Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : maio 2013

Arma que matou PC Farias e namorada não tinha digitais de Suzana, cujas mãos estavam sem chumbo. Depois de simulações, perito concluiu: Suzana não atirou
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Mário Magalhães

Suzana Marcolino e PC Farias, mortos, em junho de 1996

O revólver Rossi 38 Special do qual comprovadamente saíram as balas que mataram Paulo César Farias e Suzana Marcolino em junho de 1996 não tinha nenhuma impressão digital da namorada de PC.

O tipo de munição usada nos crimes contém chumbo, bário, antimônio, cobre e zinco. Todos os exames laboratoriais detectaram ausência dessas substâncias nas mãos de Suzana.

Apesar de todas essas constatações, a primeira investigação da polícia de Alagoas sustentou em 1996 que Suzana assassinara PC com um tiro e se suicidara em seguida, também com um só disparo certeiro.

Em 1999, uma nova investigação policial descartou a versão de homicídio-suicídio, concluindo que PC e Suzana foram mortos por outra (s) pessoa (s). A ausência das digitais da namorada na arma, e a inexistência de chumbo, bário, antimônio, cobre e zinco nas mãos contribuíram para o indiciamento de nove pessoas por duplo homicídio.

Em seguida, o Ministério Público denunciou (acusou formalmente) oito delas. A Justiça entendeu haver provas para levar quatro seguranças de PC a júri popular (ou seja, pronunciou-os). O julgamento começou ontem em Maceió, quase 17 anos depois do crime.

Em outras palavras, a polícia (no inquérito), o Ministério Público (na denúncia) e a Justiça de Alagoas (no pronúncia) consideraram haver provas de que a versão original de 1996 (homicídio-suicídio) estava incorreta.

PC Farias foi o caixa de campanha de Fernando Collor de Mello em 1989. Até o impeachment do presidente, em 1992, PC operou um esquema de corrupção em torno do Planalto. Paulo César e sua namorada Suzana Marcolino apareceram mortos numa casa de praia de Maceió em junho de 1996.

Teste de digitais

As conclusões policiais divergentes em 1996 e 99 se fundamentaram em laudos de equipes diferentes de peritos. Um dos integrantes da primeira equipe afirmou que não havia digitais de Suzana na arma porque a superfície do cabo é “rugosa”. Essa equipe não fez nenhum teste específico para sustentar a hipótese.

Em 1997, o especialista em balística Domingos Tochetto, então professor da Escola Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul, simulou o que teria ocorrido se Suzana tivesse mesmo atirado.

Foi usada uma arma igual à que matou PC e Suzana. Vinte pessoas _17 mulheres e três homens_, a pedido de Tochetto, carregaram o revólver e o empunharam. Não ficaram registradas impressões digitais no cabo, mas em todos os 20 casos foram deixadas duas ou três impressões na armação e no tambor, onde se acomodam as balas.

Essas partes da arma são feitas de aço inoxidável. “Haveria algum indício se o revólver tivesse sido manipulado por Suzana, haveria impressão digital”, concluiu Tochetto.

Mais: mesmo que alguém depois tivesse limpado as digitais, as de Suzana teriam permanecido no tambor, se ela tivesse carregado a arma com projéteis, afirmou o perito.

Suzana teve morte instantânea. Não teria como ter limpado a arma depois de se matar.

Chumbo, bário, antimônio, cobre e zinco

Outro exame feito por Tochetto, tido como o maior especialista em balística forense no país, demonstrou que, se Suzana tivesse dado pelo menos um tiro na madrugada de 23 de junho de 1996, teria de haver vestígios de chumbo, bário, antimônio, cobre ou zinco em suas mãos, o que não existia.

Tocheto produziu seu laudo a pedido do Ministério Público de Alagoas. Assim eu descrevi seu teste em uma reportagem na “Folha de S. Paulo” em 1999:

“Tochetto se baseou em três exames residuográficos. O primeiro recolhimento de material das mãos de Suzana ocorreu na casa onde ela e PC morreram, o segundo no Instituto Médico Legal de Maceió, horas após as mortes, e um terceiro na necropsia feita dez dias depois.

Nas três vezes, não foram encontrados os elementos que deveriam ter ficado em pelo menos uma das mãos caso ela tivesse disparado.
Quando o revólver projeta a bala, são expelidos chumbo, bário e antimônio.

A ‘camisa’ que envolve a bala tem cobre e zinco.

Em 1997, Tochetto co-assinou um contralaudo do caso PC que chamava a atenção para a ausência dessas substâncias.

Só com o teste feito agora, porém, foi possível obter uma conclusão definitiva de que Suzana Marcolino não atirou.

