ao se tratar.

Outra coisa que eu bem sei é que não se pode generalizar. Há cretinos entre jornalistas, lixeiros, bancários, físicos nucleares, pipoqueiros, em tudo o que é profissão. Como na medicina.

Nas últimas semanas, tem sido grande a grita de muitos médicos. Primeiro, contra o trabalho de gringos nos rincões onde nenhum doutor brasileiro se dispõe a ir, mesmo com salários na casa de dezenas de milhares de reais. Agora, contra os dois anos na saúde pública.

Alguns parecem ser contra qualquer proposta que acuda os mais necessitados. Gente que nunca disse um ai contra o abandono dos pobres agora desfila de cartaz na mão denunciando mazelas e escassez de recursos. Eis uma boa novidade, desde que não queiram barrar medidas emergenciais para amparar doentes e salvar vidas.

Quando certos médicos falam na TV contra mudanças, lembro-me daquele personagem do Chico Anysio, Justo Verissimo. “Odeio pobre”, ele repetia, como um mantra.