Na Casa de Tereza, um banquete baiano
Mário Magalhães
( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )
Em Salvador
Que santos e orixás me perdoem o sacrilégio, abrir com uma foto da sobremesa o elogio de um magnífico restaurante de comida baiana.
Explico-me. Todas as iguarias salgadas estavam tão boas que eu me esqueci de fotografar, eis a pura e humilhante verdade. Mas observo que o sorvete de tapioca com calda de frutas vermelhas e tuille de chocolate, batizado como Torta Mulata Assanhada, saiu-se esplêndido. E belo, sobre uma mesa coloridíssima, com pintura original.
É assim nesta Galeria Yemanjá, uma das quatro salas temáticas da Casa de Tereza, no bairro boêmio do Rio Vermelho, em Salvador: a pintura das mesas, as peças de arte nas paredes e a decoração têm como autores 11 artistas da Bahia. As outras salas do restaurante reverenciam os terreiros de candomblé, as igrejas barrocas e o artista plástico Bel Borba.
Mais importante que o ambiente, que também conspira para o prazer, são as obras de arte servidas pela cozinha comandada por Tereza Paim, a chef que dá nome ao estabelecimento inaugurado em 2012. É a sua segunda casa, mais propriamente um casarão, reformado durante dois anos. Ela já era dona do Terreiro Bahia, na Praia do Forte, uns 50 quilômetros ao norte de Salvador.
A Torta Mulata Assanhada foi o doce epílogo de um memorável jantar, que eu compartilhei com o a senhora C. e o senhor P., cúmplices de incursões nem sempre bem-sucedidas por mesas Brasil afora.
Tereza Paim se projetou ao introduzir variações em torno dos ingredientes clássicos e essenciais da culinária de sua terra. Esteve há pouco mostrando suas criações como convidada do Madrid Fusión, badalado congresso internacional de gastronomia.
É sempre arriscado. Há quem experimente demais, descaracterizando as raízes. E quem ouse pouco, variando apenas as pitadas de sal e pimenta. Os magos dos últimos anos foram chefs bascos e catalães, com uma revolução no fundo fincada profundamente na comida tradicional daquelas regiões da Espanha.
Com Tereza, os riscos não desandam a receita. Ela celebrou os sabores ancestrais, com um banquete que só não foi mais lauto porque os comensais já haviam se extasiado. E não tivemos disposição de enfrentar a maratona do menu degustação. Ficou para a próxima.
A primeira entrada foi uma telha de beijus com gratinado de siri.
Seguiram-se pequeninos acarajés com vatapá e camarão seco.
Sobrevieram, talvez no ápice da noite, camarões empanados com batata-baroa (chamada aqui, como em São Paulo, de mandioquinha) e caldo de maracujá.
Próximo passo, o mix de fritinhos, com três bolinhos diferentes: de peixe, camarão e feijoada com couve.
Tudo em companhia do branco Esporão Reserva, vinho português honesto.
Depois desse repasto bestial, quem haveria de encarar prato principal?
Nos três, de boa! Repartimos um, porque aqui inexiste o abuso de proibir divisão de prato, tão comum noutras paragens.
Já não lembro quem teve a ideia do vermelhinho frito, mas sei que me pareceu um tanto depressiva, no contexto da exuberância do cardápio. Como a fome já era pouca, não me opus. O peixe chegou à mesa protegido por uma crosta muito crocante. O resultado? Veja o que sobrou:
Enquanto a segunda garrafa de vinho era esvaziada, raspamos a sobremesa, também dividida.
A conta? Menor do que seria na churrascaria rodízio localizada a centenas de metros. E abaixo do que cobraria qualquer restaurante do Rio e de São Paulo com o mesmo padrão.
Para quem quiser conhecer melhor e ver mais fotos… a Casa de Tereza tem um site. Nele há também receitas, como esta de bobó de camarão.