Na simulação, uma mulher atirou com arma igual à que matou PC. Uma câmara gravou, e o computador mostrou em câmara lenta uma nuvem de pó indo em direção à mão da atiradora.

A seguir, recolheu-se material das mãos da atiradora com método igual ao que os peritos usaram em Alagoas. Em laboratório, se comprovou, em várias situações, que pelo menos uma das cinco substâncias foi encontrada.

Como não havia nenhuma das cinco nas mãos de Suzana, ela não teria nem matado PC nem se suicidado, na opinião do perito. A presença de pólvora nas mãos de Suzana não quer dizer, diz Tochetto, que ela atirou, mas que manipulou um revólver _ou alguém passou suas mãos sobre a arma”.

Os laudos produzidos por Domingos Tochetto constam do processo do Caso PC.

Ignoro se ele deporá ou não no julgamento em curso em Maceió.

(Para acompanhar o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )


Muito obrigado & aviso aos navegantes
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Mário Magalhães

 

Amig@s, dois toques:

1) muitíssimo obrigado pelas boas-vindas ao blog e ao blogueiro. É um prazer encontrar aqui novas pessoas e rever tanta gente de quem eu gosto, mas que o tempo tratou de afastar;

2) como eu dissera, o blog é dado a “viajar” por outros temas e interesses. Pois, de hoje até o fim da semana, ele vai se concentrar no julgamento de quatros seguranças de PC Farias. Como sabem alguns, em 1999 eu dediquei quase integralmente a esse assunto minha vida de repórter, viajando umas oito vezes a Maceió. Li e reli o processo até perder a conta, contribuí com alguns colegas para descobertas que resultaram em reviravoltas na investigação. Uma parte do que aprendi sobre as mortes de PC e Suzana Marcolino será compartilhada aqui, a partir desta manhã.

Até daqui a pouco.


Empolgante e comovente, ‘Somos tão jovens’ reconstitui as paixões e o ‘nascimento’ de Renato Russo
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Mário Magalhães

Thiago Mendonça, em sua soberba interpretação de Renato Russo, em “Somos tão jovens”

 

Sei, tudo bem, que o porvir, daqui a muito tempo, é que definirá com mais sobriedade o tamanho artístico do Renato Russo. Mas, hoje, eu o tenho, sim, na condição de gênio.

Por isso mesmo, fui para lá de desconfiado assistir ao filme “Somos tão jovens”, de Antônio Carlos da Fontoura, sobre os anos de formação musical em Brasília do líder da Legião Urbana. Contar com narrativa de ficção um pedaço da história de um gênio não é a mesma coisa que contar um pedaço da história de um mortal como quase todos nós.

A despeito dos meus temores, o filme é belíssimo, com tantos méritos que descrevê-los tomaria bem mais espaço do que gastarei aqui. A estética não é nem a dos filmes de arte europeus a que Renato Manfredini Júnior (nome de batismo de Renato Russo) assistia nas décadas de 1970 e 80 _e eu continuo assistindo_ nem a de “A rainha diaba”, filme de Fontoura, de 1974, cujo DVD guardo em casa.

Trocando em miúdos, poucas ousadias e experimentações, em favor de uma estrutura convencional. O que não implicou vulgarizar o filme. Seria muito fácil produzir videoclipes com os shows mambembes do Aborto Elétrico e da Legião Urbana, as duas bandas de Renato. Fontoura reconstitui com dicção de documentário as apresentações, dando-lhes ainda mais vida, reforçando a pegada (a exceção de que recordo é “Ainda é cedo”).

Havia o risco de pasteurizar o protagonista, tornando mais palatável uma pessoa sabidamente irascível. Fontoura foi de uma honestidade impressionante: a figura era mesmo difícil e complicada, ele deixa claro. No episódio em que o baterista Fê Lemos atira uma baqueta em Renato, que decide deixar o Aborto, antes de voltar atrás, o diretor não sonega que o cantor deixara os dois companheiros na mão, antes de um show. Fê tinha suas razões, e Renato tivera seu motivo para entrar em crise. Não direi qual era para não estragar a surpresa.

Outra tentação talvez fosse sonegar a homossexualidade de Renato, para torná-lo menos controverso. Pois suas paixões por homens permeiam todo o filme, inclusive com a declaração dele, bêbado, ao guitarrista Flávio Lemos, como eu havia lido no livro-referência “Renato Russo – O filho da revolução” (Agir, 2012, 2ª edição), de Carlos Marcelo, creditado como consultor do roteiro de “Somos tão jovens”.

Fontoura poderia ter cometido um final de provocar desidratação, de tanto choro, nos cinemas. “2 filhos de Francisco” seria lembrado como um filme gélido. Em vez disso, exibe ao final a Legião “verdadeira”, com Renato Russo no vocal. Singelo, contido, sem apelação.

