Haruo Ohara: imigrante, agricultor e fotógrafo
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Coincidência ou não, o contraste foi evidente. No caso do UOL, trata-se mesmo de coincidência-coincidência. No do Instituto Moreira Salles (IMS), aqui no Rio, o contraste parece conceitual.
Na segunda-feira, o UOL exibiu uma coleção de 13 paisagens supercoloridas de autoria do fotógrafo inglês John Chapple, produzidas com a máquina mais cara do mundo. Na véspera, eu visitara no IMS a fabulosa mostra fotográfica do francês Jacques Henri Lartigue (1894-1986). Bon-vivant de talento abundante, já na infância ele ganhava de presente do pai endinheirado equipamentos chiques e importados.
Em um espaço menor do centro cultural, na Gávea, montaram outra exposição de fotos, de um artista de quem eu nunca ouvira falar até dias atrás: o japonês Haruo Ohara, que vivia do trabalho no campo, mas cuja colheita fotográfica foi ainda mais fecunda que a da terra.
Nascido em 1909, Ohara embarcou no porto de Kobe em 1927. Instalou-se em Londrina e deu duro na lavoura. Sem pai rico e generoso, muito menos contando com máquina metida a besta, dedicou-se à fotografia como amador. Suas fotos são tão lindas e tocantes quanto as de muitos craques do fotojornalismo que retrataram o século XX em preto & branco.
Ohara registrou o trabalho, as brincadeiras, os cenários e os prazeres no campo. Ao contrário dos horizontes sem gente de John Chapple, ele gostava de fotografar pessoas. A imagem do arco-íris não teria o mesmo fascínio sem as crianças, hipnotizadas, admirando-o. Um humanista, como o descreve a apresentação da mostra, com curadoria de Sergio Burgi.
Morto em 1999, Ohara deixou um acervo riquíssimo, com 18 mil negativos e as máquinas com que fotografava. Sua família doou a coleção ao IMS, em 2008. Cento e dez fotos compõem a exposição, que já passou por Londrina, Curitiba e São Paulo.
Informações sobre horários, visitas guiadas, debates, filmes e eventos relacionados à obra de Haruo Ohara podem ser consultadas aqui.