Depois da derrota por 4 a 2 na Vila, torcida dá aula do que é ser Flamengo
Mário Magalhães
O Flamengo perdeu por 4 a 2 do Santos na Vila Belmiro, mas se classificou para as semifinais da Copa do Brasil.
Seus torcedores, não fossem Flamengo, talvez se restringissem à alegria de ir adiante. Como em suas veias corre sangue rubro-negro, juntaram a fúria ao contentamento.
O time sobreviveu porque vencera na Ilha do Urubu por 2 a 0, numa noite em que o alvinegro deu muito mole.
Quem vai salvando o Flamengo é o seu elenco, um dos melhores e talvez o mais caro do país. Exemplo foi o passe supimpa do Diego para o Berrío abrir o placar.
A equipe só não está melhor porque o Zé Ricardo mais tem atrapalhado do que ajudado. Erros dele em escalação e substituição em Buenos Aires já haviam sido decisivos para a eliminação na Libertadores.
Ontem, por pouco o vexame não se repetiu, por novos enganos do técnico.
Ele promoveu o regresso do Muralha, que falhou em dois gols. O Zé Ricardo disse que o goleiro vinha bem nos treinamentos. Será que há treino de saída de gol?
A despeito de contusões, havia opções para o Rafael Vaz, mesmo que não se formasse uma zaga excepcional. O zagueiro não tem ido bem, o que não impediu o Zé Ricardo de mantê-lo. O Rafael Vaz presenteou o Santos com um escanteio que resultou em gol.
No final, viu-se em campo o Gabriel, uma insistência ofensiva _não de futebol ofensivo, mas de ofensa ao bom senso.
Tem gente que prefere esquecer o passado, mesmo o mais recente. ''A Libertadores já foi'', apregoam. É verdade. Mas uma das lições da queda diante do San Lorenzo é que não se pode recuar covardemente quando se conquista a vantagem. Ontem o Flamengo voltou a recuar, e por pouco não colecionou nova eliminação.
Vale o clichê: quem não aprende com o passado tende a repetir os erros.
Gente que ignora a história do clube e tem vocação para sabujo de cartola costuma insinuar que criticar o Zé Ricardo, alguns jogadores e o time não é coisa de rubro-negro. Reeditam o espírito do ame-o ou deixe-o.
Ora, ser Flamengo é combinar o incentivo da torcida apaixonada, a festa nos triunfos, o orgulho nas derrotas heroicas… e a cobrança.
Quando o elenco é melhor que o da concorrência, mais motivo para exercer o espírito crítico e cobrar, sem deixar de incentivar.
Ontem a equipe teve bons momentos, mas fraquejou, levando quatro gols.
O Flamengo virou loteria: não é que oscile apenas de um jogo para o outro, o que de fato acontece, mas na mesma partida vai de bestial a besta.
Não tem padrão, é imprevisível.
O que não faltou foi tempo para o Zé Ricardo formar um time mais competitivo e estável.
Quem deu aula foi a torcida, nas redes e nas rodas de conversa: no Flamengo, a vitória alegra, mas futebolzinho enfurece.