Outra grande sacada foi escalar o ator Thiago Mendonça _que desempenho!_ para cantar, em vez de usar os originais da Legião e a voz do Renato real. Marion Cotillard ganhou merecidamente o Oscar dublando Piaf, e não seria pecado reeditar a fórmula. Com a coragem de dar o microfone a Thiago, tudo soa, por mais paradoxo que possa parecer, mais autêntico. Inclusive a evolução vocal do personagem Renato.

Diante de apostas tão certeiras como essa, ficam menores tropeços como o personagem Herbert Vianna. Quando Herbert aparece em cena, a plateia ri, porque foi feita uma imitação do cantor dos Paralamas do Sucesso, sobressaindo a voz anasalada. Lembra show de humor.

Do início ao fim, “Somos tão jovens” consagra a ideia de que é possível fazer bom cinema no Brasil sem abrir mão do apelo de público.

Para quem aterrissou ontem na Terra, “Somos tão jovens” é um verso de “Tempo perdido”, clássico da autoria de Renato, lançado em 1986 no LP “Dois”, da Legião. Nessa mesma composição ressoam os versos “Não tenho medo do escuro/ Mas deixe as luzes acesas/ Agora”.

Com toda a recusa de Antônio Carlos da Fontoura pela emoção fácil, o filme é emocionante do começo ao fim. Ele abre sedutor, com os acordes iniciais de “Tempo perdido”. E fecha, antes das imagens da Legião “autêntica” sobre o palco, com o anúncio de um convite para viajar ao Rio e tocar no Circo Voador.

É claro que eu me lembrei de ir ao velho Circo, já na Lapa, assistir à Legião, entre o segundo semestre de 1984 e o primeiro de 1985, convidado pela amiga Graciela. Como eu não era roqueiro, embora gostasse de rock, não os conhecia.

Renato tinha quatro anos mais do que eu. Éramos mesmo tão jovens.

( Para companhar o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )


Minimizar título do Botafogo é maldade contra o futebol
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Mário Magalhães

Foto de Júlio César Guimarães/UOL

Há mesmo coisas que só acontecem com o Botafogo, como sustenta a sabedoria popular: em meio a um triunfo acachapante e justíssimo, o título estadual de 2013, vencendo a Taça Guanabara e a Taça Rio, sem permitir nem a final, não é que o alvinegro é alvo de subestimações, por conta de fiascos alheios?

Se o Engenhão ameaça ruir, a culpa não é do Botafogo, que, pelo contrário, superou a perda de sua “casa”. Conquistar o campeonato em Volta Redonda, longe do Rio, foi outro feito. E daí que Flamengo e Vasco não participaram da competição? Ou participaram, e eu não notei? Se o Fluminense estava com a cabeça, com razão, na Libertadores, não é problema do Botafogo. Campeonato inchado, sem público… Só agora descobriram? É fato que há de mudar a fórmula, mas em que a estrutura atual diminui o feito do Fogão?

O Botafogo é campeão com o maior presente que se pode dar ao futebol: aliando beleza e competitividade, o êxito da estética.

O técnico Oswaldo de Oliveira cansou de ser ridicularizado por pretensamente querer imitar o fantástico jogo do Barça. “Faltam só o Messi, o Xavi e o Iniesta”, tripudiavam.

Com a chegada do Seedorf, o melhor jogador do campeonato, tudo melhorou. Muita gente passou a acompanhar mais assiduamente as partidas do Botafogo só para ver o surinamês/holandês em campo.

O uruguaio Lodeiro é outro jogador muito bom. Impressiona como, ao contrário de tantas revelações da base do Flamengo que sucumbiram ao tempo, Fellype Gabriel evoluiu longe da Gávea. Oswaldo tem estrela: até o atacante Rafael Marques, que não é lá muito íntimo da bola, começou a fazer gols.

Ontem, no 1 a 0 contra o Fluminense, não faltaram nem os dois gols garfados. No primeiro e no segundo tempos, o Botafogo colocou duas vezes a bola para dentro, mas os gols foram anulados. Um, por falso impedimento. Outro, para assinalar um pênalti vencido, cuja cobrança não foi aproveitada _sim, por Seedorf, mas ele pode.

Diminuir o campeonato do Botafogo não diminui o clube, ao contrário do que se pode pensar. Diminui o futebol. Porque, jogando como está jogando, o Botafogo campeão é uma vitória do futebol.

