Blog do Mario Magalhaes

História – Espionagem da CIA no Brasil é tradição

Mário Magalhães

Capa de boletim da CIA do dia seguinte à morte do presidente Getulio Vargas

 

( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )

Nascida em 1947, na primeira infância da Guerra Fria, a Central Intelligence Agency tem extenso currículo de espionagem no Brasil. O recém-revelado sistema de monitoramento clandestino de e-mails, telefonemas e satélites, em dobradinha com a National Security Agency, é herdeiro high-tech dos esquemas do passado.

Ainda no ano de fundação da CIA, o presidente Eurico Gaspar Dutra prestou serviço à administração dos Estados Unidos com um gesto que nem a Casa Branca se dispôs a compartilhar: rompeu as relações diplomáticas com a União Soviética.

A agência foi muito ativa no derradeiro governo de Getulio Vargas, de 1951 a 54. Até hoje nomes de informantes e agentes atuantes naquela época são encobertos por tarjas, nos relatórios confidenciais já liberados ao conhecimento público. Curiosidade: leia aqui um breve boletim da CIA de 25 de agosto de 1954, dia seguinte ao suicídio do presidente.

Talvez em nenhum período os enviados da “companhia” e seus colaboradores nativos tenham sido tão diligentes como durante a gestão do presidente João Goulart, de 1961 a 64. É o que demonstram documentos originalmente secretos, hoje com acesso permitido. Quanto mais próximo o golpe de Estado que derrubou Jango em 1º de abril de 1964, mais intensa _e ilegal_ foi a atividade da CIA, que conspirou com os golpistas nacionais.

O contraponto foi o desempenho também febril e ilegal de agentes soviéticos, chineses, tcheco-eslovacos e cubanos. O embate subterrâneo de espiões capitalistas e comunistas no país renderia filmes de ação eletrizantes.

Uma das façanhas da CIA na ditadura 1964-85 foi infiltrar um espião na cúpula da maior organização armada de oposição ao regime, a Ação Libertadora Nacional. O italiano Alessandro Malavasi, motorista que levava o militante Carlos Marighella (1911-69) a áreas onde ele pretendia implantar a guerrilha rural, trabalhava para os Estados Unidos. As prestações do Fusca em que Marighella viajava em 1968, com o araponga ao volante, eram bancadas pelo consulado dos EUA em São Paulo.

Nos dias 4, 5 e 11 de 1971, audiências em uma subcomissão do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA foram pródigas em dados sobre atividades no Brasil. Em 1969, Washington tinha 1.104 funcionários aqui a seu serviço. Dos 100 do consulado paulistano, 22 pelejavam na “seção de informações”. A embaixada ficava no Rio.

Para quem tiver interesse e paciência, documentos da CIA oriundos do Brasil ou relacionados ao país podem ser garimpados neste site oficial do governo dos EUA.