( Para acompanhar o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )


O Rio de Janeiro continua sendo
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Mário Magalhães

Foto clássica de Antônio Gaudério, feita numa madrugada carioca

Poucas semanas atrás, zonzo com um turbilhão de notícias, comentei: parece que tudo, de bom e de ruim, está acontecendo aqui no Rio. Como cantara Gilberto Gil em “Aquele abraço”, “o Rio de Janeiro continua sendo”.

Às vezes, o bom e o ruim se amalgamam, como o Maracanã comprova: o novo estádio é belíssimo, mas sangra os cofres públicos com um apetite que na origem as autoridades haviam prometido inibir.

Há mais exemplos, como na cultura. Multiplicam-se eventos gratuitos, o que é ótimo, porém muitos produtos culturais nunca custaram tanto.

E há o que é só ruim: o toró que cai nesse começo de manhã, além de provocar o caos no trânsito, ameaça resultar em tragédias. A culpa não é da natureza, mas do descaso.

O blog que dá a largada hoje é radicado no Rio e ama o Rio. Como informa o resumo aqui ao lado: “Assim como o blogueiro, o blog nasceu no Rio, vive no Rio, vibra com o Rio e por isso mesmo cobra que o Rio seja bem tratado como merece. O blog também adora viajar por outras cidades, Estados, países, temas e interesses”.

É isso mesmo, o blog é fã do Rio e dos cariocas, mas não quer fazer papel de bobo. Ou seja, não baterá palma para quem nos maltrata.

Caberá de tudo aqui: futebol, um monte de outros esportes, cinema, teatro, livros de ficção e não ficção, música, política, televisão, artes plásticas, economia, temas do cotidiano, alta e baixa gastronomia, segurança pública, modas, educação, transportes, comportamento, gente, história, ideias, jornalismo e o que mais me parecer relevante ou interessante.

Compartilharei o que vejo, ouço, penso, provo, sei, leio, assisto, descubro e sinto. Em notícias, reportagens, artigos, crônicas, entrevistas, notas, comentários, imagens e pitacos de toda ordem.

O blog viajará bastante, sem (andando Brasil e mundo afora) e com (abordando assuntos distantes do Rio) aspas. É possível que eu fale mais do catalão Pep Guardiola, o brilhante sucessor do mineiro Telê Santana, do que de quase todos os técnicos de futebol brasileiros.

Com um blogueiro que foi feliz vivendo em quatro lugares _Rio, Pelotas (RS), Cascais/Lisboa e São Paulo_, aqui não haverá espaço para bairrismo. Idem para flertes com a intolerância e a barbárie.

Também este não será um blog com espírito “justiceiro”, com delírios de prerrogativas próprias da Justiça, e não do jornalismo, embora não vá faltar opinião. Uma coisa é defender ideias, outra é não reconhecer a legitimidade das opiniões alheias.

Por mais idiossincrasias com que o blogueiro possa tingir o blog, vão imperar os princípios e métodos do que se convencionou classificar como jornalismo de qualidade. Uma palavra os sintetiza: escrúpulos.

Minha experiência como autor de blog é nenhuma. Por isso, rogo generosidade e paciência com minhas mancadas, sobretudo técnicas, que de início não serão poucas. Tentarei evoluir, para usar todas as mídias possíveis, um dos maiores encantos de um blog, especialmente para quem passou a vida profissional no jornalismo impresso. Já foi dito, mas enfatizo: por mais pessoal que seja, este é um blog jornalístico.

No jornalismo, poucos fantasmas me assombram como o de ser previsível, contar o que as pessoas já sabem, comentar o que já lhes ocorreu. Torquato Neto e Gilberto Gil, nos idos dos anos 1960, expuseram o drama em “Domingou”: “O jornal de manhã chega cedo/ Mas não traz o que eu quero saber/ As notícias que leio conheço/ Já sabia antes mesmo de ler”.

Sortudo, escreverei diante de uma janela voltada para o Pão de Açúcar, apesar de um prédio de arquitetura pornográfica me roubar uma parte da vista. Para este post abre-alas, preferi a imagem do Cristo Redentor diante da Lua, uma fotografia célebre do meu amigo Antônio Gaudério, que já morou aqui na esquina, mas hoje está em São Paulo.

Desculpem o lugar-comum, mas o Corcovado e o Pão de Açúcar são mesmo tremendas inspirações para tentar evitar, todos os dias, que eu venha a merecer uma letra como a do inesquecível piauiense Torquato.

Peço licença para botar o bloco na rua. Apareçam!


Mário Magalhães
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Mário Magalhães

Assim como o blogueiro, o blog nasceu no Rio, vive no Rio, vibra com o Rio e por isso mesmo cobra que o Rio seja bem tratado como merece. O blog também adora viajar por outras cidades, Estados, países, temas e interesses.